A deputada Professora Rosa Neide (PT-MT) e o deputado Nilto Tatto (PT-SP) criticaram o presidente Jair Bolsonaro, durante pronunciamentos na sessão da Câmara dos Deputados nessa terça-feira (22), pela acusação feita por ele durante discurso na abertura da 75ª Assembleia Geral da ONU, no qual acusou indígenas e caboclos pelas queimadas que estão destruindo o Pantanal e a Amazônia. Os dois parlamentares, que visitaram o Pantanal neste último fim de semana em uma Missão Oficial da Câmara, cobraram medidas urgentes do governo federal para acabar com a destruição ambiental nessas regiões.
“O presidente da República hoje (22) falou na ONU que os focos foram provocados por caboclos e por índios. Como mato-grossense, estou indignada com isso. Caboclos, índios, quilombolas, fazendeiros, todo o povo do Pantanal está na defesa do Pantanal. Se alguém colocou fogo de uma forma criminosa, não foram os caboclos e os índios. As imagens e o controle do governo devem identificar quem foi e fazer a sua punição”, afirmou Rosa Neide.
A parlamentar, oriunda da região onde nasce o Rio Paraguai – o maior rio que banha o Pantanal – destacou que a população da localidade “nunca passou por uma situação tão drástica”. “Nunca vimos uma seca tão grande. Nunca vimos uma situação tão grave como a que estão passando os homens, as mulheres, a flora e a fauna do Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense”, denunciou.
A parlamentar lembrou que o Pantanal é um bioma único que abrange 150 mil quilômetros quadrados de área pantanosa – a maior planície úmida do mundo – localizada entre dois estados brasileiros e que faz divisa com Bolívia e Paraguai. De acordo com Rosa Neide, o bioma é um canal que equilibra o clima no sentido Centro-Oeste para o Sul do País, mas que também sofre influência dos climas existentes na Floresta Amazônica e do Cerrado.
A parlamentar lembrou que durante a visita ao Pantanal, a comitiva que também era integrada pelos deputados Paulo Teixeira (PT-SP), Rodrigo Agostinho (PSB-SP), Professor Israel Batista (PV-DF) e Dr. Leonardo (Solidariedade-MT), e os três senadores do Estado, conversou com povos originários, como Guató e Bororos, e também com fazendeiros, donos de pousadas e quilombolas. Eles ouviram os relatos sobre a tragédia ambiental e puderam ver de perto a destruição no local.
“A cada metro, havia animais mortos, paredes de fogo enormes, fumaça para todo o lado. Sobrevoamos a área e tivemos o impacto de saber que há 172 pessoas oficialmente nesse combate. Vimos bravos bombeiros, pessoas voluntárias, funcionários e trabalhadores de fazendas. Entretanto, se não vier a chuva, o contingente humano que está lá e os insumos que estão à disposição não darão conta de apagar o fogo do Pantanal”, relatou.
O deputado Nilto Tatto, que também é Secretário de Meio Ambiente do PT Nacional, disse que a destruição ambiental que viu no Pantanal no último fim de semana “mostra não só a inação do governo Bolsonaro, como de fato demonstra uma ação propositada daquilo que nós viemos acompanhando no Pantanal, na Amazônia e no Cerrado com relação às queimadas e ao desmatamento”.
Ele lembrou que o governo Bolsonaro deveria assumir a sua responsabilidade na preservação do Pantanal, e não tentar se livrar da culpa pela tragédia. Tatto observou que essa não é a primeira vez que o atual governo tenta se livrar da responsabilidade pelo combate a crimes ambientais. Ele lembrou dos casos do derramamento de óleo nas praias do Nordeste, onde o governo culpou sem provas uma ONG, e do caso das queimadas em Alter do Chão, no Pará, onde brigadistas foram acusados, e posteriormente inocentados.
“Agora o governo Bolsonaro tenta responsabilizar os indígenas e caboclos pelas queimadas que vêm ocorrendo no Pantanal e também na Amazônia. Da mesma forma como o governo Bolsonaro se isenta da responsabilidade, de maneira desrespeitosa, inclusive, às mais de 137 mil vítimas do coronavírus, ele tem a mania de jogar a responsabilidade para terceiros, na medida em que tem uma política deliberadamente antiambiental, antipovo brasileiro e antipatrimônio do povo brasileiro, não só da nossa geração, como das gerações futuras”, acusou.
Brasil já foi exemplo em preservação ambiental
O deputado Nilto Tatto lembrou que o Brasil já foi exemplo na preservação ambiental, durante os governos Lula e Dilma, quando os ex-presidentes implantaram programas sérios de controle do desmatamento e fortaleceram os órgãos de fiscalização ambiental.
“Criou-se um programa que foi reconhecido mundialmente e o desmatamento na Amazônia diminuiu em 80%. Com isso, o Brasil teve um protagonismo diferente nos fóruns internacionais sobre o clima, a biodiversidade e os objetivos do desenvolvimento sustentável. Hoje, é motivo de chacota. A demonstração maior é esse discurso vergonhoso que ele fez perante a ONU”, ressaltou.
Ao encerrar seu pronunciamento, Nilto Tatto disse que não é possível preservar o meio ambiente no Brasil com Bolsonaro no poder. “É preciso que este Congresso Nacional dê um basta ao governo Bolsonaro e coloque em andamento um dos pedidos de impeachment porque não dá para salvar o Brasil, salvar o Pantanal e salvar a Amazônia com Bolsonaro no governo”, concluiu.
Héber Carvalho
Fotos: Lula Marques