Após conversar com agricultores familiares na Cooperoeste, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou com o povo no centro de São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, domingo (25), na quinta etapa de Lula pelo Brasil.
Em meio a ataques fascistas de pessoas que, escondidas nas sombras, tacavam ovos sobre o público e membros da caravana, Lula falou ao povo sobre a construção de um Brasil sem ódio e afirmou que aqueles que o perseguem o fazem porque não querem ver o povo melhorar de vida.
Lula estava acompanhado da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, do líder do MST, João Pedro Stedile, do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), entre outras lideranças nacionais e regionais no ato que sofria ataques de moradores que, do alto dos prédios, lançavam ovos e objetos no público.
“Lamentavelmente, canalha não tem cara. Um canalha sem caráter que está tacando ovo aqui, deveria lembrar que está tacando ovo não em mim, mas no povo de São Miguel do Oeste, em crianças aqui no palanque”, afirmou o ex-presidente sobre os ataques.
“Da mesma forma, esse cidadão na verdade está esperando que a gente fique nervoso, suba lá e dê uma surra nele. A gente não vai fazer isso. Espero que a PM tenha a responsabilidade de entrar naquela casa, pegar esse canalha e dar o corretivo nele que precisa ter para não tacar ovo nas pessoas!”
Líder do PT na Câmara, Pimenta foi à delegacia e registrou um boletim de ocorrência contra os ataques sofridos pelo ônibus na chegada à cidade. Pedras e ovos foram jogados contra os ônibus, carros foram danificados, mas a caravana seguiu seu caminho.
“Eu fui candidato em 1989, perdi as eleições. Eu fui candidato em 1994, perdi as eleições. Fui candidato em 1998, perdi as eleições. Fiz caravana em 1991 pelo Brasil e andei 90 mil quilômetros de barco, de trem e de ônibus e nunca na minha vida vi a cena que vi começar de Bagé”, relembrou o ex-presidente, sobre o início da caravana pelo sul do País.
“A caravana começou em Bagé porque eu queria visitar a Universidade do Pampa, que eu criei. Quando cheguei lá, uma parte desses canalhas colocou tratores para que eu não conseguisse entrar, mas entramos. O Ministério Público fez ameaça ao reitor e ele não ficou para me esperar. Engraçado que quando eu fui anunciar a criação da universidade em 2005, fizemos um ato com 15 mil pessoas e 10 anos depois não pude visitar com tranquilidade.”
“Em toda cidade que a gente foi estavam eles com tratores e caminhões, tentando evitar a nossa chegada. Em São Borja tentamos homenagear Getúlio Vargas, era uma homenagem de protesto, porque destruíram a legislação trabalhista criada pelo Getúlio em 1943. O que eles fizeram acabando com a legislação trabalhista foi a volta do trabalho intermitente, sem jornada, e muita gente nem vai se aposentar mais.”
“Depois fomos visitar Santa Maria e lá estavam eles brigando outra vez. Depois fomos a Cruz Alta, onde quatro meninas ao irem para a casa, depois do ato, pegaram as meninas, bateram nelas. Depois continuamos andando e em cada lugar tinha uma provocação.”
“Em Chapecó, eles tentaram evitar que chegássemos na cidade, ameaçando soltar rojão na pista de pouso. Segundo bloquearam a estrada para a gente não ir. Depois foram para a praça provocar nosso pessoal, colocaram trator e caminhão para evitar nosso povo de ir, mas nosso povo é teimoso, foi para a praça e fizemos um grande ato em Chapecó!”
“Aí me disseram: ‘Vamos em São Miguel do Oeste que lá é terra pacífica’. Eu não sabia que os canalhas são de uma cidade próxima e a fama deles de bandido é histórica. Ninguém nem sabe como compraram as propriedades deles nas cidades onde moram, as fazendas que têm no Mato Grosso e no Acre.”
“Perdemos muitas eleições, meu partido é grande, mas nunca tacamos ovo, porque assim como eles tacam ovo, tem milhões de brasileiros sem um ovo para comer. Essa gente não quer que o Lula volte, essa gente quer dirigir o País, essa gente quer governar o País. Estão há uma semana tacando ovo no ônibus, no palanque. Devem ter tacado umas 50 dúzias de ovos.”
“A caravana não tem objetivo eleitoral porque não sou candidato ainda. O partido tem que fazer convenção, vou ter que esperar processo, mas eu digo que faço a caravana para conhecer o Brasil outra vez. Essa lição aprendi depois da eleição em 1989. Descobri que tinha terminado a campanha e eu não conhecia o Brasil.”
