O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) criticou, em plenário, os excessos do Estado “policialesco e midiático que paira sobre o Brasil, que destrói reputações e que levou à morte do reitor Luiz Carlos Cancellier”, da UFSC (Universidade de Santa Catarina), na segunda (2). Há cerca de duas semanas, Cancellier foi preso preventivamente na Operação Ouvidos Moucos, da Polícia Federal, sem direito à defesa. Ele foi solto no dia seguinte, o que, na avaliação do deputado Paulo Pimenta, indica o açodamento da ação policial.
“Se era tão grave o motivo pelo qual foi decretada a prisão do reitor e das demais seis pessoas que com ele foram detidas, por que razão, exatamente, eles foram liberados menos de 24 horas depois? Quais são as razões que justificam uma ação do aparato do Estado, com enorme repercussão midiática, transformando esse fato em espetáculo, que leva o reitor de uma universidade preso por supostamente estar dificultando o trabalho de investigação sem ter sido ouvido e, menos de 24 horas depois, ser colocado em liberdade?”, questionou.
Paulo Pimenta chamou a atenção para a gravidade da morte desse reitor e contou que no fim de semana se dedicou a estudar um pouco a respeito das repercussões da chamada Operação Mãos Limpas, na Itália. “Eu cheguei a comentar que não sabia como no Brasil ainda não tinha acontecido nenhum suicídio, uma das marcas da Operação Mãos Limpas. Porque vamos considerar a pior hipótese: que daqui a alguns anos, ao final das investigações, se conclua que esse reitor tinha alguma responsabilidade. Isto justificaria o que foi feito com ele, destruindo uma trajetória acadêmica de um cidadão, que sequer foi ouvido antes de ser preso?”
O deputado do PT gaúcho reforçou que delegado e juiz não pode ter protagonismos públicos e midiáticos no papel deles. E aproveitou para criticar parlamentares que bateram palmas, na mídia, quando, de maneira ilegal, realizaram a interceptação telefônica da presidenta da República Dilma Rousseff, ou quando a intimidade da ex-primeira dama, D. Marisa, foi jogada, de maneira ilegal, nas redes de jornal e de televisão do País, quando ela conversava com seus filhos. “Ela foi exposta de maneira criminosa. Aqueles que bateram palmas e calaram diante desses excessos a que o Brasil assistiu são os cúmplices da morte deste reitor”, acusou.
Este reitor, afirmou Paulo Pimenta, “foi assassinado por uma hipocrisia que silencia diante de crimes que estão sendo cometidos diariamente pelo poder do Estado, pelos delegados, por promotores, por juízes que extrapolam suas competências e perseguem as pessoas a seu bel-prazer para depois, lá adiante, decidirem se elas eram culpadas ou inocentes”.
Paulo Pimenta lamentou o fato de que, para esse reitor não haverá possibilidade de saber se ele será inocentado ou não. “Assim como a D. Marisa também não vai haver. Infelizmente, o poder ditatorial, o excesso do autoritarismo, quando não é enfrentado, se multiplica. Não conheço os detalhes dessa morte, mas acho que ela deve ser encarada, também, como um pedido de socorro para a democracia, um grito de alerta contra os excessos que tomam conta deste País. Este Poder não pode calar-se, curvar-se e silenciar-se diante do que está acontecendo”, cobrou.
O deputado encerrou seu discurso se solidarizando com os familiares e amigos do reitor, “desse cidadão brasileiro, que hoje morreu dessa forma trágica. Talvez isso seja um marco que nos leve a refletir e a pensar de forma mais aprofundada sobre tudo o que estamos vivendo”.
Vânia Rodrigues