Após passar mais de dois anos estimulando as queimadas na Amazônia, demitindo cientistas por divulgar dados de desmatamento e mantendo à frente do Ministério do Meio Ambiente um defensor de madeira extraída ilegalmente, Jair Bolsonaro tentou, nesta quinta-feira (22), convencer o mundo de que se preocupa com a preservação dos biomas nacionais.
Ao falar na Cúpula do Clima chamada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, Bolsonaro praticamente prometeu se tornar uma nova pessoa. Assumiu o compromisso, por exemplo, de eliminar o desmatamento ilegal até 2030. Mas, como bem lembraram o presidente Lula e a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, em artigo, o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia registrou, no mês passado, novo recorde no desmatamento, de 216% a mais em relação a março de 2020.
Novamente, Bolsonaro mente a todas as nações do mundo na Cúpula do Clima.
Pintou um Brasil que não existe e fingiu preocupar-se com nossos recursos naturais.
Sabemos o que tem por trás de sua máscara: apenas mentiras, boiada e mortes.
— Alexandre Padilha (@padilhando) April 22, 2021
Bolsonaro também defendeu a ajuda financeira por parte de países mais ricos para que nações como o Brasil possam preservar seus recursos naturais. Espera que se esqueçam de quando esnobou esse tipo de auxílio, após Alemanha e Noruega suspenderem o repasse de quase R$ 190 milhões para o Fundo Amazônia, em 2019, justamente em razão do forte desmatamento que seu governo promoveu.
Líderes mundiais estarrecidos. Há pouco, na Cúpula do Clima, Bolsonaro disse que “o Brasil está na vanguarda do combate ao aquecimento global”. Ora, mas até ontem, quem falava pelo Brasil no exterior era Ernesto Araújo, o cara que disse "eu não acredito em aquecimento global".
— Bohn Gass (@BohnGass) April 22, 2021
Meta de 2015
Sem Donald Trump para dar guarida à sua sanha destruidora, Bolsonaro apelou a medidas adotadas pelo Brasil durante os governos Lula e Dilma. Para posar de comprometido com o meio ambiente, afirmou o compromisso de de cortar emissões de gás carbônico em 37% até 2025 e em 43% até 2030.
Esse compromisso foi estabelecido pela presidenta Dilma Rousseff em 2015, na Cúpula do Clima de Paris. Na época, o mundo não tinha dúvidas de que o Brasil o cumpriria. Porém, após o golpe de 2016, a capacidade do país de entregar o que prometeu passou a ser questionada.
Por fim, tentando, talvez, mostrar certa originalidade, Bolsonaro prometeu que o Brasil alcançará a neutralidade climática em 2050, e não mais em 2060, como o país havia sinalizado anteriormente. Como ressalta a Folha de S. Paulo, no entanto, o governo Joe Biden recebeu a notícia com desconfiança. “A Casa Branca esperava mais. Queria um cronograma mais específico para o combate aos desmates, que mostrasse possibilidade de resultados ainda neste ano, e um plano mais ambicioso para o corte das emissões de poluentes”, informa a repórter Marina Dias.
Ou seja, Bolsonaro prometeu algo para daqui a três décadas, quando certamente não estará mais no governo, e nada disse sobre o que fará agora, que é o que lhe caberia fazer. Não por acaso, foi um dos últimos líderes a falar e discursou para ninguém, com Biden saindo da sala na hora do pronunciamento do brasileiro.
Decepcionante. Enquanto outros países se comprometem com avanços na área ambiental, o presidente apresenta discurso sem conteúdo e compromisso com o #MeioAmbiente. Fala de ações que não são do seu governo e nega o desmatamento recorde que estamos tendo. #CúpulaDoClima https://t.co/8v6OEpWRCk
— Jaques Wagner (@jaqueswagner) April 22, 2021
PTNacional, com informações de G1, Folha de S. Paulo, Correio Braziliense e Brasil 247.