O Brasil segue o trágico caminho, rumo à destruição ambiental, traçado por Bolsonaro que, inclusive, foi condenado recentemente pelo parlamento europeu por má gestão ambiental. Somente em 2021, o país perdeu 16 mil Km² de área verde. O desmatamento corresponde a 20,1% de aumento em todos os biomas. Os dados são do MapBiomas, que realizou um levantamento.
O documento alerta para uma perda de área desflorestada correspondente ao tamanho do estado do Rio de Janeiro e concentração de destruição mais na Amazônia, com estimativa de 18 árvores derrubadas por segundo. Apenas 27% das áreas desmatadas são fiscalizadas.
O Relatório Anual de Desmatamento no Brasil, do MapBiomas, é uma iniciativa do Observatório do Clima realizada por uma rede de universidades, ONGs e empresas de tecnologia.
De acordo com o estudo, 77% da área total desmatada ficava em um imóvel registrado no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural. “Em ao menos três quartos dos desmatamentos, é possível encontrar um dono ou responsável”, afirma o coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Tasso explica que é preciso fortalecer ações, como embargar terras com desmate ilegal (o que dificulta o acesso a financiamento), impedir regularização fundiária em áreas com desmate irregular e banir produtos de origem irregular do mercado.
Amazônia é o bioma mais afetado
Os dados do relatório apontam que a Amazônia é o bioma com maior território afetado (59%), seguido do Cerrado (30%), Caatinga (7%), Mata Atlântica (1,8%), Pantanal (1,7%) e Pampa (0,1%). Em um ano, proporcionalmente, tiveram maior alta a Caatinga (89%) e o Pampa (92%).
O secretário Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores (PT), Penildon Silva, alerta que o desmatamento da Amazônia atingiu 20% da floresta, até antes do ano de 2021, quando o processo de destruição foi estimulado e apoiado pelo governo de Bolsonaro, seja por discursos, pelo desmantelamento dos órgãos de controle ou por atos do governo e tentativas de aprovação de leis antiambientais.
“Esse desmatamento já provoca mudanças no clima do país como um todo. Todos nós pagamentos uma tarifa de energia mais cara pela deficiência dos reservatórios de água que deveriam propiciar a geração de energia elétrica; há em algumas regiões racionamento de consumo de água para consumo humano e as chuvas tem diminuído, provocando uma diminuição da produção e da produtividade na região da produção agrícola”.
Penildon ressalta ainda que na Amazônia, os efeitos também se fazem sentir, as secas duram mais tempo e as estações chuvosas estão mais curtas. Além disso, há rios que ficam mais rasos e há uma onda de queimadas em algumas regiões. A temperatura na região aumentou cerca de dois graus, enquanto a média de aumento mundial é de 1,07 graus.
“O Brasil tem uma responsabilidade geopolítica de apresentar um modelo de conservação desse bioma sob pena de destruir a maior floresta tropical e a maior sociobiodiversidade do mundo. Com essa destruição será criada uma imensa savana onde hoje é a floresta e as demais regiões do país serão arrastadas para um colapso ambiental, com a falência do agronegócio pela falta de recursos hídricos e com a crise energética, pois a nossa matriz depende da água. Haverá a desertificação do Nordeste. Esse conjunto terá como resultado a fome, as migrações, a violência e a desestruturação econômica. A responsabilidade mundial do Brasil também se afirma, pois se conseguirmos um modelo sustentável e socialmente justo aqui, serviremos de exemplo para as demais regiões do globo afetadas pela indústria do desmatamento, da mineração predatória, da exploração madeireira e do garimpo sem controle”, enfatiza o secretário de Meio Ambiental do PT.
Agropecuária é a grande vilã
O desmatamento é provocado em sua maior porcentagem (96,6%) pela agropecuária, que se tornou a grande vilã da destruição ambiental no Brasil.
As outras perdas de mata verde se devem ao garimpo ilegal, incentivado por Bolsonaro, mineração, expansão urbana e usinas de energias solar e eólica.
O coordenador do MapBiomas destaca que os eventos de maior porte, em mais de 100 hectares cresceram 37,8% em um ano. “Quando se torna maior, é sinal que a impunidade está perdurando, porque a área maior é mais fácil de detectar e fazer uma ação”, diz Azevedo.
Ele afirma que houve desmate irregular em 2,1% das propriedades rurais (134.318 mil).
“Os outros 98% não desmatam irregularmente, mas sofrem consequências do mercado, chuva, aumento de preços da energia (causados pelo dano ambiental)”.
No relatório, consta que do total desmatado, 5,3% estavam em áreas protegidas, 3,6% em unidades de conservação e 1,7% em terras indígenas.
A Área de Proteção Ambiental do Triunfo do Xingu e a Floresta Nacional do Jamanxim, ambas no Pará, são as mais atingidas. Das terras indígenas, 40,5% tiveram ao menos um registro de desmatamento.
Sem fiscalização
O estudo alerta que a maioria dos casos não tem fiscalização nem punição: embargos e autuações federais só em 10,5% da área desmatada, entre 2019 e 2021.
Penildon Silva, secretário Nacional de Meio Ambiente do PT, enfatiza que o Brasil pode estabelecer que não haverá mais desmatamento, garimpo ilegal, ação de madeireiros e grileiros na Amazônia.
“Para isso acontecer é preciso aplicar a lei, fortalecer os órgãos de controle e combater as milícias criminosas que se apropriam e destroem o bioma amazônico, assim como parar a destruição do Cerrado, da Mata Atlântica, do Pantanal, da Caatinga e ter um programa governamental para viabilizar sua recomposição. A bioeconomia e as iniciativas de agroflorestas que produzem com a floresta de pé e os rios fluindo são viáveis para muitas comunidades e podem contribuir para preservar, incluir socialmente e garantir um futuro para a Humanidade”.
PTNacional, com informações do Estadão