Deputados da bancada do PT repudiaram hoje na tribuna da Câmara a manobra articulada pelo presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de colocar novamente em votação, na noite de quarta-feira (27), proposta já derrotada acerca do financiamento empresarial de campanha. Por acordo, a matéria foi votada e derrotada na madrugada de quarta. Inconformado com a derrota, Cunha descumpriu o acordo e, numa segunda votação, conseguiu aprovar a matéria que faz parte da reforma política.
O deputado Valmir Assunção (PT-BA) lembrou que no primeiro dia de votação da reforma política o presidente da Câmara saiu derrotado na votação do “distritão” e do financiamento empresarial. Mas, em função da derrota, quebrou o acordo de líderes e recorreu ao Regimento Interno da Câmara. “Depois, nós, deputados, ficamos indignados quando a sociedade não valoriza o Parlamento brasileiro! Se o presidente da Casa e parte das lideranças não garantem o combinado nas reuniões de líderes, como esta Casa pode exigir respeito da sociedade se não a respeitamos?”, questionou o petista.
Walmir Assunção ressaltou que o acontecimento representou um golpe contra o País, contra os processos políticos e contra os acordos firmados. “A votação que garantiu constitucionalidade do financiamento empresarial para partidos políticos é um subterfúgio para atender aos interesses dos que financiaram a campanha de boa parte dos que aqui estão. Mesmo que isso tenha significado um brutal desrespeito aos processos democráticos instituídos na Câmara dos Deputados. Hoje é dia de luto”, afirmou.
O deputado ressaltou que o golpe traduziu o desespero de quem só atende aos interesses do dinheiro e do poder econômico, já que permitir o financiamento empresarial para partidos políticos é um ataque a todos os que combatem a corrupção do Brasil. “Só nesta legislatura, cerca de dez empresas financiaram mais de 70% dos deputados que aqui se encontram. São interesses de empreiteiras, empresas do agronegócio, grandes multinacionais. Projetos aqui são apresentados em claro objetivo de atender o interesse de alguma corporação. O povo aqui não está sendo priorizado. Isso é nítido!”, protestou.
O deputado Luiz Couto (PT-PB) também denunciou o “profundo golpe” comandado por Cunha para cristalizar na Constituição o financiamento privado de empresa. “Essa não é a reforma que queremos. Nós queremos outra reforma, queremos avançar. E insistimos que, para uma reforma expressar a vontade da população brasileira, deve ser feita com a participação popular, através de um plebiscito para as grandes questões que estão colocadas para democratizar a democracia e a política no Brasil”, defendeu Couto.
Para alcançar esse objetivo, o parlamentar argumentou que é importante que todas as forças políticas, todas as instituições e cada pessoa faça o contraponto à grande mídia que esconde que há outras propostas de reforma política diferentes da proposta plutocrática. “É fundamental que cada militante da verdadeira reforma política diga alto e de bom som que não basta não piorar as coisas, que é preciso melhorar e que há saídas, sim, para mudar a política num sentido popular, progressista e democrático”.
O deputado Leo de Brito (PT-AC) reputou a relação promíscua entre empresas e partidos como um dos maiores cânceres da democracia. “A gente sabe que a maioria dos empresários é de pessoas honestas, que apostam, investem e geram empregos, mas essa relação tem prejudicado e tem sido uma das principais causas da corrupção em nosso País. Infelizmente, isso foi aprovado e constitucionalizado aqui. Quero lamentar”.
Para o deputado Givaldo Vieira (PT-ES), a manobra para votar pela segunda vez o financiamento de campanha significou um retrocesso. “Já havíamos sepultado a contribuição de empresas nas campanhas políticas, e, numa manobra regimental, a Mesa Diretora retomou essa votação. Estamos retroagindo ao invés de avançar na reforma política. Empresa não vota. Empresa tem objetivo de obter lucro, e nós devemos afastar o interesse privado do interesse público, fazendo com que tenhamos realmente eleições limpas no País”, ressaltou.
“Quero aproveitar essa oportunidade para me associar aos companheiros que manifestaram o seu repúdio com o que aconteceu na sessão de ontem (quarta-feira), quando, por uma manobra regimental, se anulou uma decisão democrática e legalmente aprovada aqui em relação ao financiamento empresarial das campanhas eleitorais”, disse o deputado Wadih Damous (PT-RJ).
PT na Câmara
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