Um ato cheio simbologia e emoção marcou na tarde desta segunda-feira (6), em Brasília, o encontro de integrantes da Caravana do Semiárido contra a Fome com os seis militantes de movimentos sociais que estão sem comer há sete dias pela libertação de Lula. “Os sonhos que vocês carregam e expressam na caravana também são os nossos. Somos parte de um mesmo povo que não desiste, que luta e resiste”, afirmou Rafaela Alves, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e uma das grevistas.
Ela destacou a resistência do povo do semiárido, que em sua concepção tem uma tarefa maior nessa luta, porque são os primeiros a sofrerem com a seca e com a fome. “O nosso ato extremo é exatamente para que outros milhões de brasileiros não passem fome. As estatísticas já mostram que o Brasil está retornando para o Mapa da fome, então, não nos resta outro caminho que não seja a luta por uma Nação justa e soberana”, completou, fazendo referência ao fato de a greve ser também contra o caos social do País pós-golpe.
O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Lula Pimenta (RS), participou da atividade, levando mais uma vez apoio e solidariedade aos grevistas. Ele destacou a importância da Caravana do Semiárido, que está percorrendo o Brasil para chamar a atenção da sociedade para os retrocessos que estão sendo implementados pelo governo golpista e ilegítimo que persegue a soberania nacional e que tira direito dos trabalhadores.
Sobre a greve de fome, Pimenta disse que é um ato extremo “necessário para denunciar o Estado de exceção e para mostrar ao Brasil e ao mundo que Lula é um preso político”. O líder reforçou que Lula, que será candidato à presidente pelo PT, só está preso por causa do seu legado. “Está preso por tudo o que ele representa, especialmente para o povo pobre, para o povo trabalhador, para os pequenos agricultores. Foi Lula quem deu dignidade a essa gente que hoje se levanta em sua defesa e que vai às últimas consequências, colocando a própria vida em risco em defesa da democracia, do Lula e do Brasil”, afirmou.
Doença social – Bruno Pilon, também do MPA, lembrou que há cada quatro minutos morre uma criança de fome no Brasil. “A fome é uma doença social que castiga, que mata. E o que une a greve e a caravana não é fome, mas a nossa capacidade de resistir a ela. Aprendemos a resistir e a lutar. Esses seis militantes que estão em greve de fome – que hoje ganhou mais uma adesão, o militante Leonardo Soares, do Levante Brasil Popular – é a síntese da nossa luta, de quem se organiza e resiste. E, se a caravana fez esse sacrifício, é porque acredita que podemos mudar, acredita e defende a libertação de Lula”, afirmou.
Emocionado, Alexandre Henrique Bezerra Pires, da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), falou pela caravana e citou números alarmantes da fome no País depois do golpe que retirou do poder a presidenta eleita, Dilma Rousseff. “São quase dois milhões de brasileiros que estão em situação de miséria, passando fome por causa dos cortes dos programas sociais”, lamentou.
Alexandre disse que a caravana, que já percorrer mais de 4 mil quilômetros em estados do Nordeste, do Sudeste e do Sul do Brasil, constatou por onde passou a volta da fome. “Infelizmente estamos testemunhando o empobrecimento do nosso povo. Essa política econômica do governo Temer tem devastado a dignidade do nosso povo”, protestou.
Privação e luta – O militante do Movimento dos Sem Terra Jaime Amorim, que está sem se alimentar desde a última terça-feira (31), lembrou que o ato extremo foi uma opção pessoal e reforçou que os brasileiros já entenderam que o golpe é contra o povo. “Temos muita clareza da nossa tarefa, e a nossa greve de fome não é para fazer teatro. Vamos até as últimas consequências. Sabemos o valor da vida, mas estamos correndo para salvar a vida de milhões de brasileiros. Nesse momento, o País tem 12 milhões de miseráveis, que não conseguem se alimentar e quase 40 milhões de pessoas estão desempregadas. Por isso, queremos acabar com a perseguição a Lula, queremos ele de volta à Presidência do Brasil”, afirmou.
Jaime Amorim disse ainda quais são as razões de o povo do Nordeste querer Lula de volta. “Antes dos governos de Lula, éramos tratados como um povo sem valor, tentaram desconstruir a nossa identidade. E com Lula foi diferente, ele nos valorizou, implantou políticas sociais, criou programa de créditos para os pequenos agricultores, criou o Luz e Água para todos, facilitou o acesso à educação, saúde e habitação”, argumentou.
Além de Rafaela Alves e Jaime Amorim, estão em greve de fome Vilmar Pacífico e Zonália Santos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST); Frei Sérgio Görgen, do Movimento dos Pequenos Agricultores; e Luiz Gonzaga (Gegê), da Central de Movimentos Populares (CMP).
Vânia Rodrigues