O fundamentalismo do chanceler do Mackenzie – Por Rogerio Marques

fundamentalismo_O fundamentalismo do Chanceler em 3 atos.

Fui aluno do Reverendo Nicodemos no Seminário Presbiteriano do Norte. Lembro que numa das suas provas na matéria Educação Cristã exigia que respondêssemos as questões ipsis literis ao texto do livro.

Uma palavra nossa, o que tínhamos entendido, nem pensar. Mas sobrevivemos – por muito pouco. Nessa época, 86, o professor Nicodemos vinha de um mestrado em Teologia, se não me engano, na África do Sul, tenho certeza.

Ato 1 – Tarcísio Tchocobongue. Tarcísio atualmente é pastor congregacional em Angola. Em 86, era seminarista ¨bolsista. No seminário havia dois pastores que tinham estado na África do Sul, no mesmo período do Aparthaid: o reverendo Mario Alves e Nicodemos. Reverendo Mario Alves nunca se pronunciou contra ou a favor do regime segregacionista sulafricano, diferente de Nicodemos. Esse defendeu o regime do “desenvolvimento apartando as cabeças”, condenou a postura de Nelson Mandela, que era preso político na época. As declarações pró-aparthaid provocou grande ira em Tarcísio Tchocobongue. Ele não acreditava que um pastor, que viu a realidade da opressão dos negros sulafricanos fosse defender um regime facista do teólogo calvinista D. F. Malan. Na época os seminaristas ficaram em peso contrários à postura do reverendo, mas a direção não se pronunciou sobre o ocorrido. Tarcisio disse uma vez no refeitório: “Estou aqui só para me formar, depois volto correndo para meu país.”

– O Seminário Presbiteriano do Norte possui uma Casa Grande, literalmente, que no passado tinha a frente para o Rio Capibaribe. Nas margens do rio surgiu, devido a miséria da década perdida, uma invasão de barracos. Um dos seminaristas que trabalhava com o Exército da Salvação, solicitou dessa digníssima organização que incluísse a invasão nos seus trabalhos de assistência, o que foi feito. Mas a presença dos barracos, dos desprovidos, incomodava o Reverendo. Depois que saí do seminário, o reverendo assumiu a direção, não por minha causa, na sua gestão foi levantado um muro, e alto, entre a Casa Grande e a invasão. Acabou tirando a bonita vista do rio a partir do varandão da Casa. Mas o muro evitava o contato com os pobres e miseráveis e isso era o mais importante para o Reverendo. Não é só os paulistas que levantam “muros” para os nordestinos, nordestinos abonados, como Nicodemos, também levantam.

Ato 3 – Ele é uma pessoa que transforma um cisco num camelo. No último ano, no final do nosso curso, alguém passou manteiga no blazer de um seminarista. O reverendo promoveu uma inquisição na busca do ou dos culpados. Chegou ao ponto de levar o reitor a declarar que ninguém se formava se não entregassem o malfeitor da “manteiga no blazer”. Alguém, de bom senso, falou ao reitor que ele estava, com essa atitude, criando um ressentimento na maior turma da história do seminário. O reitor percebeu que aquela postura inquisitorial era praticada por Torquemada, não condizia com o espírito do evangelho. Abandonou aquela loucura e na formatura, foi a cada um dos formandos da turma e pediu perdão. O evangelho venceu o farisaísmo do reverendo.

Como aluno conheci a sua “ortodoxia” moralista. Sua tradição não é cristã, não é oriunda dos evangelhos, oriunda, baseada no Calvino que aprova a queima de Servetus, na lei de Moisés que manda apedrejar, furar o olho e matar. Talvez, alguns não entendam, mas ele é um judaizante cristão, alguém que vive e crê na lei do talião: “olho por olho, dente por dente”. Essa lei como disse Luther King acabaria deixando todo mundo sem dentes e cegos. O que o move não é o espírito de Cristo, é a moralidade. Moralidade, chamada “cristã”, que muitos associam a Cristo, daí porque muitos vêem Jesus como se fosse titica de galinha, é gente como o chanceler quem contribui para isso. Moralidade e evangelho não são sinônimos. A moralidade apedreja, o evangelho, ao contrário, oferece a qualquer um, com qualquer pecado, a graça: Vinde a mim todos os sobrecarregados e oprimidos e eu os aliviarei, disse Jesus.

“Se eles vierem com as decisões “manifestos” dos concílios, eu irei com a Palavra.
Se eles vierem com Moisés, eu irei com o Espírito.
Se eles vierem com os espíritos (ilustrados), eu irei com Cristo”.
(parafraseando Lutero)
Rogério Marques, teólogo e escritor.

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