Nordestinos reivindicam reabilitação do Padre Cícero; líder do PT quer reunião com o Papa

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A vinda do papa Francisco ao Brasil, em julho próximo, alimenta em uma comitiva de nordestinos a esperança de vê-lo e de ser recebido por ele. O objetivo é resgatar diante do Vaticano a história de um ícone da religiosidade cearense: o padre Cícero Romão Batista, falecido há quase 80 anos. O líder do PT na Câmara, deputado José Guimarães (CE), é um dos artífices da iniciativa e explica que a intenção de ficar diante de Sua Santidade é “fazer justiça” ao religioso – um personagem que carrega a pecha de ser um dos mais controversos da história da Igreja Católica Apostólica Romana. 

Mais conhecido como Padre Cícero ou, popularmente, como “Padim Ciço”, a figura do líder religioso, que recebeu da Santa Sé o título de clérigo insubordinado e foi acusado por ela de ser um herege, mantém-se viva entre os mais de dois milhões de romeiros que são arrastados anualmente a Juazeiro do Norte, no extremo sul do Ceará, para renovar votos de fé diante daquele que consideram um “padre-santo-milagreiro”. 

A investida que o petista José Guimarães, conterrâneo do padre, planeja fazer junto ao Sumo Pontífice é no sentido de que esse reconhecimento popular acerca da santidade de Cícero – revelada pela incontável quantidade de milagres atribuídos ao religioso nordestino – seja finalmente acolhido pela Igreja Católica, com a revisão da sentença que o baniu dos seus quadros.

“O Brasil tem essa dívida histórica e precisa resgatar a figura de padre Cícero Romão Batista diante da Igreja Católica. Ele é uma referência da religiosidade cearense e nordestina e teve um legado umbilicalmente ligado à Igreja, sempre fazendo a opção pelos simples e pelos pobres”, justifica o líder petista, que pretende ser recebido pelo Papa juntamente com uma comitiva de outros políticos cearenses durante a vinda do Papa Francisco para a Jornada Mundial da Juventude, em julho.

A pedido de José Guimarães, a articulação para garantir o encontro está sendo feita pelo secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que espera viabilizar com o Vaticano a realização da audiência. “O momento é excepcional para tratar desse assunto, já que o Papa Francisco é muito vinculado à justiça social, aos mais pobres, e está resgatando o papel da Igreja Católica”, reforça o líder do PT.

Comunhão – Toda a polêmica com relação a Cícero Romão Batista começou com a ocorrência de um fenômeno inusitado numa sexta-feira da Quaresma, exatamente em 1º de março de 1889. Na manhã daquele dia, a beata Maria de Araújo, ao receber a comunhão das mãos de Padre Cícero, experimentou algo inexplicável: a hóstia, ao tocar sua língua, se verteu em sangue. O fenômeno passou a se repetir com frequência. A notícia se espalhou, atraindo multidões ao povoado do Juazeiro do Norte, que viam naquele fato a comprovação da presença de Deus entre aquele povo sofrido do sertão. A Igreja, que enxergava com ressalvas aqueles episódios, acabou por punir Cícero após vários pedidos para que a situação fosse tratada com cautela.

O Vaticano já dispõe de ampla documentação sobre o caso do Padre Cícero, a fim de redimi-lo da sentença que lhe custou a pena de ser afastado de suas funções clericais. O processo para reabilitação do “Padim Ciço” foi oficialmente repassado ao cardeal Josef William Levado, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em 30 de maio de 2006, por uma comitiva que saiu do Ceará com essa missão específica.

Com a recente troca de comando no Vaticano, o italiano dom Fernando Panico – atual bispo da Diocese do Crato, cidade vizinha a Juazeiro do Norte, e responsável pelo processo de reabilitação de Padre Cícero junto ao Vaticano – lamentou o fato de a reabilitação do religioso não ter ocorrido durante o papado de Bento XVI. Panico afirma que o então papa se mostrava preocupado com a demora do processo e havia lhe prometido durante um encontro em Roma que iria acelerar o julgamento do caso.

Segundo o bispo do Crato, foi o próprio Bento XVI – à época, ainda na condição de cardeal Josef Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – que o incentivou a pesquisar e a dar inicio ao processo de reabilitação do Padre Cícero.

Tarciano Ricarto

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