O líder da Bancada do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), e a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), apresentaram requerimento convocando os ministros Ernesto Araújo, do Itamaraty; Teresa Cristina, da Agricultura; e Paulo Guedes, da Economia, para explicarem em uma Comissão Geral, no plenário da Câmara, medidas recentes adotadas pelo governo Bolsonaro – ideologicamente alinhadas às ideias de Donald Trump (Presidente dos Estados Unidos) – que estão trazendo prejuízos aos produtores rurais.
Um dos exemplos citados pelos parlamentares é o anúncio da transferência da Embaixada brasileira de Tel Avive para Jerusalém, “que já causou prejuízos diplomáticos e comerciais ao Brasil”. Eles lembram no requerimento que “transferir a embaixada para Jerusalém significa assumir os interesses exclusivos do Estado de Israel, em detrimento claro dos interesses do povo palestino”. A cidade de Jerusalém é disputada entre árabes e judeus como capital do Estado de Israel e da Palestina, respectivamente.
“Em razão dessa decisão ideológica de Bolsonaro, subserviente a [Donald] Trump, já sofremos uma retaliação da Arábia Saudita, que cortou a importação de 33 frigoríficos brasileiros. Caso a transferência da embaixada se confirme, nossas exportações de commodities, principalmente de carnes, perderão clientes de grande peso”, afirmam os petistas.
Paulo Pimenta e Gleisi Hoffmann apontam ainda que a decisão de se alinhar aos interesses de Israel nessa disputa é contrária à tradição do Brasil de apoiar a solução de criação de “dois Estados” para resolver o conflito, seguindo determinação no mesmo sentido já adotada pela própria ONU. Os petistas dizem ainda que a intenção do governo Bolsonaro também não tem lógica do ponto de vista comercial.
“Exportamos US$ 11,6 bilhões para o Oriente Médio e US$ 13,5 bilhões para a Liga Árabe, em 2017. Para Israel, exportamos somente US$ 466 milhões”, observaram no texto.
Produtores de leite
Outra medida que os deputados petistas querem que os ministros expliquem é a extinção das tarifas antidumping que o Brasil impunha à importação de leite da União Europeia e da Nova Zelândia, por decisão do Ministério da Economia.
“É outra trapalhada que vai provocar prejuízos de monta aos produtores brasileiros”, observam Pimenta e Gleisi. Eles explicam no requerimento que as tarifas eram impostas, com aval da Organização Mundial do Comércio (OMC), justamente para garantir condições mais justas de disputa com o leite subsidiado da União Europeia e da Nova Zelândia.
“A preocupação dos produtores brasileiros é com os europeus, que têm cerca de 250 mil toneladas de leite em pó estocadas, sem perspectivas de comercialização. Com essa decisão antinacional, corre-se o sério risco de o mercado brasileiro ser inundado com leite em pó europeu subsidiado, o que inviabilizaria parte da produção nacional, com o Brasil perdendo a sua recém conquistada autossuficiência na produção leiteira”, explicaram.
China
O líder do PT e a presidenta nacional do partido também afirmaram que a posição adotada pelo governo Bolsonaro, de se contrapor à atuação comercial da China atendendo a pressão do governo Trump, também pode prejudicar a agricultura brasileira. Eles lembraram que o alinhamento ideológico não traz nenhum benefício ao Brasil.
Como exemplo, Pimenta e Gleisi citam que China e Estados Unidos estão prestes a fechar um acordo para encerrar a disputa comercial entre os dois Países. Nesse caso o país asiático se comprometeria a comprar mais soja e carne do mercado norte-americano.
“Esse compromisso implicará a substituição de produtos brasileiros por produtos norte-americanos no mercado chinês de alimentos, o mais volumoso e dinâmico do mundo, responsável pela absorção da maior parte de nossas exportações agrícolas. Observe-se que 80% das nossas exportações de soja vão para a China”, ressaltaram.
Diante desse cenário, Paulo Pimenta e Gleisi Hoffmann afirmam que as ações do governo Bolsonaro estão criando um quadro desastroso para o agronegócio brasileiro. “Estamos perdendo todos os grandes mercados para nossos produtos alimentares”, constataram.
Héber Carvalho