Parlamentares da Bancada do PT cobraram em sessão remota da Câmara, nesta terça-feira (25), a resposta do presidente Bolsonaro para a pergunta que vem dominando a internet desde o último domingo (23): “Por que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da primeira-dama?”. Mas cobraram também, do presidente da Câmara, uma resposta para a não instalação de uma CPI para investigar o esquema de corrupção da família Bolsonaro e porque ele ainda não deu seguimento a um dos 42 pedidos de impeachment de Bolsonaro, protocolados na Câmara.
“Rodrigo Maia, nestes 42 pedidos de impeachment que estão na mão de V.Exa., não há nenhum crime de responsabilidade para ser investigado? Esse mar de dinheiro que a família Bolsonaro ganha através do esquema das rachadinhas, essa relação com o Queiroz, esses depósitos na conta da primeira-dama, os ataques à democracia, nada disso está relacionado a nenhum crime de responsabilidade?”, cobrou o deputado Henrique Fontana (PT-RS).
O parlamentar do PT gaúcho enfatizou que Fabrício Queiroz “um miliciano, um criminoso investigado — a esta altura, já com muitas questões bem estabelecidas do seu envolvimento com redes criminosas” —, é um amigo de muitos anos da família Bolsonaro. “E aí começam as perguntas que têm a ver com o presidente da República e sua família: Por que um criminoso, como Queiroz, depositou R$ 89 mil na conta da esposa do presidente da República?, por que Queiroz pagava as mensalidades, em dinheiro vivo, da escola dos filhos de Flávio Bolsonaro? Por que Queiroz foi protegido, enquanto era procurado como foragido, exatamente pelo advogado pessoal da família do presidente da República?”
Fontana citou ainda a loja de chocolates de Flávio Bolsonaro, “que dá milhares e milhares de reais de lucro para que isso gere a compra de imóveis extremamente baratos, que logo depois são vendidos por um valor muito mais alto, como se fosse um lucro imobiliário. Tudo isso, na lei de quem tem um mínimo de bom senso, significa lavagem de dinheiro. A família Bolsonaro tem, através dessa rachadinha, um esquema de corrupção para lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito”, enfatizou.
Por tudo isso, pediu Fontana, “chega de blindar o presidente Bolsonaro!”. Ele acrescentou que o Brasil quer investigar a família Bolsonaro, “sua corrupção e os ataques à democracia, que são perpetrados semanalmente por Jair Bolsonaro”.
Ataque de nervos
O deputado Rogério Correia (PT-MG) indagou o motivo de Bolsonaro estar à beira de um ataque de nervos. “Por que ele ameaça dar porrada em jornalista na democracia? Por que ele chama quem morre de Covid-19, nesta pandemia, de bundão? O que leva o presidente Bolsonaro a tamanho nervosismo, a tamanha insensatez, a cometer crime de responsabilidade?”.
O deputado deu algumas dicas para o nervosismo de Bolsonaro. “Será que Fabrício Queiroz vai acabar explicando por que depositou R$ 89 mil na conta da primeira-dama ‘Micheque’ Bolsonaro? Será porque a pandemia virou genocídio neste governo – nós já passamos de 115 mil mortos – e ele não consegue explicar isso para o País nem para os outros países? Será porque a JBS recebeu R$ 47 milhões das Forças Armadas para servir filé mignon e picanha? Será porque a JBS passou R$ 9 milhões desse dinheiro para o advogado do Bolsonaro, o Wassef, o Anjo, aquele que escondeu Queiroz, que colocou R$ 89 mil na conta da Michelle e pagou as contas de escola e de plano de saúde do neto do Jair Bolsonaro? Por que ele acha que o impeachment é inevitável — será isso? — ou por que o filho dele Flávio Bolsonaro vai acabar sendo cassado? São perguntas cuja resposta talvez seja: todas as anteriores”, ironizou.
Rogério Correia também fez questão de perguntar aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia e do senado, Davi Alcolumbre, porque o pedido de impeachment de Bolsonaro não entre na pauta. “O governo Bolsonaro é um governo reacionário, obscurantista, autoritário e ultraneoliberal. Está acabando com o País. Por isso, ele está à beira de um ataque de nervos. Mas a pergunta que deve ser feita é: por que o impeachment não entra na pauta da Câmara Federal, depois de tantos crimes?”, indagou.
