O cerco se fecha ao governo Bolsonaro. A sessão da CPI da Covid que ouviu o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten, nesta quarta-feira (12), demonstrou, mais uma vez, o negacionismo e a negligência de Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19 no país. Aos senadores, Wajngarten mentiu e se contradisse diversas vezes sobre sua atuação à frente da Secom. À maneira do ministro da Saúde Marcelo Queiroga, Wajngarten tentou blindar Jair Bolsonaro mas acabou por expor a sabotagem do ocupante do Planalto no combate à pandemia. Em flagrante delito, Wajngarten foi ameaçado de prisão.
“Esse é o primeiro caso de alguém que vem à Comissão Parlamentar de Inquérito e, em desprestígio da verdade, do Congresso e da representação política, mente”, bradou o relator da CPI, senador Renan Calheiros. “O presidente pode até decidir diferentemente, mas eu vou, diante do flagrante evidente, pedir a prisão de Vossa Senhoria”, disse Calheiros. “O espetáculo de mentiras que vimos aqui é algo que não vai se repetir”, alertou o senador. O presidente da CPI, Omar Aziz, no entanto, se negou a dar ordem de prisão ao bolsonarista.
Diante do impasse sobre a prisão do ex-secretário, o senador Humberto Costa (PT-PE) solicitou à Presidência da comissão que encaminhe cópia do depoimento de Wajngarten ao Ministério Público do DF para que “possa apurar as mentiras, as contradições [da testemunha] e que isso possa resultar em um processo”.
A primeira contradição do ex-chefe da Secom diz respeito à aquisição da vacina Pfizer. Wajngarten confirmou que uma carta da empresa fabricante ao governo, enviada no dia 12 de setembro, foi ignorada por pelo menos dois meses. Motivo pelo qual decidiu intervir para acelerar a chegada da vacina ao país, em novembro.
Apesar de ter atuado diretamente junto ao CEO da empresa no país, algo fora de suas atribuições como secretário de Comunicação, Wajngarten negou que tenha agido em nome do governo ou por ordem de Bolsonaro. Ele também negou que tenha dito à revista Veja que o Ministério da Saúde ou o ex-ministro Pazuello foi incompetente na aquisição da vacina. Ainda durante a audiência, entretanto, ele foi desmentido pelo site da revista, que divulgou o áudio da entrevista, na qual ele afirma que o time de Pazuello era “pequeno, tímido e sem experiência”.
“O Brasil não pode parar”
O ex-chefe da comunicação do governo também mentiu ao falar das campanhas da Secom para a conscientização da população sobre medidas de prevenção à Covid-19. Wajngarten acabou exposto pelo relator e pelos senadores Humberto Costa (PT-PE) e Rogério Carvalho (PT-SE) por campanhas patrocinadas pela Secretaria com o intuito de promover desinformação, aos moldes da peça “O Brasil não pode parar”.
O vídeo, veiculado em março de 2020, reafirmava o discurso de Bolsonaro de que era preciso mover a economia e, para isso, era necessário acabar com medidas como o distanciamento social. O vídeo também apontava que as maiores vítimas fatais da pandemia eram idosos, os únicos que precisavam ser isolados.
Sobre a peça bolsonarista, cuja veiculação chegou a ser proibida pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso, primeiramente Wajngarten negou que fosse de autoria da Secom. Depois disse que não se recordava.
Pego na mentira
“Essa campanha tem autoria, ninguém faria uma campanha dessa sem que o presidente da República tivesse conhecimento”, reforçou Humberto Costa, ao que Wajngarten retrucou que estava cumprindo quarentena na época da veiculação, em março de 2020. Assim, não teria conhecimento de campanhas como “O Brasil não pode parar”.
“Mentiu de novo. Vossa Excelência estava em uma live com Eduardo Bolsonaro”, revelou Rogério Carvalho. Em seguida, o senador exibiu o vídeo, o onde o ex-secretário diz que era a prova viva de que “mesmo testado positivo, a vida segue, estou trabalhando normal, tenho feito calls com ministros, Secom, tenho aprovado campanha…”
Agente de desinformação
“O senhor Fábio Wajngarten também contribuiu com a estratégia do presidente de promover a pandemia no Brasil”, definiu Rogério Carvalho. “O senhor nunca fez campanha de prevenção da Covid”, acusou. Ao contrário, frisou o petista.
O senador apresentou uma série de propagandas da Secom em 2020, que iam desde a promoção de cloroquina e do tratamento precoce até campanhas anti-vacina que garantiam que a aplicação de imunizantes contra a Covid-19 não seria obrigatória para a população.
Segundo Carvalho, a afirmação do ex-secretário de que em março de 2020 não havia informações sobre uso da cloroquina é falsa. Ele apresentou uma linha do tempo, com reportagem veiculada na imprensa, no inicio de março, e comunicado da Anvisa informando sobre a ineficácia da droga contra a doença.
Da Agência PT de Notícias