“Panela de Curitiba” e conchavos comprometem Operação Lava Jato: propina chegou a US$ 5 milhões

“Panela” de Curitiba é o mais novo jargão utilizado para denominar as ações que acontecem na chamada “República de Curitiba” comandada pelo juiz Sérgio Moro na sua Operação Lava Jato. Esse foi o termo usado pelo ex-consultor da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran, que relatou aos integrantes da CPMI da JBS o esquema de facilidades envolvendo as delações premiadas. Ele contou que foi aconselhado por Ivan Carratu – da Carratu e Associados Consultoria Empresarial – a recorrer à “panela” de advogados de Curitiba para conseguir benefícios junto ao Ministério Público (MP) ao negociar sua delação premiada. O depoimento foi feito por meio de videoconferência, nesta quinta-feira (30).

Segundo ele, essas “facilidades” poderiam ser alcançadas por meio do advogado Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho do juiz Sérgio Moro. Duran explicou que para fazer um acordo de delação era necessário alguém com trânsito na força-tarefa da Lava Jato. Relatou ainda que, na conversa que teve com Zucolotto, ele propôs reduzir de US$ 15 milhões para US$ 5 milhões a multa que a força-tarefa estava estipulando. Esse mesmo valor deveria ser pago, por fora, a título de propina.

Duran contou que a conversa com Zucolotto foi feita através do aplicativo Wicker. Esse aplicativo – contou – destrói as mensagens assim que são lidas e também anuncia quando mensagens são “printadas”. Como garantia, ele fotografou a conversa e a periciou.

Questionado pelo deputado Wadih Damous (PT-RJ) se Zucolotto usou a expressão “isso você paga por fora”, o depoente confirmou: “foi dessa forma”. “Me senti constrangido. Aquilo estava parecendo extorsão”, afirmou Tacla Duran. Ele completou ainda que o valor estipulado seria utilizado por Zucolotto e quem o estava ajudando.

Ao avaliar o depoimento de Tacla Duran, o deputado Wadih Damous disse que o relato do depoente confirma a existência do instituto das delações. “Se o objetivo da Operação Lava Jato é recuperar para os cofres públicos aquilo que foi roubado, como é que essa mesma operação permite que as pessoas fiquem com o dinheiro que supostamente foi subtraído dos cofres públicos? ”, questionou. “Tudo isso tem que ser investigado e todo o ordenamento jurídico a esse respeito tem que ser aperfeiçoado”, sugeriu Damous.

Na avaliação do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), o depoimento do ex-consultor da Odebrecht revela que a Lava Jato não é mais uma operação de combate à corrupção.  “Doutor Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Carlos Fernando e tantos outros se converteram numa ação política partidária onde protegem quem querem proteger e perseguem aqueles que querem perseguir”, observou.

Sobre a “panela” de Curitiba Pimenta fez analogia com advogados de porta de cadeia, que são aqueles que possuem relações com delegados e promotores. Ele explicou que, nessa situação, quando alguém era preso, o delegado já fazia a indicação do advogado que mandaria o acusado para casa mais cedo. “Não é muito diferente do que acontece em Curitiba. Só mudaram os valores e o local em que eles atuam”, comparou Pimenta.

Provas – O deputado esclareceu que o depoimento do ex-consultor da Odebrecht se sustenta em prova documental. “Tacla Duran remeteu para a CPMI em torno de 600 páginas de documentos de pericias que dão veracidade a tudo aquilo que ele diz”, sustentou o petista.

Pimenta disse que o conteúdo do depoimento é tão forte que ele, Damous e o senador Paulo Rocha (PT-PA) entraram com um requerimento propondo a realização da oitiva de Carlos Zucolotto Junior. O parlamentar espera que essa proposta seja votada na próxima terça-feira (5).

Benildes Rodrigues

Foto: Alessandro dantas/Senado

 

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