O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) afirmou nesta segunda-feira (22) que a denúncia da existência de um propinoduto para desviar milhões das obras do Metrô e trens de São Paulo, “é grave, é precisa ser apurada com rigor”. Segundo matéria de capa da revista Isto É desta semana, o esquema é mantido “há quase 20 anos por sucessivos governos do PSDB em São Paulo”, e teria consumido US$ 50 milhões. De acordo com a revista, a prática criminosa abastece políticos tucanos, além de dirigentes da CPTM (Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos) e do Metrô paulista.
“Fico triste ao saber que o dinheiro do contribuinte paulista está sendo desviado. Mas isso não começou agora”, afirmou Devanir. O parlamentar lembrou o caso dos trens espanhóis ‘doados’ pela Renfe (Red Nacional de los Ferrocarilles Españoles), em 1998, para operar no Estado. “Foi um ‘presente de grego’. Os trens eram sucateados e precisavam de reforma. Então, o governo Covas fechou contrato com a mesma empresa que havia ‘doado’ o maquinário, no caso a própria Renfe. E tudo sem licitação, claro!”, relembrou. Na época, a reforma e adaptação dos trens consumiram R$ 93,2 milhões.
Ainda de acordo com a Isto É, o esquema atual funciona a partir da formação de cartéis entre empresas interessadas em vencer licitações públicas na área de transporte sobre trilhos. O ‘negócio’, envolve “concorrências (com preços superfaturados) para manutenção, aquisição de trens, construção de linhas férreas e metrô”. A prática, segundo a publicação, atravessou sem restrições a administrações de Mario Covas,
José Serra e Geraldo Alckmin (todos do PSDB). Mas desde 2008 já é alvo de investigações no Brasil e no Exterior.
Uma delas, realizada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), jogou luz sobre o esquema. Segundo a Isto É, a multinacional Siemens (envolvida na operação criminosa), decidiu colaborar com o órgão “em troca de imunidade civil e criminal para si e seus executivos”. Segundo a revista, as provas são “contundentes”. Em depoimento, um ex-funcionário da Siemens da Alemanha (cujo nome é mantido em sigilo) revela como funciona o desvio de recursos públicos e fornece o nome de autoridades e empresários ligados à falcatrua.
Revelação- Segundo a revista, o denunciante diz que após ganhar uma licitação a Siemens subcontrata uma empresa para simular serviços e, por meio dela, pagar a propina. Em junho de 2002 (governo Alckmin), por exemplo, a empresa alemã venceu o certame para “manutenção preventivas de trens” e subcontratou a MGE Transporte. Segundo planilha obtida pela revista, a Siemens pagou a MGE R$ 2,8 milhão até junho de 2006. Desse total, pelo menos R$ 2,1 foram sacados na boca do caixa por representantes da MGE para serem distribuídos a políticos e diretores da CPTM.
A publicação diz ainda que a Siemens e outras gigantes do setor, como a francesa Alstom, a canadense Bombardier, a espanhola CAF e a japonesa Mitsui, “reuniram-se durante anos para manipular, por meio escusos, o resultado de contratos na área de transporte sobre trilhos”. Apenas com os governos do PSDB paulista, a Siemens e a Alstom faturaram, até 2008, cerca de R$ 12,6 bilhões.
Héber Carvalho
Foto: Salu Parente