“Um povo educado não aceitaria as condições de miséria e desemprego como as que temos”, sentenciou o sociólogo, economista, professor, o intelectual Florestan Fernandes, que nesta quarta-feira (22), completaria 100 anos. Não são poucos os legados deixados pelo professor, pelo ideário das causas sociais que sempre militou. Seu exemplo e seus escritos, ainda hoje sustentam a luta, despertam corações e mentes daqueles que sonham por um Brasil justo, democrático, cidadão e igualitário, o Brasil pelo qual tanto sonhou e lutou Florestan Fernandes.
“Sou um marxista que acha que a solução para os problemas dos países capitalistas está na revolução. Dizes isso não é uma fanfarronice. É assumir, de forma explícita, o dever político mínimo que pesa sobre alguém que é militante, embora não esteja em um partido comunista e que, afinal de contas, tentou, durante toda a vida, manter uma coerência que liga a responsabilidade intelectual à condição de socialista militante e revolucionário”, escreveu Florestan Fernandes.
Trajetória
A trajetória de Florestan foi lembrada e homenageada pelo líder da Bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara, deputado Enio Verri (PR), pelo Líder da Minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE) e pelo ex-presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). A participação na fundação do PT na década de 80, o desempenho na Assembleia Nacional Constituinte em 1988, foram alguns dos momentos lembrados pelos parlamentares petistas.
“Florestan Fernandes faz parte da história deste País na defesa da luta dos trabalhadores como intelectual, como aquele que produziu, refletiu sobre a luta de classes no Brasil como ninguém. E seu papel articulando a fundação do PT e seu papel como parlamentar constituinte”, recordou Enio Verri, do papel brilhante desempenhado pelo intelectual que atuou na Constituinte, na Comissão da Família, da Educação, Cultura e Esportes, da Ciência e Tecnologia e da Comunicação.
Enio Verri reconheceu que a contribuição de Florestan Fernandes ao Brasil foi gigantesca. De acordo com o líder petista, Florestan conseguiu ser aquele “intelectual orgânico” (conceito criado pelo filósofo italiano Antonio Gramsci). “Florestan era o intelectual que tinha lado, sabia qual era esse lado e tinha compromisso de classe com esse lado”, observou.
“Por isso devemos lembrá-lo sempre com muito respeito e, este, é um grande momento para homenagear uma pessoa que teve uma contribuição muito importante para a construção do PT, para o fortalecimento do partido e, principalmente, nas conquistas que a classe trabalhadora teve até hoje”, reafirmou Verri.
Pensador brasileiro
Para o deputado José Guimarães, ao se filiar ao Partido dos Trabalhadores em 1986, eleger-se deputado federal, e se tornar um dos grandes parlamentares constituintes, Florestan Fernandes deixou sua marca ao idealizar a “revolução educacional” que, para o sociólogo, seria a reforma urgente e necessária que contemplaria o anseio da população brasileira.
“O centenário do Florestan Fernandes tem que significar muito para nós do PT. Ele foi um dos ideólogos e um dos grandes formuladores do nascimento e sobretudo na elaboração programática que o PT fez na elaboração da Constituição”, reconheceu Guimarães.
O deputado lembrou ainda da origem marxista de Florestan Fernandes. “Ele sempre teve uma trajetória de vida umbilicalmente vinculada à luta pelo socialismo, pela democracia e pelos direitos do povo. Foi, é, e continuará sendo uma grande referência para os amantes da liberdade, da democracia, do socialismo e do povo. É um legado que ninguém apaga e é uma referência para todos aqueles que lutam pelo Estado Democrático de Direito”, orgulhou-se o parlamentar cearense.
Sociólogo inovador
Ao lembrar-se dos exemplos deixados por Florestan Fernandes, o deputado Arlindo Chinaglia destacou a atenção especial que o sociólogo dedicava à causa da população negra brasileira. Nesse sentido, abra-se um parêntese para uma frase do sociólogo que diz: “enquanto não houver igualdade para o negro, a democracia racial será um mito”.
Cumpre homenagear, continuou Arlindo Chinaglia, o “inovador sociólogo, o seu rigor nos estudos da realidade nacional a partir dos oprimidos, (com atenção à realidade específica dos negros), o corajoso militante marxista”.
“Como síntese, em 1964, ano do golpe militar, o professor Florestan recebeu o prêmio Jabuti com o livro “Corpo e alma do Brasil”, foi preso e solto, e foi aprovado como professor catedrático da USP. Aqui esteve de forma integral, o militante perseguido, o intelectual laureado e o professor catedrático”, destacou Chinaglia.
Florestan Fernandes foi reeleito deputado federal em 1990, e faleceu em 1995.
Veja no link abaixo a programação em homenagem a Florestan Fernandes:
https://fpabramo.org.br/2020/07/01/fpa-realiza-ciclo-de-atividades-florestan-fernandes-100-anos/
Benildes Rodrigues