Em artigo, a deputada Margarida Salomão (PT-MG) analisa o papel das mulheres no governo golpista de Michel Temer (PMDB-SP), relegadas que foram “ao segundo escalão”.
Leia a íntegra:
“As Mulheres na Linha de frente da resistência ao golpe
Neste governo interino e ilegítimo, as mulheres foram relegadas ao segundo escalão – e olhe lá! Isso não significa apenas a exclusão das mulheres dos processos de decisão, mas a retomada de um discurso de subalternidade que deveria estar superado na sociedade brasileira, apesar das grandes desigualdades de gênero, principalmente nos espaços de poder e na representação política.
Apesar da forte e imediata reação feminina criticando a foto da nova composição do governo, remetendo, inclusive, ao período militar, houve algumas tentativas de justificar o injustificável. Daí, assistimos uma enxurrada machista que revela o inconsciente patriarcal e messiânico adotado por fãs de políticos fascistas, juízes voluntaristas, da própria equipe do governo e, ainda, de jornalistas. Um veículo defendeu, inclusive, que o espaço da mulher brasileira estaria bem representado pela primeira-dama que é bela, recatada e do lar. Uma afronta a toda luta feminina!
Pudera, a nossa primeira presidenta, sem cometer crime algum, é vítima de um golpe político e machista. Todo o desgaste da sua imagem foi feito no fortalecimento de estereótipos e fomento à misoginia. De durona à louca, várias adjetivações foram utilizadas, incluindo as de baixo calão, para desqualificá-la. Enquanto os velhos homens de sempre conspiravam para se manter no poder com suas velhas práticas, corruptas e clientelistas.
São as mulheres que estão na linha de frente da resistência a esse desgoverno. Elas estão nas ruas, são protagonistas em vários movimentos: negras, indígenas, do campo, das periferias, da cidade, da cultura, das marchas… Avançamos demais para voltar atrás e, nessa perspectiva, nem mesmo as conservadoras podem tolerar voltar para o segundo escalão: a mulher por trás do homem.
Não chegamos até aqui para ficar atrás. Temer mostrou todo o seu pensamento retrógrado ao ignorar a representação feminina no primeiro escalão e, ainda, acabar com o MinC. Levou vários “nãos” ao tentar consertar a estupidez, entregando a secretaria de cultura a uma mulher. Teve que voltar atrás e vai manter o ministério, além de explicar repetidamente que as mulheres integram seu governo, da mesma forma que tenta demonstrar que o impeachment não foi um golpe. Nós, mulheres, continuamos a ocupar e resistir, denunciando o golpe na democracia,na presidenta honesta e eleita legitimamente e, principalmente, lutando por direitos.
Avante na resistência. Golpistas, machistas, não passarão!
(AP)