“Em campanha a gente desce em aeroporto, vai para comício, depois volta para o aeroporto. Eu queria conhecer o País, entrar nas casas como entrei na casa do seu Paulo em Nova Erechim, comer cuca e doce de abóbora, visitar o galinheiro dele. Fui conhecer e fiquei descobrindo coisas absurdas”.
“Hoje as cooperativas grandes não pagam para os produtores de leite sequer o custo para produzir o leite. Cadê o governo que não cuida disso. Como deixam o pequeno produtor produzir o leite, acordar 4h da manhã, cuidar dessas vacas, e quando vai vender pagam 90 centavos e a gente compra o litro por 3 reais.”
“Por isso estou indignado, por isso desafio a Polícia federal, o Ministério Público, desafio o Moro, desafio a provar um único crime que cometi, um único crime. Se eles provarem eu peço desculpas a vocês. Mas eu não posso perdoar, andar pelo Brasil e ladrões ficarem me chamando de ladrão.”
“Não posso perdoar o que a imprensa faz comigo porque não tem candidato. Tenham coragem, disputem as eleições, me derrotem na urna e eu fico quieto. Vou ficar quietinho. Como diria o Brizola, vou lamber minhas feridas.”
“Agora estou com muita vontade de ser candidato. Quero ensinar a essa elite perversa como um torneiro mecânico sabe cuidar de seu povo, das mulheres e agricultores, dos que precisam do governo. Sabem que embora eu tenha diploma universitário, vão ter que me engolir.”
“Eu fui o presidente que, com a Dilma, em 12 anos fizemos quatro vezes mais escolas técnicas que eles fizeram em 100 anos. Eles sabem o que fizemos com o Pronaf, o PAA, sabem o que foi o Luz Para Todos, o Água Para Todos, o Ônibus Escolar para levar as crianças do campo para a escola.”
“Hoje, aonde eu chego encontro uma menina ou menino dizendo ‘obrigado, sou sociólogo, advogada, médica, graças ao Prouni’. Não é só o Prouni, quando resolvi investir na educação era para tentar reparar. Como não tive oportunidade de estudar, queria que os filhos dos trabalhadores não tivessem as chances que eu tive e pudessem ser doutor.”
“Os filhos da nossa elite vão para Chicago, Londres, Paris. Nós queremos ter universidade aqui, em cada estado, para que os filho dos humildes possam sentar no mesmo banco com o filho do rico. Queremos apenas a chance de disputar a mesma vaga na universidade.”
“Eles sabem que eu sei como gerar empregos, como aumentar salário. Eles sabem que eu sei como gerar renda. Aprendi responsabilidade fiscal na minha casa com minha mãe. Oito filhos entregavam envelope para ela com o pagamento, ela abria o envelope, colocava o dinheiro em cima da mesa, separava o que era para a padaria, para o empório, para o ônibus, o que era para guardar e se sobrasse tinha dinheiro para sair e se não sobrasse a gente se contentava e trabalhava o mês inteiro outra vez. Ser honesto e cuidar da família não é virtude, é obrigação nossa e do governo.”
Ato cultural – “Vim aqui olhar para cada pessoa. Vocês podem ter certeza de uma coisa: tenho 72 anos de idade, não sou jovem, mas tenho a vontade de um moleque de 30 anos. Quero provar que se eles não sabem governar um País, eu vou ensinar como governa. Eu vou mostrar como se leva comida para a casa do pobre, como a gente aumenta o salário mínimo, e como a gente conquista o otimismo nesse País. Quero o nosso povo sorrindo, feliz, com esperança, sonhando.”
“Esse País é extraordinário e a gente não poder ver ninguém passando fome”, defendeu Lula sob gritos e aplausos.
“Eles acham que o Lula é só o Lula, mas não sabem que o Lula são milhares de homens e mulheres como vocês que aprenderam a andar de cabeça erguida. Podem me prender, mas não tem problema, eu andarei pelas pernas de vocês. Não poderão prender minhas ideias nem meus sonhos. Quando não puder pensar mais pela minha cabeça pensarei pela cabeça de vocês e iremos longe. Quando acharem que não consigo mais falar, eu falarei pela boca de vocês”.
“Quero que eles saibam, não sou problema nesse País, sou a solução. Tenham coragem. Não tenho diploma, não estudei, mas vamos disputar uma eleição, vamos mostrar quem sabe cuidar melhor das mulheres, dos trabalhadores, dos aposentados e dos estudantes”.
“Saio daqui feliz com vocês, mas saio triste por um canalha que fica na escuridão tacando ovos em vocês, com o risco de acertar uma criança. Como diz aqui um poeta, enquanto os cães ladram, a caravana passa. Nós vamos continuar a nossa caravana. Amanhã iremos a Francisco Beltrão, de lá a Foz do Iguaçu, depois vamos até Curitiba. Na próxima quarta-feira, estaremos na Boca Maldita dizendo ao povo do Paraná que gosta de nós e ao que não gosta: estamos aqui.”
