Nova oportunidade para a América Latina

22-03-10-palocci-ARTIGONum momento em que a recuperação da economia mundial se dá demaneira bastante diferenciada entre os países e nos diferentes continentes, a observação da rápida superação da crise e da retomada do crescimento em muitos dos países da América Latina mostra uma oportunidade nova para o desenvolvimento e a tão acalentada integração da região.

A maior capacidade de resistir à crise mostrada recentemente, se comparada com o impacto de crises anteriores, não sedeu por acaso.

Os dados agregados da região para os cinco últimos anos antes da crise mostram, embora de maneira desigual entre os países, melhoras significativas nas contas externas, na acumulaçãode reservas internacionais, nos resultados fiscais, no crédito e nodesenvolvimento de mercados internos mais dinâmicos.

No ano de2007, o Brasil tinha reservas 273% maiores que sua dívida pública externa. O Chile, 468%; o México, 129%; a Colômbia, 89%; e o Peru,141%. O volume de crédito aumentou neste período para quase todos ospaíses e com menor dependência do crédito externo. A redução dosdéficits fiscais também aconteceu na grande maioria das contas públicasda região.

Por isso, o impacto da crise, embora reconhecida comoa maior das últimas décadas, foi menor do que o impacto em crisesanteriores e de menor gravidade. As reservas e a situação das contasexternas, o controle da inflação e a melhora fiscal permitiram umaimportante atenuação dos impactos negativos da crise recente.

Sem dúvida, o Brasil foi o país que melhor demonstrou capacidade renovadade enfrentar situação tão adversa, podendo lançar mão de estímulos monetários, fiscais e tributários que, combinados com um mercado interno bastante amplificado, permitiu uma saída rápida do quadro deconstrangimento econômico do final de 2008 e início de 2009.

Maso fato digno de nota é que muitos outros países latino-americanos tiveram também bom desempenho no período, sempre comparando com a situação de crises anteriores.

Agora, o fato que persiste é que as economias mais ricas, em especial os EUA, União Europeia e Japão,continuam num processo bastante lento de recuperação. São as chamadas economias emergentes que dão maior alento ao cenário global.

Para a nossa região, isso deve significar uma avaliação criteriosa dasdificuldades dos próximos anos, mas também das oportunidades abertas.Se é verdade que a economia americana, que é destino de nada menos doque 41,4% das exportações da AL, deve mostrar uma recuperação arrastadae difícil, é verdade também que a troca comercial, no período anteriorà crise, cresceu fortemente entre os países da parte latina dohemisfério.

Não se trata, nem de longe, de ver algo de positivona crise da economia americana. Como consumidor, nos anos maisrecentes, de quase 30% da produção mundial, a retração do consumo dosEUA imporá restrições severas para todas as economias do mundo. Mas épreciso olhar para as novas economias, as novas oportunidades e osnovos mercados. E é ai que reside uma nova oportunidade de integraçãoda América Latina.

Valorizar as boas práticas de gestão dascontas públicas, as políticas de acumulação de reservas, a integraçãodas boas experiências no campo macroeconômico, é um começo. Desenvolverpolíticas de fomento dos mercados internos, e geradoras de emprego erenda, também é necessário. E seriam complementares a um ambiciosoprojeto de ampliação da infraestrutura da região, capacitando-nos a umaintegração mais vantajosa com as economias de outros continentes.

Éincrível que, até hoje, tenhamos conseguido dar apenas os primeirospassos para ligações eficientes de transporte entre o Atlântico e oPacífico, facilitando o acesso aos promissores mercados asiáticos.

Nunca é tarde para recuperar o tempo perdido se as oportunidades voltam a se colocar

ANTÔNIO PALOCCI é deputado federal (PT-SP) e foi ministro da Fazenda.

 

 

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