No Japão, Lula cobra compromisso financeiro de países ricos com meio ambiente

Lula, no G7: "Em todas as COPs as pessoas falam que vão doar US$ 100 bilhões. Nós estamos aguardando” Foto: Ricardo Stuckert

Único presidente brasileiro a participar de uma reunião do G7, Lula confirmou, durante visita ao Japão, neste final de semana, que o Brasil está de volta à mesa de discussão sobre os temas mais importantes da geopolítica mundial. O presidente participou de uma agenda extensa de debates sobre temas variados, da crise climática à transição energética, passando por saúde pública, desarmamento nuclear, a defesa do Estado de Direito e a guerra na Ucrânia. Ao fim da agenda, em Hiroshima, no domingo (21), Lula concedeu uma entrevista coletiva na qual fez um balanço do G7.

Ele cobrou um compromisso dos países ricos, inclusive financeiro, com a defesa do meio ambiente e defendeu o fim do conflito entre Rússia e Ucrânia. “Em todas as COPs [Conferências do Clima das Nações Unidas] as pessoas falam que vão doar US$ 100 bilhões. Nós estamos aguardando”, afirmou Lula. Ele argumentou em nome de uma política unificada dos países que integram a Amazônia. “Não queremos transformar a Amazônia em um santuário da humanidade”, disse o presidente.

“Ou todos nós entendemos que o barco é um só, que o planeta é redondo, ou entendemos que uma desgraça que vier vai pegar todo mundo de calça curta. Os cientistas estão nos prevenindo, então é importante termos clareza de que nós seremos os responsáveis de nos salvar ou de nos matar”, apontou.

Cessar-fogo

Lula voltou a defender um cessar-fogo na Ucrânia e criticou os países envolvidos no conflito. “Só é possível discutir a paz quando o Zelensky e o Putin quiserem discutir a paz”, declarou Lula. “Não é possível construir uma proposta em guerra. Queremos que primeiro pare os ataques e depois a gente encontre uma saída negociada. É assim que a gente vai encontrar a paz. Ninguém tem um modelo pronto, o modelo pronto será deles”.

O presidente também afirmou que é preciso uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Para Lula, a organização não possui autoridade para discutir um processo de paz.

“Estou reclamando uma mudança no Conselho de Segurança da ONU”, destacou Lula. “Que entre mais países da América Latina, mais países da África, que entre o Japão, a Alemanha, a Índia. Que entre países importantes. A África tem 54 países, por que a África não tem um ou dois representantes?”, questionou.

“A ONU de 1945 já não existe mais”, definiu Lula. “Ela foi criada para manter a paz no mundo mas ela não tem mais autoridade para manter a paz no mundo porque são os mesmos do Conselho de Segurança que faz guerra”, criticou o presidente. “Se o Conselho funcionasse como deveria funcionar, possivelmente não teria acontecido a guerra da Ucrânia e da Rússia”.

Reuniões bilaterais

A diplomacia brasileira aproveitou a oportunidade para fazer uma série de reuniões bilaterais. A primeira delas ocorreu na sexta-feira (19) com o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese. O tema principal foi o meio ambiente, já que a Austrália tem projetos de investimento na produção de hidrogênio verde no Ceará. Mas também foram discutidas as relações de trabalho na era digital, tema caro ao primeiro-ministro, que também veio do trabalhismo, como o presidente brasileiro.

Na sequência, o presidente teve encontros com autoridades de vários países, entre eles os primeiros-ministros do Japão, Fumio Kishida,  da Alemanha, Olaf Scholz, do Vietnã, Pham Minh Chinh, os presidentes da Indonésia, Joko Wikodo, da França, Emmanuel Macron, e o secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres. Com o Japão, em particular, o presidente Lula avançou em tratativas para atrair investimentos privados ao Brasil e investimentos do governo japonês na área de saúde.

Crítica ao sistema financeiro global

Lula fez dois discursos na Cúpula do G7, um no sábado (20), outro no domingo. O primeiro abordou a arquitetura econômica global. Já o segundo foi centrado na guerra da Ucrânia e no Conselho de Segurança da ONU.

De cara, Lula confirmou que é uma das poucas lideranças mundiais com autoridade para colocar o dedo na cara dos países ricos e apontar que o sistema financeiro criado por eles é o grande responsável pelas crises econômicas e desigualdades sociais do planeta. Sem rodeios, ele disse que o sistema “expôs a fragilidade dos dogmas e equívocos do neoliberalismo”.

“O sistema financeiro global tem que estar a serviço da produção, do trabalho e do emprego. Só teremos um crescimento sustentável de verdade direcionando esforços e recursos em prol da economia real”, observou o presidente.

Em seguida, ele tratou de meio ambiente. “O mundo passa hoje por uma crise que não afeta a todos da mesma forma, nem no mesmo grau, nem no mesmo ritmo. Mais de 3 bilhões de pessoas já são diretamente atingidas pela mudança do clima, em especial em países de renda média e baixa”, discursou.

Ele cobrou a fatura dos países ricos para que cumpram a promessa de depositar 100 bilhões de dólares por ano para ações climáticas. Segundo o petista, “não adianta os países e regiões ricos avançarem na implementação de planos sofisticados de transição se o resto do mundo ficar para trás ou, pior ainda, for prejudicado pelo processo”.

Reforma das Nações Unidas

O segundo discurso foi direcionado ao processo de paz. Lula condenou a invasão na Ucrânia mas disse que o G7 não era o fórum adequado para discutir o assunto, e sim o Conselho de segurança da ONU. E defendeu uma reforma profunda das Nações Unidas.

O presidente voltou a pedir uma solução baseada no diálogo para o conflito na Ucrânia e a criação de um espaço para negociações e destacou que outros conflitos que ocorrem fora da Europa também merecem mobilização internacional. “Israelenses e palestinos, armênios e azéris, cossovares e sérvios precisam de paz. Yemenitas, sírios, líbios e sudaneses, todos merecem viver em paz”, afirmou.

Lula defendeu ainda a necessidade de ratificação do Tratado para a Proibição de Armas Nucleares. “Não são fonte de segurança, mas instrumento de extermínio”, disse. “Enquanto existirem armas nucleares, sempre haverá a possibilidade de seu uso”, concluiu.

PTNacional

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