Na estreia do programa Café PT, nesta segunda-feira (2), a apresentadora Poliana Régia recebeu a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), para um bate-papo acerca de temas sensíveis ao povo brasileiro. A parlamentar tratou da política de juros do Banco Central (BC) e das contradições do modelo capitalista, do desastre humanitário no Rio Grande do Sul e das respostas do governo federal, do choque ultraliberal praticado por Javier Milei na economia argentina, da extrema direita e da democracia no Brasil.
A presidenta do PT classificou como “desmesurada” a ingerência controladora, fiscalizadora e alarmista do mercado financeiro na economia, interferência entoada de maneira uníssona pelos veículos tradicionais da imprensa. “Vai mexer no resultado fiscal, fica uma gritaria, como se tudo fosse acabar, ‘um governo de gastança’. Gente desmesurada! Um bando de rico, que tem dinheiro pra caramba, põe para o exterior, toma vinhos finos, viaja e fica nem aí para o povo brasileiro. Eu acho isso um absurdo”, disparou.
Gleisi salientou a incapacidade do modelo neoliberal de responder às consequências das mudanças climáticas e às questões socioeconômicas do Brasil. Na entrevista, a deputada petista mirou também a especulação financeira em torno da taxa básica de juros da economia, a Selic, às vésperas da saída do indicado de Jair Bolsonaro (PL) à presidência da autarquia, Roberto Campos Neto. “O Banco Central está fazendo um movimento agora (…) para fazer especulação para parar de baixar a taxa de juros”, criticou.
“Teve uma denúncia do economista Eduardo Moreira, do ICL, para o Ministério Público do Tribunal de Contas e o Ministério Público do Tribunal de Contas abriu investigação. E hoje tem uma matéria nos jornais, o procurador do Tribunal de Contas falando que vão investigar, porque eles acham que há motivação política”, afirmou. “É um crime o que eles estão fazendo com o Brasil. Isso torna tudo mais caro: o crédito, mais caro, não tem investimento, não tem geração de emprego, muito ruim”, acrescentou.
Arrocho ultraliberal
Na Argentina, terceiro maior parceiro comercial do Brasil, o presidente anarcocapitalista Javier Milei submete a população ao prometido arrocho ultraliberal. Após seis meses de governo, a carestia atingiu em cheio os mais vulneráveis e a classe média com desemprego e queda no poder aquisitivo dos salários, das pensões e das aposentadorias.
“É uma tristeza, porque o povo argentino está sofrendo. Ele (Milei), na realidade, tirou os benefícios sociais, não deixou reajustar uma série de programas de Estado, cortou, reduziu ministérios. Ou seja, fez uma política neoliberal clássica, aquela bem forte, e o PIB da Argentina despencou”, lamentou a presidenta do PT.
“Eles vão começar a sentir agora. O desemprego está aumentando, as pessoas estão com dificuldades, passando fome. E é interessante, porque criticam muito a Venezuela, mas a Venezuela está crescendo 7% esse ano. Essas medidas ajudam em quê? Para quem? Um governo, um Estado, tem que servir às pessoas. Quando faz uma medida de infraestrutura, de investimento, de melhorar a indústria, é para que o povo viva melhor, para que o povo tenha emprego, para que o povo possa consumir. Esse é o objetivo”, defendeu.
Desmonte ambiental
Sobre a tragédia humanitária no Rio Grande do Sul, atingido pelas piores enchentes da história do estado, a deputada federal elogiou as respostas do governo federal. “O presidente Lula agiu de maneira rápida, contundente e bem assertiva, tanto na articulação política com o estado, com os municípios, com os poderes constituídos, como também na liberação de recursos, na antecipação de medidas. Foi três vezes ao Rio Grande do Sul, deve ir novamente”, destrinchou Gleisi.
Crítica do chamado “estado mínimo”, a presidenta nacional do PT lembrou que, tanto o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), quanto o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), adotaram agendas neoliberais em suas gestões. No entanto, para enfrentar as consequências das mudanças climáticas, avalia Gleisi, são necessários investimentos públicos em prevenção de desastres e na preservação do meio ambiente.
“Por mais que tenha solidariedade das pessoas, da iniciativa privada, quem tem condições de coordenar um processo de reconstrução e colocar dinheiro pesado é o Estado. E tem que fazer”, ponderou.
“O governo do Leite é um governo liberal, não investiu nisso. O do prefeito também não investiu nisso. Dizia que tinha outras coisas para fazer. Por quê? Porque eles acham que o Estado tem que gastar cada vez menos, para ter dinheiro para pagar dívida ou para fazer superávit primário, enfim, para investir em coisas que nem sempre são necessárias para o povo”, criticou.
Enfrentamento ao sectarismo
Por fim, Gleisi realizou um balanço do governo Lula até agora e dos esforços do presidente para reverter os retrocessos da administração neoliberal de Jair Bolsonaro (PL) e Paulo Guedes.
“Nós pegamos o Brasil em uma situação muito difícil. O Estado, muito desestruturado. Os programas sociais tinham acabado, ministérios que não existiam. Ou seja, esse um ano e meio praticamente que o presidente Lula está à frente do governo foi para reestruturar a máquina pública, recolocar de pé os programas sociais, para refazer tudo aquilo que foi desfeito”, ressaltou.
Mesmo com Bolsonaro inelegível e respondendo a inúmeros processos, a deputada federal pediu a continuidade do enfrentamento ao bolsonarismo como forma de impedir a volta do sectarismo de direita ao poder no Brasil.
“Obviamente que nós temos que fazer a disputa política, porque Bolsonaro está aí, continua organizado, faz a disputa todo dia, tem fake news. A gente tem que fazer pelos nossos canais de comunicação, PT, nossa bancada, nossos parlamentares, nossos militantes, e fazer esse enfrentamento (…) O bolsonarismo não pode voltar (…) É um desserviço ao Brasil. Nós não temos o direito de deixar a extrema direita retornar.
Em relação às eleições municipais de outubro desse ano, a presidenta do PT pregou a união das esquerdas e o fortalecimento do bloco progressista visando também a disputa presidencial de 2026. “Nós vamos ter muitas candidaturas do PT, vamos apoiar muitas candidaturas de aliados e a ideia é coesionar esse campo progressista, democrático, para que a gente, depois de eleger prefeituras, chegue lá em 2026 de forma organizada, para a reeleição do presidente Lula.”
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