Não foram poucos os momentos de emoção que marcaram a caravana de esperança “Lula pelo Nordeste. Durante 20 dias, foram quase cinco mil quilômetros rodados, da Bahia até o Maranhão. A equipe de comunicação da caravana, num ônibus carinhosamente apelidado de “Busão 3”, se desdobrou para cobrir os atos não planejados que os populares improvisavam na beira da estrada. As lentes das câmaras registraram ali o olhar do povo sofrido, do sertanejo, do ribeirinho, do pequeno agricultor, do trabalhador rural – que um dia puderam ser incluídos na agenda, no orçamento do país e que, agora, voltaram a refletir esperança no encontro com Lula, que sintetiza a esperança. Esse brilho no olhar pode ser visto na Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e no Maranhão.
O sucesso da caravana Lula Pelo Nordeste não foi contado em verso e nem em prosa pela grande mídia brasileira, mas o Brasil e o mundo tomaram conhecimento através da mídia alternativa e da imprensa internacional, que deram grandes destaques a esse momento político que marcou o cotidiano do povo nordestino nos últimos dias.
Durante o seu percurso final, a equipe de jornalistas que acompanhou a caravana foi surpreendida pela visita de Lula no “Busão 3” e que, em um bate-papo descontraído, falou entre outros assuntos, sobre o papel da mídia alternativa na divulgação desse feito histórico. “O dado concreto que está ficando cada vez mais claro é que nós não precisamos nos submeter aos caprichos das grandes emissoras de televisão. A gente sobrevive sem elas”, cutucou Lula.
Por BENILDES RODRIGUES
Equipe Caravana – Qual a sua opinião sobre o papel que a mídia alternativa desenvolveu nessa caravana?
Lula – Eu acho que é a primeira experiência viva de uma competição. Eu quando resolvi fazer essa caravana, não tive nenhuma expectativa em relação à grande imprensa, da mesma forma que não tive com a caravana da cidadania em 92/93. Se eu fosse analisar o comportamento da imprensa, não faria essa caravana. Além da força que vocês estão dando à caravana e à seriedade da cobertura, isso fez até que alguns meios de comunicação acompanhassem a caravana. Talvez para falar mal, mas vieram.
Equipe Caravana – E a cobertura internacional?
Lula – Mais uma vez a imprensa estrangeira está dando um banho na imprensa brasileira. A matéria do jornal inglês, The Guardian é muito boa, mostra um pouco da realidade do que está acontecendo. Porque quando você faz uma coisa dessas, a gente quer que as pessoas vejam as coisas positivas, e a gente quer que as pessoas retratem a verdade.
Equipe Caravana – A mídia nativa ignorou esse feito histórico?
Lula – Eu sei que alguns setores da imprensa tentaram negar os atos ocorridos nas cidades ao fazerem fotos tendenciosas, bem antes deles começarem, para mostrar praças vazias. Nada disso me abala porque eu sei qual a relação do povo comigo.
Equipe Caravana – E qual é…?
Lula – Aqui, sobretudo no Nordeste, há um despertar de esperança muito forte. A gente percebe a necessidade que as pessoas têm de terem confiança, de acreditar de novo. E eu passo isso para as pessoas.
Equipe Caravana – A imprensa alternativa contribui com isso?
Lula – Sim. Aí o papel da imprensa alternativa é extremamente importante. Eu acho que cada vez mais a gente tem que mostrar esse tipo de comunicação. Acho que pode ser primário, mas o dado concreto, e que está ficando cada vez mais claro, é que nós não precisamos nos submeter aos caprichos das grandes emissoras de televisão. A gente sobrevive sem elas.
Equipe Caravana – Como o senhor avalia esta caravana, comparada com a caravana anterior, da cidadania?
Lula – Na primeira caravana eu era uma pessoa conhecida, mas não tinha tido a experiência de governar o Brasil. Então, essa caravana de agora fez com que eu me encontrasse com parcela da sociedade que sabe de cor e salteado aquilo que foram as políticas sociais do meu governo.
Equipe Caravana – Nesse caso, há por parte da mídia uma má vontade em relação às transformações que o senhor promoveu no país?
Lula – O que mais me impressiona é a tentativa da grande imprensa de desmontar o legado da passagem do Partido dos Trabalhadores pelo governo. Eles não conseguem. Aonde as pessoas participam dos programas do governo, é impossível a imprensa tentar desmontar, porque as pessoas se beneficiaram de fato.
Equipe Caravana – Quais foram esses programas?
Lula – As pessoas têm na cabeça o valor das políticas de inclusão, a começar pelo Bolsa Família, que é o mais importante e inclusivo dos programas. Depois, tem a questão do emprego, do salário mínimo, o Pronaf, o Luz para Todos – todos são programas que tocaram muito fundo a vida e a alma das pessoas. Então, não há Globo da vida que consiga desmontar isso.
Equipe Caravana – Nesta segunda caravana o senhor sentiu o desalento da sociedade com a perda das conquistas provocadas pelo governo ilegítimo de Temer?
Lula – Houve conquistas na sociedade no campo socioeconômico e eles estão sentindo, agora, que estão perdendo aquilo que foi o acúmulo de conquista. Eles começaram a perder com a diminuição de recursos para o Bolsa Família, para o crédito estudantil, para a educação e para os programas sociais. Essa é outra coisa que notei muito forte.
Equipe Caravana – O povo deposita no senhor a esperança de mudança…
Lula – Eu fico lisonjeado com a expectativa que as pessoas têm que a gente possa resolver a crise brasileira. Olha, eu estou convencido que a gente pode resolver a crise. Eu acho que a crise que estamos vivendo no Brasil, primeiro, é uma crise de compromisso – as pessoas que estão exercendo mandato não têm compromisso com o povo. Outra questão é de credibilidade. O Brasil tem um presidente que não tem legitimidade para falar com a sociedade.
Equipe Caravana – O povo brasileiro está tendo tratamento diferenciado nesse governo?
Lula – Eles continuam agindo como se o povo não fosse povo, é como fosse gado – sem sentimento, sem necessidade. Eu tenho em mente que o povo é a solução do problema brasileiro.
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