Presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas volta a criticar a dolarização do combustível. Ele representa mais de um terço dos custos totais das companhias
Após o reajuste de 3,9% em 15 refinarias anunciado pela Petrobrás na última sexta-feira (1º), o querosene de aviação (QAV) acumula alta de 70,6% neste ano. O combustível já é vendido no Brasil a um valor 40% mais alto que no exterior, avalia a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). A entidade voltou a criticar a dolarização dos combustíveis, adotada sob Michael Temer em 2016 e mantida por Jair Bolsonaro.
“Se produzimos combustível na Refinaria Henrique Lage (Revap), que vai por duto a Guarulhos, por que pagamos como se tivesse sido produzido no Golfo do México, em Dubai?”, questionou o presidente da Abear, Eduardo Sanovicz, em audiência sobre a precificação do QAV no Brasil realizada nesta terça-feira (5), na Câmara dos Deputados.
“Política de preço de paridade internacional (PPI) é algo que não existe nesse mercado de QAV, visto que 90% é produzido aqui no país”, prosseguiu o executivo. “Mas cobram como se o QAV tivesse sido importado, viajado milhas e milhas, cobra-se frete, logística, estoque, perda, seguro e muito mais.”
Segundo Sanovicz, em 2021 o QAV já havia sido reajustado em 92%. “Hoje, mais de 40% do valor do bilhete (passagem aérea) é só para pagar o custo do bilhete e daqui a pouco chega em 45%. Antes, era um terço do valor da tarifa”, afirmou à agência Reuters.
Os preços de venda de QAV às distribuidoras são reajustados mensalmente. O novo aumento pressiona as companhias áreas, que repassarão o custo para o preço das passagens. Mais de um terço dos custos totais das companhias é com o combustível.
Em Paulínia (SP), onde funciona a Replan, maior refinaria em capacidade de processamento da Petrobrás, o QAV passou a custar R$ 5.853 por metro cúbico em julho, ante R$ 5.631 em junho. Em Duque de Caxias (RJ), sede da Reduc próxima ao aeroporto internacional do Galeão, o preço foi para R$ 5.812 por metro cúbico, contra R$ 5.597 no mesmo comparativo. Em Betim (MG), o salto foi de R$ 5.679 para R$ 5.902.
Para Sanovicz, a redução de ICMS incidente sobre combustíveis, que também alcança o querosene de aviação, tem impacto pequeno sobre o valor do QAV. “É uma alta absurda e uma pressão enorme que acaba no preço da tarifa justamente em um momento em que as pessoas não recuperaram a capacidade de consumo e as empresas não recuperaram a capacidade de investimento”, acrescentou.
Falta diálogo com a sociedade, critica presidente da Abear
Sanovicz lembrou que em abril a Abear propôs aos ministérios da Economia e da Infraestrutura a criação de uma mesa de diálogo permanente para buscar soluções para o setor aéreo. Para ele, o país precisa enfrentar o debate sobre a paridade internacional dos preços dos combustíveis.
“Isso tem de ser feito de forma racional e técnica. Eu tenho consciência de que há impactos econômicos, políticos, legais nesse tema. Mas os efeitos desses números sobre os setores produtivos, os consumidores e a sociedade tornam esse debate inadiável”, disse Sanovicz à coluna Painel, na Folha de São Paulo, no início daquele mês.
A aviação civil vem enfrentando dificuldades desde o início da pandemia, em 2020. Naquele ano, o setor regrediu ao patamar de 2005, com 52 milhões de passageiros domésticos e internacionais transportados, 56% menos do que o apurado em 2019. O anuário da Agência Nacional de Avião Civil (Anac) mostra que o número de voos também caiu: ocorreram 465 mil decolagens, 51% a menos que o registrado no ano anterior.
O relatório de demanda e oferta da Anac referente a maio deste ano apontou alta de 6% na oferta por voos no mercado interno frente aos números de maio de 2019. Foi a primeira vez que um dos itens do relatório apresentou crescimento em relação ao período pré-pandemia.
Mas a demanda de passageiros ficou 2,5% menor em relação ao resultado obtido em maio de 2019. O número de passageiros pagos transportados no mercado doméstico, que foi de 6,4 milhões em maio, ficou 10% menor em relação ao total computado três anos atrás. Os preços inflacionados das passagens e a falta de dinheiro de passageiros em potencial são as principais causas.
Antes dos governos do PT, a Anac registrava 37 milhões de passageiros que andavam de avião. Em 2007, sob Luiz Inácio Lula da Silva, 48 milhões de pessoas viajaram de avião, e em 2012, sob Dilma Rousseff, o número subiu para 101 milhões. As gestões do PT atuaram fortemente na inclusão social, dando oportunidade para as classes C e D, que passaram a ter acesso aos mais diversos tipos de “luxo” (andar de avião, comprar uma casa e ter um carro na garagem), agora tão distantes.
Da Redação da Agência PT