No dia 27 de janeiro deste ano, o colunista do jornal Folha de São Paulo, Kennedy de Alencar, escreveu um artigo apontando a “tolerância social zero” do governo do PSDB em São Paulo: “Na administração de Alckmin, houve violência policial exagerada contra estudantes, ação desastrada da PM na cracolândia paulistana, dirigente da CDHU culpando moradores pelos defeitos de habitações populares e um atentado contra os direitos humanos no Pinheirinho. Não são casos isolados. Refletem uma visão conservadora, de direita, que enxerga a questão social como caso de polícia.
O Brasil até precisa de um partido de direita, desde que não seja uma direita obscurantista, golpista e autoritária como tivemos antes e durante a ditadura militar de 1964. Para ser uma alternativa de poder competitiva, o PSDB precisa de um banho de povo”.
A menção a um colunista de jornalão é proposital e oportuna. Proposital porque dá à crítica uma pretensa isenção que ela não ganharia se houvesse sido proferida por um membro do PT. E oportuna porque este artigo não pretende tratar da insensibilidade social do governo Alckmin de modo específico, mas da distância que o PSDB, como um todo, mantém do povo brasileiro.
Em recente encontro onde lançou o senador mineiro Aécio Neves à disputa pela Presidência da República, FHC plagiou Kennedy e discursou dizendo: “O PSDB precisa de um banho de povo”. Foi uma confissão! Se o PSDB ainda precisa banhar-se “de povo”, é porque não o fez antes. Então, governou o Brasil por oito anos sem este “banho”, ou seja, sem “o povo”. Ou, como bem resumiu um jornaleiro de Porto Alegre ao ler a declaração de FHC: – Ah, finalmente os tucanos admitem que o PSDB é impregnado de elite?
Nem todos, seria a resposta certa.
Vejamos o caso do próprio Aécio… Em discurso no Senado no dia em que o PT celebrava 33 anos de fundação e 10 anos à frente da Presidência da República, o senador mineiro falou por mais de 30 minutos criticando os governos de Lula e Dilma. Falou, falou, falou e nem uma vez sequer mencionou a palavra “povo”. Aliás, como bem apanhou o senador Lindbergh Farias (PT/RJ), “nem povo, nem pessoas, nem gente, nem emprego, nem miséria e nem inclusão social”.
Ora, se Aécio não consegue admitir como virtude o fato de os governos Lula e Dilma (estes, “encharcados de povo”) terem retirado quase 40 milhões de brasileiros da miséria; se, na análise que faz dos 10 anos de governo do PT, Aécio não entende como positiva a queda de 14% na desigualdade, é porque ele é um tucano típico, desses que o jornaleiro identificou como “impregnado de elite”. Aliás, sabe-se agora, Aécio gosta mesmo é de banhar-se nos mares do Leblon… Em se tratando de PSDB, ilegítimo é FHC – depois de ter governado por oito anos, repetir uma receita que, inclusive, como se viu, nem é sua, mas de um colunista da Folha – falar de “banho de povo”.
* Deputado Federal/RS e Secretário Nacional Agrário do PT