O falatório sobre a nomeação de Lula para o Ministério da Casa Civil ganhou os jornais, rádios, TV’s e redes sociais. Primeiro porque a oposição, que já tinha como certa a ‘queda’ de Dilma, ficou desnorteada. Percebeu que o ex-presidente, com a sua experiência, capacidade de aglutinação e diálogo e, principalmente, tirocínio, era capaz de ajudar a presidenta a levantar seu combalido e, naquela quarta-feira, tido como ‘derrubado’ governo. Com a volta de Lula a oposição ficou desesperada, sem saber o que fazer – a não ser esbravejar!
Após a aceitação do ministério por Lula, durante todo o dia, não faltou a pancadaria mais deslavada da oposição, repercutida pela mídia: “onde já se viu um ex-presidente submeter-se a uma ex-subalterna”; “a presidenta acaba de virar a rainha da Inglaterra”; “Dilma sublocou o governo”; e “Lula foge de Sérgio Moro, com medo de ser preso”.
Mas a verdade é que o governo acabava de ganhar um novo e fortíssimo reforço. A quase certeza da ‘queda’, virou a convicção do revigoramento do governo com Lula.
Foi quando ocorreu, porém, a oportunista e ilegal divulgação das gravações telefônicas entre Lula e a presidenta Dilma, explorada com alarido bombástico pela mídia, que ensaiada a um coro só afirmava ser conluio para dar a Lula o foro privilegiado e retirá-lo de Curitiba, uma inaceitável e inadmissível obstrução da Justiça e um privilégio criminoso da presidenta para Lula. Esse fato, potencializado ao extremo pela imprensa, levou a uma nova onda de pessimismo. Partidos e deputados da base, de forma inesperada e surpreendente, com festejos da oposição, anunciaram adesões ao impeachment. O governo voltava a quase ‘cair’ porque quis salvar Lula das ‘garras’ de Moro.
Nada como os fatos, noticiados pela própria mídia, para desfazer tamanha desfaçatez:
Em 2014, quando o PT discutia as eleições presidenciais, a grande maioria do partido gostaria que Lula voltasse a se candidatar para dar um novo rumo, uma nova diretriz ao que poderia ser o quarto mandato comandado pelo PT. A imprensa noticiou o “volta Lula”. Quis, inclusive, indispor Lula e Dilma, mas não conseguiu. Esse assunto somente não prosperou porque Lula, além de defender o direito da presidenta Dilma disputar a reeleição, desestimulou, mais que isso, desautorizou, os que defendiam o seu retorno e proibiu que continuassem a difundir o “volta Lula”.
Mas não foi só, e novamente os fatos não podem ser negados: após a difícil eleição, mesmo tendo o diálogo como mote do novo mandato, o novo governo vitorioso encontrou inúmeras dificuldades para governar, distanciando-se de seus aliados no parlamento e na sociedade. A imprensa noticiou os dirigentes do PT, as lideranças de movimentos sociais e os parlamentares da base aliada resistindo às MP’s do ajuste proposto e reivindicando alteração de rumos na nova política econômica adotada. Não foram poucas as alterações legislativas e ainda faltaram muitas por realizar.
Logo em seguida, face às crescentes dificuldades do governo em deslanchar, várias lideranças do PT sugeriram – Lula inclusive – alterações nos Ministérios da Casa Civil, da Fazenda e da Justiça. Muitos de nós, em todas essas mudanças, tínhamos o nome mais comentado para fazer parte do governo: Lula. Demorou, mas foi trocada a gestão da Casa Civil. Com Jaques Wagner as coisas melhoram muito. Tardou, e a Fazenda sofreu alteração. Atrasou mais, e a Justiça também foi mudada.
O PT aumentou a pressão sobre Lula para fazer as mudanças necessárias no governo para corrigir a rota, ajustar o rumo, voltar a crescer. E não tinha tríplex, nem sítio. A Bancoop estava destinada ao ostracismo. Não existiam holofotes sobre delegados, procuradores, nem juízes. Eram só escaramuças e provocações. Não existiam inquéritos, nem pedido de condução coercitiva, nem prisão preventiva, nem nada. Processo?, nem hoje existe.
Desde lá atrás, portanto, como noticiou reiteradamente toda a imprensa, não propusemos Lula ir para o governo para obstruir a Justiça. Nós queríamos, como queremos, dar novo rumo ao nosso governo, corrigir nosso direcionamento, conter a inflação, diminuir os juros, voltar a crescer, criar empregos e renda, melhorar a vida dos brasileiros. E o ex-presidente Lula, junto com a presidenta Dilma, pode dar sua contribuição para tanto.
Lula saberá se defender em Curitiba, no Supremo ou onde for necessário. Temos certeza.
* José Mentor é deputado federal pelo PT-SP
Assessoria Parlamentar
Foto: Salu Parente