Jair Bolsonaro não seria Presidente se não tivesse ocorrido o golpe midiático-jurídico-parlamentar de 2016. Há muitos outros elementos – como a farsa da operação Lava Jato ou mesmo a operação de Fake News que se instalou no processo eleitoral de 2018 e que ainda persiste na política brasileira. Entretanto, o impeachment sem crime de responsabilidade aprovado pelo Congresso Nacional contra a presidenta Dilma Rousseff, eleita com mais de 54 milhões de votos, é o principal fator que permitiu o desenrolar dos fatos que levou à vitória da extrema-direita para a Presidência do Brasil, contribuindo para vivermos sob um governo de milicianos em 2020.
O documentário “Democracia em Vertigem” apresenta os fatos de forma cristalina. E essa nitidez exposta no filme deixa todos protagonistas e apoiadores – nada inocentes – do golpe com náuseas e dor de cabeça. Daí veio o “recibo” que o PSDB passou no Twitter, ao chamar, de forma grosseira e desrespeitosa, a obra da diretora Petra Costa de “ficção e fantasia”.
Não é à toa o despeito. Os tucanos deram início ao processo golpista quando Aécio Neves e sua camarilha não aceitaram o resultado das urnas, em outubro de 2014, ali foi rompida sem pudor a linha que separa a democracia do autoritarismo.
Em seu livro “Como as democracias morrem”, Steven Levitsky – professor de Ciência Política de Harvard – explica que um dos indicadores mais evidentes de um ator político autoritário é o não reconhecimento dos resultados das eleições. Se Aécio Neves e seus tucanos emplumados não tivessem questionado a legitimidade do processo eleitoral e da vitória do PT, o gângster Eduardo Cunha jamais teria aberto o processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
Todo esse contexto é abordado pelo documentário brasileiro indicado ao Oscar de 2020. A forte emoção que o filme gera, ao nos levar de volta àquele período onde a democracia brasileira foi golpeada de maneira tão violenta e cínica, é compensada pela aprendizagem sobre o processo no qual ainda estamos imersos. As lições que o documentário nos proporciona contribuem para que possamos nos comprometer com ações voltadas ao resgate do nosso sistema democrático.
Tudo indica que ainda teremos muitas obras abordando as reais motivações representadas pelo capital financeiro internacional e pelos interesses econômicos e geopolíticos dos EUA, bem como sobre o período que se seguiu ao golpe de 2016.
Suas consequências hoje são nítidas – destruição da CLT e da Previdência Social pública, congelamento dos gastos sociais, privatização das nossas empresas e venda dos nossos recursos estratégicos a preço de banana, aumento da pobreza e da miséria, crescimento do desemprego e da desigualdade social, entre muitas outras – já são sentidas hoje pela população e terão um pesado impacto para as gerações futuras.
Enquanto estas obras não surgem, vamos rever, divulgar e torcer pelo sucesso de “Democracia em Vertigem”, que nos ajudará a reverter esse caminho no qual colocaram o Brasil desde aquele 31 de agosto de 2016.
*Paulo Pimenta é jornalista e deputado federal (PT-RS), líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados