A falta de compromisso com a manutenção de áreas estratégicas, após o golpe de 2016, continua custando caro ao Brasil. A partir da próxima semana, a Volkswagen suspenderá parte de sua produção por falta de chips semicondutores, essenciais para os automóveis de hoje.
A paralisação vai de 20 de fevereiro a 1º de março em São Carlos (SP), e de 22 de fevereiro a 3 de março em São Bernardo do Campo (SP) e São José dos Pinhais (PR).
A escassez de semicondutores já fez com que tanto montadoras de carro quanto fábricas de celulares e outros produtos interrompessem a produção no ano passado. E, pelo que se vê, o problema continua.
Argumentar que se trata de um crise que afeta o mundo todo é não querer enxergar a realidade. Um país como o Brasil não pode abrir mão de sua capacidade de continuar produzindo em determinados setores, independentemente do que acontece no mundo.
Para isso, deve se preparar, por meio de políticas de Estado que garantam autonomia. O nome disso é soberania. E é o que faziam os governos Lula e Dilma quando, por exemplo, começaram a construir fábricas de fertilizantes, para dar mais segurança ao agronegócio, e inauguraram o Ceitec, primeiro centro de fabricação de chips e microprocessadores da América Latina.
Porém, essas duas iniciativas foram interrompidas. O resultado se observa agora: o Brasil passa sufoco para garantir fertilizantes e vê a indústria automobilística, que tem mais de 100 mil trabalhadores, sem contar os empregos indiretos, com dificuldades para funcionar.
A paralisação da VW, além de ser um péssimo sinal da vulnerabilidade brasileira na questão tecnológica, traz impactos negativos para a economia, alertou ao site da CUT o dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), José Roberto Nogueira da Silva.
Silva explica que, embora os funcionários da montadora estejam protegidos e devem receber férias durante a paralisação, há toda uma cadeia produtiva que acaba afetada. “Nossa categoria tem um acordo que prevê flexibilizações, como lay-off, banco de horas, férias coletivas, justamente para enfrentar essas crises, mas (…) na cadeia produtiva acaba gerando demissões”, diz Silva, lembrando que para cada emprego direto existente na VW, há outros 11 em empresas fornecedoras à montadora.
Lula vai recriar fábrica de chips
Ciente de que o Brasil precisa se reindustrializar e se tornar independente em áreas-chave, o presidente Lula criou um grupo interministerial para reverter o processo de extinção da empresa brasileira de chips e microprocessadores.
Criado em 2010, com sede em Porto Alegre, o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) foi abandonado e incluído no programa de privatizações de Bolsonaro. Ao não encontrar compradores para a empresa, o governo anterior iniciou, então, um processo de liquidação, que foi contestado e suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 2021.
A revitalização do centro foi uma das propostas feitas pelo Grupo de Trabalho de Ciência e Tecnologia durante o Gabinete de Transição, em dezembro passado.
Na ocasião, O coordenador da transição, Aloizio Mercadante, hoje presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), explicou na época a importância do Ceitec: “Tem um custo investir na produção de chips, mas a ignorância nesse setor é muito mais cara. Se o Brasil quer entrar nessa elite dos países que produzem chips e estão na vanguarda da tecnologia da informação, nós vamos ter que investir”.
PTNacional