O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) criticou, nesta quarta-feira (17), a atuação do ministro interino das Relações Exteriores, José Serra, por estar fazendo uma série de “trapalhadas diplomáticas” no âmbito do Mercosul e das relações bilaterais com o Uruguai e a Venezuela. “O impasse no Mercosul está sendo causado e coordenado pelo Brasil, num processo de que participam também Paraguai e Argentina”, afirmou, ao lembrar que Serra foi acusado pelo chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, de tentar comprar o apoio do país para evitar que a Venezuela assuma a presidência pró-tempore do Mercosul.
“A receita que usaram no Brasil, de rasgar a Constituição e a democracia para tentar colocar um projeto golpista no poder, é a mesma que agora tentam utilizar no Mercosul”, disse Pimenta.
No dia 5 de julho, Serra foi a Montevidéu, acompanhado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para se reunir com o presidente Tabaré Vásquez e o chanceler Nin Novoa. O objetivo foi tentar postergar a passagem da presidência do Mercosul ao governo venezuelano de Nicolás Maduro. Foi quando Serra tentou comprar o voto uruguaio, acenando com vantagens e futuros acordos comerciais com outros países, segundo denunciou o jornal uruguaio El País.
“É incomum que um ministro, Serra, tenha pego um avião da FAB, acompanhado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e se deslocado ao Uruguai para uma agenda bilateral, não prevista, no sentido de solicitar ao Uruguai que não passasse a presidência do Mercosul para a Venezuela. Esse fato por si só não é normal em relações exteriores. O que Fernando Henrique estava fazendo lá?”, questionou o parlamentar.
“Há uma forte compreensão de nossa parte que o pano de fundo dessa história é o fato de que a Venezuela é um país que possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo, que são estatais, como a grande maioria dos países, num momento em que o Brasil está abrindo as suas reservas através do projeto do Serra, do pré-sal, para exploração das empresas multinacionais”, disse Pimenta.
Segundo o petista, as petroleiras norte-americanas “não têm nenhum interesse” em ter a Venezuela no Mercosul. “Vieram a público, através de denúncia do WikiLeaks, trocas de mensagens do Serra com a Embaixada dos EUA no Brasil e representantes das petroleiras norte-americanas revelando uma total intimidade do Serra tratando questões estratégicas do petróleo”, lembrou Pimenta.
Em 2009, segundo o WikiLeaks, Serra teria prometido a uma representante da petroleira Chevron que, se vencesse as eleições em 2010, mudaria a legislação que rege as regras do pré-sal. Para Pimenta, “tudo isso é parte de um contexto mais amplo, em que Serra age como representante das petroleiras norte-americanas e tenta fazer no Mercosul o que estão fazendo no Brasil, que é um golpe para vender nossas riquezas e enfraquecer o Mercosul”. Na opinião de Pimenta, tudo é “extremamente grave” e deve ser apurado.
Em requerimento protocolado na terça-feira (16), o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (PT-BA), pediu a convocação de Serra para prestar “pessoalmente”, no plenário da Casa, explicações sobre a denúncia de que Serra tentou comprar o voto uruguaio.
Nota – O Itamaraty divulgou nota na terça-feira sobre o caso, manifestando, entre outras coisas, que “o governo brasileiro recebeu com profundo descontentamento e surpresa as declarações” de Nin Novoa sobre a visita de Serra a Montevidéu.
Pimenta observou que a nota “não desmente em nenhum momento’’ o que foi divulgado. “Ela revela um desconforto, um certo incômodo, porque é um assunto que deveria ser tratado de maneira mais discreta, mas não desmente que, de fato, ocorreu essa gestão e essa agenda. O presidente Tabaré Vásquez não esconde de ninguém a intromissão indevida do Brasil, tentando influenciar uma questão soberana do país nas suas relações no Mercosul”, comentou o deputado.
PT na Câmara com Rede Brasil Atual
Foto: Gustavo Bezerra/PTnacâmara