De braços dados para simbolizar a união das mulheres contra a reforma da Previdência (PEC 287/16), senadoras, deputadas e militantes sociais desceram a rampa do Congresso Nacional no final da tarde desta quarta-feira (8), para se encontrarem com a Marcha de Mulheres do DF. Eram mais de cinco mil manifestantes contra o desmonte da Previdência e por reivindicações históricas por igualdade. “A nossa luta por igualdade é bem maior do que tempo e idade”, foi um dos refrãos mais cantados, em referência à proposta do governo golpista de Temer, que retira das mulheres o direito constitucional de se aposentarem cinco anos antes dos homens.
Esse direito foi assegurado por causa da dupla ou tripla jornada que a mulher enfrenta diariamente. A diferenciação também levou em conta o fato da mulher receber em média 27% a menos do que os homens e trabalharem cerca de 8 horas semanais a mais que eles.
O discurso impróprio feito pelo presidente golpista de Michel Temer hoje, em homenagem à mulher, também foi respondido na manifestação com palavras de ordem repetidas exaustivamente: “Lugar de mulher é onde ela quiser”. Temer não escondeu o seu machismo ao naturalizar deveres comumente atribuídos às mulheres na sociedade. A participação do público feminino no campo econômico, por exemplo, foi restrita às compras de supermercado. “Ninguém é mais capaz de indicar os desajustes de preço no supermercado do que a mulher. Ninguém é capaz de melhor detectar as flutuações econômicas do que a mulher, pelo orçamento doméstico”, disse Temer.
Para as manifestantes, o presidente ilegítimo no seu discurso equivocado desconsiderou, por exemplo, o fato de o Brasil ter sido governado por uma mulher. A presidenta eleita Dilma Rousseff, que foi retirada do poder por um golpe no qual Temer teve participação.
Centralidade – As manifestações neste 8 de março – Dia Internacional da Mulher – foram diferentes do que acontece tradicionalmente no Brasil. As trabalhadoras urbanas e rurais decidiram não centralizar os atos em Brasília. A perversidade da reforma proposta pelo governo Temer levou milhares de mulheres para as ruas das principais cidades brasileiras. O objetivo foi alertar a população sobre as intenções da reforma que levará os brasileiros a trabalhar mais e a se aposentar ganhando menos.
Além da luta contra as reformas da Previdência e Trabalhista, as manifestantes também cobraram o fim da violência contra as mulheres e contra o feminicídio. O ato deste 8 de março foi o começo da mobilização para a greve geral convocada para o dia 15 de março. Parlamentares e militantes deixaram claro que vai haver resistência.
Na tribuna – O discurso de resistência à retirada de direitos e contra a reforma da Previdência ecoou também no plenário da Câmara. A deputada Luizianne Lins (PT-CE) destacou a importância da luta contra o desmonte da Previdência. “Nós estamos diante de uma reforma que golpeia de forma dura direitos conquistados pelas mulheres ao longo de muitas lutas. O governo golpista de Temer quer destruir o nosso futuro quando não consegue compreender, ou melhor, consegue, sim, na verdade, quer tirar à força o direito das mulheres, que já têm uma tripla jornada de trabalho, que trabalham em média mais do que os homens”, criticou, citando dados do Ipea que demonstram que as mulheres têm uma jornada de trabalho de 53,6 horas, contra 46,1 horas dos homens.
Luizianne lamentou ainda o fato de a mulher trabalhar mais e ganhar menos. “Mesmo assim, a sanha deste governo ilegítimo, que chegou ao poder por um golpe, é de acabar com os nossos direitos através da reforma Trabalhista e da reforma da Previdência”, afirmou. A deputada conclamou ainda as mulheres a permanecerem nas ruas para derrotar as reformas de Temer.
Vânia Rodrigues
Foto: Alessandro Dantas/PT no Senado