O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) fez um alerta aos integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS para a importância de se investigar o vazamento da delação dos irmãos Batista do grupo J&F no dia 17 de maio e a manipulação dos mercados de ações e de dólares. A preocupação foi manifestada nesta terça-feira (3), durante depoimento do advogado Márcio Lobo, da Associação de Investidores Minoritários do Mercado de Capitais na CPMI. Lobo acusou Joesley e Wesley Batista de usarem o grupo para manipular o mercado e obter lucro pessoal com operações de venda de ações e compra de dólar, em prejuízo dos acionistas minoritários.
“Essa questão do vazamento está sendo secundarizada. Esse golpe – se é que nós podemos chamar assim – para ele dar certo precisava ter várias coisas, inclusive a manipulação do mercado de ações e no mercado de dólares. Primeiro era necessária aquela operação que foi de venda planejada. E tem um detalhe que era chave, as ações só iriam ter uma queda vertiginosa e o dólar só iria disparar se esse vazamento ocorressem no tempo entre o fechamento do pregão às 17 horas de um dia e aberto no outro dia às 9 da manhã. Qualquer vazamento fora desse período estragaria o golpe”, explicou.
O mais grave, na avaliação do deputado Paulo Pimenta, é que tem algum agente público que estava tratando a delação e que vazou essa informação. “Isso valeu muito. E quem foi esse agente público que vazou a delação? Ou não foi? Esse criminoso – porque quem vazou também é criminoso – além de dar um prejuízo de milhões e favorecer os irmãos Batistas para que ganhassem bilhões, pode ter ganhado também muito dinheiro. Quem era esse agente? O procurador que fazia o jogo duplo? Quem eram as pessoas que sabiam que essa delação estava praticamente fechada?, insistiu o deputado que é titular do PT na CPMI.
Ainda na linha de raciocínio do deputado Paulo Pimenta, houve outra questão relevante para o “golpe” dar certo. “Não adiantava somente saber da delação, ela tinha que ser publicada e não adiantava publicar em um órgão de imprensa com pouco credibilidade. Então, às 17h, fechou o pregão e em seguida sai o furo jornalístico, O Globo publica a notícia. De noite, no Jornal Nacional, reforça a notícia. As ações despencam e o valor do dólar dispara. E, no outro dia, quando abre o pregão vão lá (os irmãos Batista) e compram as ações e ganham uma fortuna. O lucro é maior do que o valor da própria multa imposta a eles pelo Ministério Público Federal”.
Paulo Pimenta reforçou que a CPMI tem que tentar compreender esse golpe (vazamento e manipulação). “Até porque o vazamento tem sido um aspecto central destas delações e destas operações. E elas valem muito dinheiro para escritórios, para quem fecha e para quem negocia essas delações. Então, acho que cabe à nossa CPMI investigar essa organização criminosa que atua em muitos casos com ajuda do Estado”, defendeu.
O advogado Márcio Lobo concordou com o deputado Pimenta e acrescentou que o vazamento potencializou o mercado e as ações caíram 15% e o dólar subiu 10%. “Os controladores da JBS compraram R$ 473 milhões de dólares na véspera da delação em contratos futuros. No dia seguinte, com a divulgação do acordo de delação, o dólar subiu 10%. Além disso, eles venderam mais de R$ 360 milhões em ações para a própria empresa, evitando prejuízos na véspera da queda do valor das ações e deixando o prejuízo para os acionistas minoritários”, ressaltou.
Vânia Rodrigues
Foto: Gustavo Bezerra/PTnaCâmara