“Quero que vocês saibam que saio daqui amanhã de manhã e saio com a grata lembrança de cada um de vocês, da lembrança de cada criança que peguei no colo. Esse País tem que voltar a ser um País que acredita no seu sonho.”
Gleisi – A presidenta do PT afirmou que “esse é um momento muito especial do enfrentamento ao golpe. Lula decidiu fazer essa caravana com o objetivo de conversar e ouvir as pessoas, saber como elas pensam, saber como estão os programas desenvolvidos pelo PT”.
“Lula saiu do governo com mais de 80% de aprovação popular”, lembrou Gleisi. “Nenhum presidente terminou o governo com essa aprovação, e mesmo depois de toda a perseguição, da calúnia que fazem a ele, quando tem uma pesquisa, ele aparece na frente. Ele não precisava sair em uma caravana, correndo o risco de ser atacado.”
“Essa é a quarta caravana que nós fazemos. Essa é uma caravana pacífica e democrática. Por isso que o presidente Lula governou tão bem esse País.”
Nesse momento, de cima de prédios, apoiadores da direita começaram a atirar ovos sobre o público e na direção da senadora, que não se calou e manteve firmeza, enquanto o povo começou a gritar o nome o presidente Lula.
“Quanto mais nos provocam, mais fortes ficamos para enfrentar vocês, e vamos enfrentar, porque temos causa e estamos do lado do povo. Quem está nessa praça luta por governo que distribua renda, um governo que pense na agricultura familiar, não é o governo dos fazendeiros que quer tratar o povo no chicote, por isso que Lula está aqui.”
“A importância da cabeça está onde os pés pisam. Lula é perseguido porque deu voz aos que não tinham. Lula também é vítima de uma perseguição sem igual nesse País, foi condenado por um tribunal de exceção, que condenou a 12 anos e 1 mês, e esse um mês é só para não prescrever a pena. O pior é que ele é condenado sem provas, nunca provaram o benefício para a empresa e nem a posse do apartamento. Condenaram Lula para tirá-lo do jogo eleitoral.”
“Não adianta as milícias armadas que vêm desde o Rio Grande do Sul, que sabemos que não é só de fazendeiros armados, mas também grupos fascistas.”
“Estamos aqui para dizer que temos o melhor presidente da República do nosso lado, não será com ovos nem pedras nem ameaças que vão impedir que a gente avance. Visitamos o Rio Grande do Sul, visitamos Santa Catarina e vamos ao Paraná. Fiquem com seus ovos pois não temos medo”.
Paulo Pimenta – O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta, avisou que “infelizmente essa caravana tem sido marcada por um fato desagradável, um fato grave. Desde Bagé temos sido perseguidos, não por trabalhadores ou agricultores, mas por uma milícia criminosa de bandidos que tenta impedir que Lula possa visitar em paz o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná”.
“Em vários momentos foi colocada em risco a integridade de integrantes da nossa caravana. No trevo de São Miguel ouve uma tentativa de bloqueio da rodovia, um grupo atacou o ônibus, tirou limpador de vidros, outro grupo atirou ovos e um terceiro grupo tacou pedras nos motoristas e poderiam ter provocado grande tragédia”.
“Isso é uma ação fascista e criminosa. Estou chegando agora da delegacia de polícia onde registramos boletim de ocorrência contra esse grupo criminoso. Já está identificado o nome, pai e mãe, e endereço. É só buscar porque os bandidos foram identificados. Isso não é ação política, não é disputa de ideias”.
“Atacar essa caravana de maneira covarde, colocando em risco a vida das pessoas, entre elas um ex-presidente da república, não pode ficar assim. Imaginem se fôssemos nós atacando uma caravana. Cabe à polícia fazer sua parte e responsabilizar os criminosos por esse atentado”.
Pimenta finalizou afirmando que “enquanto a caravana passa, a cachorrada late”.
Lula pelo Brasil – A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos estados do Sul do País, em março, é a quarta etapa de um projeto que deve alcançar todas as regiões do País nos meses seguintes. No segundo semestre de 2017, Lula percorreu todos os estados do Nordeste, o norte de Minas Gerais, o Espírito Santo e o Rio de Janeiro.
O projeto Lula Pelo Brasil é uma iniciativa do PT com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira, no contexto das grandes transformações pelas quais o País passou nos governos do PT e o deliberado desmonte dos programas e políticas públicas de desenvolvimento e inclusão social, que vem sendo operado pelo governo golpista.
Foto: Ricardo Stuckert