Parlamentares do PT questionaram hoje (7) o ministro da Saúde, Nelson Teich, em reunião virtual da comissão externa da Câmara de acompanhamento da Covid-19, sobre isolamento social, ações de combate à pandemia, distribuição de equipamentos de proteção individual, compra de respiradores, aplicação de testes, liberação de leitos em UTIs da rede privada e cobraram ações de apoio aos governadores e prefeitos. “Sabemos que o Bolsonaro não está preocupado com a saúde. O que o senhor acha das manifestações que o presidente estimula, aprova e participa, em que centenas de pessoas se aglomeram?”, indagou o deputado Jorge Solla (PT-BA).
Mesmo ficando sem respostas objetivas do ministro, Jorge Solla quis saber também qual era a opinião de Nelson Teich sobre as situações de aglomeração nas portas das agências da Caixa Econômica, para receberem o auxílio emergencial, aumentando o risco de contaminação em larga escala. O deputado indagou o responsável pelas ações de combate à Covid-19 no País sobre o cancelamento de uma compra de 15 mil respiradores e o porquê de até hoje o Ministério da Saúde não ter feito ainda uma campanha publicitária, nos meios de comunicação, orientando sobre o coronavírus e o isolamento social. “Isso é urgente”, defendeu.
O deputado Alexandre Padilha (PT–SP) e ex-ministro da Saúde do governo Dilma, cobrou o fortalecimento do Sistema Único de Saúde. “Não existe a possibilidade de reduzirmos mortes e sofrimento sem uma injeção de fortalecimento no Sistema Único de Saúde, sobretudo neste momento em que o Brasil é o epicentro dessa pandemia”, afirmou.
Padilha frisou que Teich está no Ministério da Saúde há cerca de 20 dias e nesse período o Brasil passou a ser um dos 10 países do mundo com maior número de casos, um dos seis entre com maior número de óbitos, já ultrapassou a China em número de óbitos e está em 127º lugar em relação à proporção de testes que realizamos. 91 profissionais de enfermagem já morreram e mais de 10 mil estão afastados por testarem positivo para a Covid-19. “Onde o senhor pisar, onde o senhor falar, vão lhe perguntar sobre o isolamento social, por isso insistimos em saber qual é a sua opinião e como vai tratar dessa questão”, questionou.
Protege Brasil
O ex-ministro Padilha informou que apresentou na Câmara o PL 2.430/20, chamado Protege Brasil, que pretende criar critérios nacionais de aplicação regional para que o Brasil tenha cuidado, critério, em qualquer proposta de reabertura das atividades. “Ministro, a sua pasta tem que ser uma barreira aos genocidas de plantão, seja na Esplanada ou em qualquer outro canto do País”, orientou. Padilha pediu a oportunidade de apresentar seu projeto ao ministro e a sua equipe e reforçou: “Este meu projeto de lei protege o Brasil e cria uma barreira contra os genocidas de plantão”.
Padilha provocou positivamente o ministro ao afirmar que ele vai ter a oportunidade que nenhum ministro da Saúde teve desde que o SUS foi criado em 1988: “O senhor terá à disposição um Orçamento de Guerra, aprovado por este Congresso, que dá limites infinitos para se investir na saúde, para dar um fortalecimento e uma injeção de recursos para a saúde pública”, observou.
“Quanto o senhor precisa? Diga-nos! Se não for hoje, apresente uma carta ou um estudo na semana que vem sobre quanto precisa o Ministério da Saúde para levar máscaras para quem não tem máscaras, para pagar os residentes que estão com as bolsas atrasadas, para garantir os leitos de UTI para os hospitais que estão sem leitos, para as Santas Casas, para garantir testes. Os números mudam a cada entrevista. Eram R$ 46 milhões, R$ 24 milhões, R$ 1,8 milhões, mas a situação real que estamos ouvindo dos estados e dos municípios é que faltam testes”, cobrou.
Respiradores
A deputada Natália Bonavides (PT-RN) destacou que no seu estado em duas semanas, o número de casos quadruplicou, o número de mortes quase que triplicou. Ela questionou o ministro sobre a habilitação de leitos para receber pacientes vítimas da Covid-19 e sobre financiamento dos hospitais de campanha. “Precisamos também saber qual será o cronograma de liberação das emendas parlamentares para a área de saúde. Vimos que existe uma previsão de uma parte desses recursos ser liberada agora em maio. Nós já estamos em maio, e, realmente, nós precisamos de um cronograma, para que cada estado se organize da melhor forma”, observou.
Natália Bonavides ainda questionou o ministro sobre judicialização na compra de respiradores. Ela citou que o Rio Grande do Norte está entre os estados com questão judicial em relação aos respiradores comprados. “Existe uma decisão vigente com recurso já rejeitado, para liberação de respiradores que o nosso estado comprou. E seria muito importante que o Ministério da Saúde garantisse junto à empresa fornecedora o cumprimento dessa decisão judicial, já que a empresa alega que aguarda a autorização do Ministério, mas há uma decisão judicial”, ponderou.
Leitos de UTI
Os deputados Jorge Solla e Alexandre Padilha também indagaram o ministro sobre a requisição de leitos privados para o atendimento de pacientes com coronavírus. “Isso é inevitável em várias cidades, frente ao caos que a assistência já se encontra com o esgotamento de leitos nas UTIs da rede pública”, denunciou Solla. Ele informou que no seu estado [Bahia] já abriram mais de 300 novos leitos de UTI e apenas 40 receberam equipamentos do Ministério da Saúde.
Jorge Solla citou ainda que os hospitais de campanha têm leitos de UTI. “Não é possível que somente por que foi chamado de hospital de campanha, o Ministério da Saúde não quer habilitar esses leitos como UTI. Quer que sejam habilitados como leitos clínicos. Isso não tem cabimento”, protestou.
E o deputado Alexandre Padilha ainda indagou o ministro sobre a disposição do Ministério da Saúde negociar os leitos de UTI com a iniciativa privada. “O senhor está dizendo que amanhã irá conversar com os representantes da iniciativa privada no Rio de Janeiro. Qual é o limite da conversa? Porque o limite da capacidade do SUS já está exposto em Manaus, em Macapá, em Belém, em Recife, em Fortaleza, no Rio de Janeiro, e na minha cidade de São Paulo, que já tem mais de 90% dos leitos ocupados enquanto a iniciativa privada só tem 70%”, comparou.
Vânia Rodrigues