Matéria divulgada pela edição do jornal Valor Econômico desta segunda-feira (21) destaca levantamento da consultoria Plano CDE, que, baseada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, chegou à conclusão que a classe média está ultrapassando o total de pobres e vulneráveis na única região do País em que ela ainda não era maioria: no Nordeste brasileiro. Na região, a classe C conta com 23,9 milhões de pessoas e há outros 23,7 milhões entre a D e E. Apesar de o primeiro grupo ser ligeiramente maior, ambos representam 45% da população.
Segundo os dados, o Nordeste assistiu à diminuição significativa de sua população pobre nos últimos dez anos – período que coincide com os governos de Lula e Dilma. O texto ressalta que, entre 2001 e 2012, o ganho de renda das famílias, mais expressivo entre as classes D e E, reduziu a participação da chamada base da pirâmide de 66% para 45% dos nordestinos. A tendência de crescimento real da renda entre os domicílios mais pobres da região indica que esse movimento deve continuar nos próximos anos.
Para Luciana Aguiar, da consultoria CDE, a tendência de aumento nos rendimentos mais forte entre as famílias de baixa renda deve se sustentar na região nos próximos anos, garantida pela manutenção de políticas de distribuição de renda, como o Bolsa Família e pelo forte investimento governamental e privado nos polos industriais – Pecém no Ceará e Suape em Pernambuco, por exemplo. O ritmo, contudo, deve ser influenciado pela desaceleração da atividade no último ano e perder fôlego, ressalva.
O deputado José Guimarães (PT-CE) avalia que o estudo revela um Nordeste diferente daquele onde imperava o apartheid social e político. “Diferentemente do que dizem, o Nordeste cresceu e se desenvolveu por conta dos programas de transferência de renda, dos investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e da capacidade de atração da iniciativa privada, já que a região foi dotada da infraestrutura logística para receber esses investimentos. Portanto é uma região diferenciada”, analisa Guimarães.
Outros fatores – De acordo com o estudo, em outra frente, a economia da região pode ser impulsionada pela composição atual da estrutura etária. “O Nordeste ainda vai passar pelo bônus demográfico”, ressalta Luciana, referindo-se à participação dos jovens de 15 a 29 anos na população local, de 26%. Esse vetor, porém, está condicionado ao processo de qualificação profissional da classe média e dos pobres e vulneráveis na região. “Sem uma preparação para competir por um bom emprego, eles podem perder a oportunidade”, avalia.
Um dos achados mais importantes da pesquisa da Plano CDE trata do empreendedorismo individual no Nordeste. Segundo os números da Pnad, metade da classe média é formada por informais ou trabalhadores por conta própria. Essa característica explica, por exemplo, o sucesso do segmento porta a porta – que também resolve a dificuldade de distribuição e penetração que o varejo tem entre as classes de menor renda – e pode virar oportunidade de negócio para as empresas interessadas em investir na região. “Elas podem ganhar muito se virem o consumidor também como parceiro de negócios”, defende.
Consumo – O mercado consumidor formado pelas classes D e E no Brasil tem chamado cada vez mais atenção do setor produtivo. Em 2012, a massa de rendimento das famílias que formam a base da pirâmide no país chegou a R$ 21,1 bilhões, valor 83,4% maior do que em 2004, já descontada a inflação no período. O aumento levou a participação do grupo no total da massa entre as classes de 10,8% naquele ano para 12,4%.
No recorte por domicílio, a renda entre os 40% mais pobres aumentou 51%, contra 31,3 % da média nacional. O valor bruto da média mensal, que chegou a R$ 841, ainda é considerado baixo se comparado às medidas internacionais de desenvolvimento humano. O volume de recursos disponível para consumo, porém, é cada vez menos desprezível para algumas empresas. Por isso, setores como os de alimentos e serviços, inclusive o financeiro, já desenham políticas específicas para vender para esse público.
PT na Câmara com Jornal Valor Econômico