O desafio da educação no pós-covid

Deputado Merlong Solano. Foto: PT na Câmara

Impactado pela maior tragédia humanitária (em escala global) de nossa geração, o Brasil agiu para enfrentar o coronavírus e a estratégia ensandecida do presidente da República, que sempre pregou a livre circulação do vírus com o fim de atingir a tal imunidade de rebanho, caminho que teria levado a um precipício e a um número extraordinariamente alto de mortes.

Tendo que enfrentar dois inimigos poderosos, o vírus e o presidente, o Brasil realizou um combate cheio de contradições. Mesmo assim, o distanciamento social salvou milhares de vidas, graças à ação de governadores, prefeitos e ao forte apoio da mídia brasileira. A despeito de tudo isso e da tardia vacinação, estamos caminhando para 600 mil mortes pela Covid-19.

O distanciamento social salvou muitas vidas, mas também afetou muitos setores de nossa estrutura social, econômica e cultural. A questão agora é dimensionar o tamanho e a natureza dos impactos. Na área da economia, uma vez cessada a causa do distanciamento, a recuperação pode ser rápida, afinal, as crises cíclicas já fazem parte da história do capitalismo.

Há, todavia, uma área em que os impactos negativos serão sentidos por anos. E ela é justamente a área que tem maior potencial para reduzir ou aumentar as mazelas oriundas da extrema desigualdade que marca nossa estrutura social. Trata-se da educação.

Milhões de crianças, adolescentes e jovens estão afastados das escolas desde março de 2020. Quais os impactos desse afastamento e que medidas adotar daqui para frente para conseguirmos reduzir o tempo de recuperação dos indicadores educacionais relacionados ao aprendizado e à convivência social, vital para o desenvolvimento de rede de contatos e de amizades?

Mesmo com a falta de coordenação por parte do Ministério da Educação, estados e municípios adotaram medidas para tentar manter algum grau de atendimento aos estudantes, a exemplo do governo do Piauí, que criou a TV Escola para servir e dar suporte às atividades remotas da rede de ensino.

Todavia, limites estruturais poderosos atuaram para frustrar boa parte dos resultados esperados pela educação a distância, método possível num contexto de afastamento social. Dentre os limites, destacam-se a enorme desigualdade de acesso a computadores e à internet de boa qualidade, a dependência de dados móveis e as precárias condições de grande parte das residências, que dificultam a execução de uma rotina regular de estudo em casa.

Diante desses fatores, especialistas são unânimes em afirmar e as primeiras pesquisas unânimes em constatar: a falta de aulas presenciais provocou enorme déficit de aprendizado e é fator poderoso de ampliação da evasão escolar.
Assim, ficamos diante de questões cruciais, tais como: crianças matriculadas, mas que não estão conseguindo alcançar a alfabetização plena; adolescentes que perderam a oportunidade de dominar as regras básicas da gramática, da leitura, bem como as noções fundamentais da matemática; e jovens que não se sentem atraídos pela escola, tendendo a engrossar o drama da evasão escolar nas séries finais do ensino fundamental e do ensino médio.

Diante desse quadro, o Brasil não pode cair na ilusão de considerar que apenas as respostas de antes da pandemia resolverão o problema desta geração de estudantes. Isso equivaleria a deixá-los entregues à própria sorte, ou melhor, ao próprio azar. A retomada do ensino presencial por si só não resolve o problema, pois o paciente precisa de transfusão de sangue.

Serão necessárias medidas extraordinárias para enfrentar o desafio da exclusão educacional provocada pela Covid-19. Não é com cortes no orçamento do Ministério da Educação que conseguiremos enfrentar o desafio, bem ao contrário, precisamos de um orçamento extraordinário para a recuperação da educação pública no Brasil, a exemplo do que fizemos com o orçamento extraordinário para o Ministério da Saúde em 2020.

Esse orçamento extraordinário, concebido numa articulação que envolva o Congresso Nacional e os governos federal, estaduais e municipais, deverá financiar atividades extras de reforço escolar voltadas para o fortalecimento das escolas e dos estudantes. Para isso, obviamente, uma ampla e participativa avaliação dos impactos deverá ser realizada sob coordenação de comissão intersetorial e intergovernamental.

Trata-se de conceber e executar um amplo mutirão de resgate da educação pública, devendo o mesmo contemplar um programa de reforço escolar, aumento do tempo de permanência na escola, atividades culturais e esportivas voltadas para integração, mobilização e motivação dos estudantes.

Do ponto de vista operacional, será necessário:

• Realizar Avaliação Nacional para verificar o grau de comprometimento do aprendizado em razão da pandemia na rede pública de ensino;
• Criar Programa de Recuperação e reforço de conteúdos nos contraturnos e nos períodos de férias escolares pelos próximos quatro anos;
• Criar Fundo para a Recuperação da Educação Brasileira, com o objetivo de captar recursos para custear o Programa.

Este é o caminho. Soluções de mercado não resolverão os problemas gerados pela Covid-19 na educação pública brasileira. É preciso ação de Estado. É fundamental uma ampla mobilização nacional em defesa da educação, em defesa de nossas crianças, adolescentes e jovens.

Merlong Solano é deputado federal (PT-PI)

 

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Postagens recentes

CADASTRE-SE PARA RECEBER MAIS INFORMAÇÕES DO PT NA CÂMARA

Veja Também

Jaya9

Mostbet

MCW

Jeetwin

Babu88

Nagad88

Betvisa

Marvelbet

Baji999

Jeetbuzz

Mostplay

Melbet

Betjili

Six6s

Krikya

Glory Casino

Betjee

Jita Ace

Crickex

Winbdt

PBC88

R777

Jitawin

Khela88

Bhaggo

jaya9

mcw

jeetwin

nagad88

betvisa

marvelbet

baji999

jeetbuzz

crickex

https://smoke.pl/wp-includes/depo10/

Depo 10 Bonus 10

Slot Bet 100

Depo 10 Bonus 10

Garansi Kekalahan 100