À medida que se aproxima da conclusão de assuntos referentes à atuação do governo federal na pandemia, a CPI da Covid retoma os trabalhos nesta semana com novos eixos de investigação. “A decisão que foi tomada foi na linha de ir fechando os temas, inclusive aqueles da parte de negacionismo, de enfrentamento à pandemia e concluir a questão das vacinas”, declarou o senador Humberto Costa (PT-PE) à Folha de S. Paulo, nesta segunda-feira (2). Entre os temas, a atuação negacionista do “gabinete paralelo” e a promoção de remédios ineficazes contra a Covid-19, a exemplo da cloroquina.
Já as novas frentes incluem hospitais federais do Rio de Janeiro e contratos do Ministério da Saúde com a empresa de logística VTCLog. Antes de avançar, no entanto, a CPI deve amarrar os fios soltos em relação às suspeitas de um esquema de corrupção na compra, pelo Ministério da Saúde, das vacinas Covaxin e AstraZeneca. As operações envolvem as empresas intermediárias Precisa Medicamentos e Davati Medical Supply.
Nesta terça-feira (3), o foco será o depoimento do reverendo Amilton Gomes de Paula, autorizado pelo governo Bolsonaro a negociar a compra 400 milhões de vacinas da empresa Davati. O reverendo, conhecido por suas estreitas relações com a família Bolsonaro, intermediou as reuniões entre os representantes da Davati Luiz Paulo Dominguetti e Cristiano Carvalho e técnicos da Saúde.
Na quarta-feira (4), a oitiva será com o ex-assessor do Ministério da Saúde, coronel Marcelo Blanco, subordinado de Roberto Dias, ex-coordenador de Logística da pasta. Os dois estavam no famoso happy hour em um shopping de Brasília, onde Dominguetti teria recebido um pedido para pagar propina de U$ 1 dólar por cada vacina vendida ao governo.
Na quinta (5), o empresário Airton Cascavel poderá prestar depoimento à CPI, que deve confirmar a oitiva na noite desta segunda-feira. Cascavel também foi assessor da Saúde na gestão de Eduardo Pazuello e participou das negociações para a compra de vacinas, mesmo antes de assumir um cargo no governo.
Novas frentes de investigação
Sobre os hospitais federais na capital carioca, Humberto Costa coordenará o núcleo que irá investigar casos de corrupção no estado, após denúncias feitas pelo pelo ex-governador Wilson Witzel à comissão.
A CPI recebeu um conjunto de documentos enviado por hospitais do estado. Com base na análise dos papeis, Costa deverá convocar como investigados os seguintes nomes: o ex-superintendente do Ministério da Saúde no Rio, Marcelo Lambert; o servidor Joabe Antônio Oliveira, coordenador administrativo do Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá; o ex-superintendente George Divério, antecessor de Lambert na função; e Cristiane Jourgan, ex-diretora do Hospital Geral de Bonsucesso.
“Há um claro espelhamento do modelo de corrupção que tomou conta da estrutura estadual do Rio de Janeiro sobre os hospitais federais. As suspeitas são muitas e fortes, e já as compartilhamos com o TCU, a Polícia Federal e a Receita Federal”, confirmou Humberto Costa ao Poder 360.
Pelo outro eixo de investigação, a CPI aprovou requerimento para convocar a presidente da VTCLog, Andreia Lima. A empresa ampliou contratos milionários com o Ministério da Saúde durante a pandemia. Um deles chama a atenção pois permitiu que o Ministério da Saúde aprovasse um pagamento por medicamentos em um valor 1.800% mais caro do que o recomendado pela área técnica da pasta. Ao invés de R$ 1 milhão proposto pelo parecer técnico, o pagamento autorizado por Roberto Dias custou R$ 18 milhões aos cofres públicos.
Redação da Agência PT, com informações de Folha, CNN e Poder 360