Genocídio
O deputado Jorge Solla (PT-BA) também manifestou indignação com as atitudes de Bolsonaro. “A ameaça ao jornalista é mais um dos absurdos dessa pessoa que não tem a menor capacidade de ocupar a cadeira de presidente da República. Um presidente que ameaçou um jornalista dizendo que iria esmurrá-lo e depois, numa solenidade, pasmem, propôs-se a comemorar a vitória do Brasil contra o coronavírus. Se com mais de 115 mil mortes o presidente diz que é uma vitória, o que seria uma derrota?”, indagou.
Solla destacou que o Brasil é o segundo país do mundo em casos, apesar de ter uma das piores capacidades de diagnóstico, e o segundo em óbitos. “É um genocídio que se alastra no País, e o presidente ainda comemora e chama os jornalistas de bundões. Mais do que os jornalistas, chamou 115 mil mortos pelo coronavírus no Brasil de bundões”, lamentou.
Na avaliação do deputado Solla, já passou da hora de Flávio Bolsonaro ser réu e ser condenado. “Há provas de monte, não é convicção. Há provas de lavagem de dinheiro, usurpação de salários de servidores fantasmas, recebimento de recursos financeiros de milícia, lavagem em uma loja de chocolates. As provas estão aí”, enfatizou. Solla pediu ainda o impeachment de Bolsonaro. “Nós não podemos permitir que a democracia seja atacada, que a imprensa livre seja destruída e que criminosos como esses continuem sem sequer ser tomados como réu pela Justiça. Impeachment Já!”, defendeu.
Responde Bolsonaro
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) também cobrou do presidente Bolsonaro a resposta sobre os depósitos de Queiroz na conta de sua esposa. “Essa foi a pergunta feita por um profissional jornalista ao presidente Bolsonaro, que respondeu com a maior truculência. Homem público não pode dar as costas para nenhuma pergunta, ainda que se sinta desconfortável. Esse é o papel, principalmente se tratando de um presidente da República”, ensinou.
A parlamentar ainda manifestou solidariedade a esse jornalista e aos profissionais da ONG Repórteres sem Fronteiras, que, segundo Benedita, tem assinalado o desconforto que é a relação do presidente da República com a imprensa brasileira. “Somente no primeiro semestre de 2020, foram 53 ataques aos veículos e profissionais de comunicação”, lamentou.
Benedita citou ainda balanço feito pela jornalista Hildegard Angel que revela que o Brasil está vivendo o maior déficit público da história, a maior retirada da poupança brasileira, o maior crescimento da dívida pública, maior déficit na balança comercial e a maior cotação do dólar da história. “E eu acrescento: o maior número de mortes por Covid-19; o maior número de desempregados; o maior número de assassinatos de negros e negras; o maior número de violência doméstica; a maior taxa de desmatamento; a maior taxa de violência, criminosa, cometida contra famílias inteiras, que têm que desocupar seus imóveis, por terem deixado de pagar seus alugueis, por estarem desempregadas”, lamentou.
Réu Confesso
Na avaliação da deputada Erika Kokay (PT-DF), Bolsonaro não consegue responder a pergunta dos motivos que levou Queiroz a depositar os R$ 89 mil na conta da sua esposa, “porque ao responder será réu confesso”. E acrescentou: “Também não consegue responder como esta conta, que tem relação, inclusive, com milicianos, pôde financiar tantas despesas e um acréscimo no patrimônio do presidente da República que os seus rendimentos não justificam”.
Erika disse que estamos vivenciando um tempo de chocolate transformado em ouro. “Ou seja, uma loja de chocolates que servia, ao que tudo indica, para lavagem de dinheiro. E, aliado a tudo isso, um presidente que construiu um palanque eternizado, que é um palanque do ódio, do desrespeito à liberdade de imprensa, da grosseria e um palanque das mentiras”. E conclui: “Nós estamos vivenciando a barbárie transformada em forma de governar”.
Vânia Rodrigues