Qualquer retrospectiva na história de lutas por direitos mostrará que as mulheres sempre tiveram protagonismo. O governo provisório, golpista e ilegítimo de Michel Temer (PMDB-RJ), ao alijar as mulheres do primeiro escalão do seu governo, retrocede e se macula como um governo descompromissado com as questões de gênero. Esse é o entendimento da coordenadora do Núcleo da Bancada Feminina do PT na Câmara, deputada Ana Perugini (PT-SP) que manifestou, nesta segunda-feira (16), preocupação as medidas adotadas por Michel Temer. “Apesar de não reconhecermos esse governo ilegítimo, a ausência de mulheres no primeiro escalão mostra a forma de pensar de quem o está comandando”, afirmou Perugini.
De acordo com a deputada, embora a composição de um governo ser parte das prerrogativas do chefe do Executivo, o parlamento pode apresentar proposição ou moção solicitando reformatação no modelo adotado. “Isso não nos tira o dever, enquanto mulher, enquanto instituição do parlamento, de fazermos a reflexão e movimento político para que haja um novo olhar sobre as mulheres”, disse a deputada, reafirmando que o Governo Temer não é considerado legítimo por todos que atuam no campo da esquerda.
A deputada, que também é a segunda vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara, disse ainda que ao não priorizar a questão de gênero, o governo provisório “revela a incompetência desse mandatário ao não conseguir enxergar a importância das mulheres nesse espaço de poder”, observou Ana Perugini.
Perugini lembrou que para as mulheres que ocuparam espaço de poder com competência e determinação – nos governos do ex-presidente Lula e no governo da presidenta Dilma – esse ato é um retrocesso às conquistas. Lembra ainda a deputada que a ala conservadora representada na Câmara e que agora também se aloja no Executivo ignora que as mulheres representam mais de 50% da população brasileira.
A deputada criticou mudança brusca de postura do presidente interino Michel Temer. Ela relatou que a primeira Delegacia de Mulher do Estado de São Paulo foi criada na sua gestão, no período em que ocupou o cargo de Secretário de Segurança Pública do governo de Franco Montoro (PMDB-SP). “As pessoas mudam, e nesse caso, não para melhor. É um contrassenso”, lamentou Ana Perugini.
Repercussão – A ausência de mulheres na cúpula do ministério provocou repercussão internacional. Em Portugal, a presidente do Foro Euro latino-americano de Mulheres, Myriam Suazo apresentou um documento em protesto ao “desrespeito à diversidade”.
“Das mudanças políticas no Brasil, que afastaram do cargo a primeira mulher eleita presidenta da República, emergiu um governo interino composto exclusivamente por homens brancos, sem respeito à diversidade do povo brasileiro”, diz o texto que será encaminhado pelo Fórum Euro-Latino-Americano da Mulher.
“Defendemos que as políticas públicas não sejam interrompidas e protestamos contra o enfraquecimento institucional da agenda das mulheres, com redução de ministérios e a não participação das mulheres no primeiro escalão do governo”, continua o documento.
Para Jennifer Berdahl, professora da Universidade de British Columbia, no Canadá, ao privilegiar homens brancos na composição de seu ministério, o presidente interino Michel Temer manda uma mensagem “má” e “perigosa” à população. “A diversidade na liderança é muito importante por uma série de razões. Uma delas é a representação. Numa democracia, a ideia é ter líderes que representem a população e seus interesses. Isso é difícil se não houver ninguém que se sentiu na pele de uma mulher ou de uma minoria”, disse a especialista em diversidade e igualdade de gênero no trabalho em entrevista à BBC Brasil.
Benildes Rodrigues
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