Em artigo, o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), critica os ataques de milícias rurais à caravana de Lula pela região Sul e reforça a defesa da democracia, da paz e do diálogo na política. Além disso, Pimenta afirma que qualquer eventual tragédia será responsabilidade das autoridades que não garantirem os direitos básicos da cidadania aos participantes da caravana ameaçados pelo ódio da direita fascista.
Confira a íntegra do artigo.
Nosso caminho é o da democracia e dizemos não às milícias da direita fascista!
Paulo Pimenta*
As disputas políticas e culturais na passagem da caravana do ex-presidente Lula pelo Sul do Brasil não seriam um fato preocupante se estimulassem o diálogo e não o ódio entre os diversos setores. Em uma nação efetivamente democrática, os entes educacionais, a mídia, os movimentos sociais e outros atores políticos da sociedade civil deveriam estar empenhados em promover a reflexão sobre os partidos, sobre as instituições e sobre o contexto político e, assim, poderíamos avançar no pensamento crítico coletivo.
Infelizmente, não foi isso que ocorreu no Rio Grande do Sul durante esta semana. Em vez de primar pela liberdade e assegurar o exercício da cidadania a todos, as instituições do Estado não impediram que a milícia de ruralistas armados fechasse as estradas e agredisse pessoas na tentativa de impedir o debate com Lula, Dilma Rousseff e os demais integrantes da nossa comitiva.
A milícia rural também atuou para tentar barrar a entrada da caravana nos campi de universidades e institutos federais, violando a autonomia universitária e desrespeitando direitos fundamentais.
Com patas de cavalo, tratores, armas e relhos em punho, os milicianos não engrandeceram o Rio Grande do Sul ou qualquer tradição de honra e dignidade. Na verdade, o que estas pessoas fizeram foi empunhar a bandeira do fascismo, fenômeno político que impôs na Itália uma imigração forçosa de dezenas de milhares de pessoa para o Novo Mundo, inclusive para o nosso estado.
Vale lembrar que o fascismo faz da violência e do ódio estratégias para que as pessoas passem a rejeitar a política e o diálogo democrático e, a partir disso, naturalizem o arbítrio e o poder autoritário. A democracia requer o reconhecimento da diversidade em todos os aspectos da vida humana: política, social e cultural. E a difusão da convivência democrática deve ser praticada e promovida pelas escolas, pela mídia, pelos entes da justiça e da segurança pública, enfim, por todos.
É preciso rechaçar com veemência os métodos fascistas. É necessário se consolidar a concepção de que nenhuma pessoa pode ser perseguida, excluída ou impedida de discutir política por suas convicções e ideias.
O que aconteceu no Rio Grande do Sul esta semana é um imenso equívoco. Mais do que isso, é um abuso e uma violação da lei. E são criminosas as ameaças – inclusive de morte – que o ex-presidente e toda a sua comitiva vêm recebendo desses herdeiros da casa grande que se vangloriam de chicotear escravos e agora batem em mulheres, trabalhadores e estudantes que manifestam suas preferências políticas.
Esse cenário de guerra, para nossa tristeza e indignação, parece se repetir também em Santa Catarina, quando trabalhadores que montam a estrutura do palco que receberá o ato público da caravana foram violentamente atacados, na manhã deste sábado (24), por milicianos que não respeitam os princípios básicos da democracia. O quadro torna-se ainda mais grave quando as ameaças à caravana de Lula feitas ao longo da semana se repetem e quando se descobre que a milícia ruralista planeja um ataque contra o avião que leva Lula e Dilma a Chapecó.
Diante disso, defenderemos ainda com mais disposição a democracia e exigiremos ainda com mais vigor que as nossas instituições estejam abertas ao debate político e, assim, promovam o respeito e a valorização da diversidade e da cultura de paz.
Esse é o caminho que escolhemos, o caminho da democracia! O outro é o da milícia, o da beligerância, o do conflito. Todas as autoridades competentes por garantir a segurança pública e a harmonia social foram avisadas e serão responsabilizadas por qualquer tragédia que eventualmente ocorra nos próximos dias.
*Paulo Pimenta é deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul e líder da Bancada do PT na Câmara em 2018.