Mobilização popular será contraponto fundamental a Congresso conservador

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Foto: Gustavo Bezerra
 
Em balanço sobre o recente momento político, o líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), fala sobre reforma política, conquistas de 2014, eleições, manifestações e risco de retrocessos. Ele também faz um alerta: “Como o Congresso ficará mais conservador, é preciso ter o povo mais mobilizado”.
 
Acerca do acirramento de opiniões tão evidenciado nos últimos meses, o líder petista diz identificar “um ódio acumulado e incompreensível que a elite, por meio dos veículos de comunicação, tenta estimular cada vez mais”. Porém, Vicentinho não se considera surpreso com esse fato: “a grande mídia sempre nos atacou e nós sempre ganhamos como recentemente ocorreu”.
 
A saída, segundo Vicentinho, é investir na formação da juventude, na organização por local de trabalho, de moradia e por segmentos sociais. Acompanhe a seguir a entrevista. 
 
 
No dia dois de janeiro de 2014, a Liderança do PT na Câmara publicou em seu Facebook: “O PT apoia a proposta de plebiscito popular – Reforma Política já!”. Em 2014, a sociedade incorporou a importância desse debate?
 A reforma política ganhou peso quando a própria presidenta Dilma propôs a ideia do plebiscito. O PMDB propôs um referendo. Ficamos nessa divergência. Agora observe que as manifestações de junho (2013) não trouxeram consequências positivas para o Parlamento. Foram eleitos muito mais conservadores, trabalhadores trocados por empresários, trabalhadores rurais trocados por grandes fazendeiros e assim por diante. Mesmo assim, esse movimento nos alertou para a necessidade de uma reforma política. O que ficou claro é que, no Congresso, com essa composição que se encerra, foi impossível realizar uma reforma.
 
 E para a próxima legislatura?
 Tudo indica que será pior. A não ser que o povo pressione, vá para as ruas, venha para o Parlamento. Como o Congresso ficará mais conservador é preciso ter o povo mais mobilizado. As organizações da sociedade civil cumprirão um papel primordial nesse processo. O Supremo Tribunal Federal praticamente já definiu sobre o fim do financiamento privado em campanhas eleitorais, e o ministro tucano Gilmar Mendes pediu vistas e não devolve o processo. Esse é um exemplo das dificuldades de uma reforma política que só acontecerá para o bem do Brasil com a participação do povo. 
 
 
Mesmo em ano eleitoral e de Copa do Mundo no Brasil, o Congresso aprovou medidas importantes, como o Marco Civil da Internet, Novo Código Civil, o PNE e o sistema de Cotas. Na avaliação do senhor, a Bancada do PT foi vitoriosa nesses temas? 
Sim. A nossa bancada sempre foi muito coesa. Se existe uma bancada que atua por ideologia, que atua unida, essa bancada é a nossa. Por isso, votar a PEC do Trabalho Escravo, votar direitos das domésticas, o marco civil da internet e projetos que propiciam a participação popular e estimulam a distribuição de renda com prioridade para a educação só foi possível graças ao protagonismo da Bancada do PT.
 
O que ficou faltando?  
As 40 horas semanais. Eu particularmente lutei muito para votar. O tema foi debatido em Comissão Geral, mas não conseguimos avançar. 
 
Mas a bancada também conseguiu evitar retrocessos em temas importantes…  
Sim. Com muita garra, a bancada sempre esteve muito vigilante para impedir, por exemplo, a aprovação do projeto de lei 4330/04, do deputado Sandro Mabel (PMDB), que legaliza a precarização das relações de trabalho. E também continuamos na luta para impedir a aprovação da PEC 215/00, que é uma ameaça à vida da comunidade indígena. 
 
Na opinião do senhor, o que levou muitos brasileiros a acirrem nos últimos tempos o debate de ideias e a manifestarem posturas de ódio e preconceito?
Eu acho que a elite não engole as duas eleições de Lula e as duas eleições de Dilma. Existe sim um preconceito de classe estimulado por essa elite. Vou dar um exemplo, em abril, eu vinha de São Paulo para Brasília, o aeroporto estava bonito, com grande movimentação e ao meu lado uma senhora nervosa que dizia: “isso aqui mais parece uma rodoviária”. Por trás dessa frase, percebi um preconceito, mas permaneci calado. Em seguida, ela falou: “já pensou quando chegar a Copa?”. Mesmo já sabendo que a Copa seria o sucesso que foi, permaneci calado. Daí ela disse: “tudo culpa da Dilma”. Só então eu falei: “a senhora está certa, é tudo culpa do Lula e da Dilma, não fossem eles só gente rica andaria de avião”. Aproveitei para lembrá-la que graças ao Lula e à Dilma o País hoje está em outro patamar, o povo tem maior poder de compra, tem mais emprego e mais oportunidade de educação, moradia, política agrária, políticas que tiveram como consequência mais de 30 milhões de brasileiros fora da miséria. Então, existe um sentimento na sociedade de inveja, de preconceito de classe, porque não se aceita que o povo pobre tenha ascensão, que o povo negro tenha igualdade de oportunidades. Mas, graças a Deus, a maioria do povo não pensa assim, a maioria do povo tem um sentimento solidário e a maioria do povo reelegeu a Dilma para continuar as mudanças de que o Brasil precisa. 
 
Em abril do ano passado, as bancadas do PT na Câmara e no Senado apresentaram proposta para investigar ao mesmo tempo denuncias envolvendo a Petrobras, o escândalo do Metrô de São Paulo e a construção do porto de Suape em Pernambuco. O que aconteceu? A indignação ficou seletiva com o processo eleitoral? 
Eu não diria indignação seletiva. O que existe é um ódio acumulado e incompreensível que a elite, por meio dos veículos de comunicação, tenta estimular cada vez mais. Tanto é que aconteceu o chamado mensalão tucano em Minas Gerais, antes da ação penal 470, e esse escândalo não foi julgado até hoje e pouco foi noticiado. Aconteceu o caso gritante de um helicóptero carregado com 450 quilos de pasta de cocaína pertencente a um político famoso alinhado com o PSDB de Aécio e ninguém falou nada. Fosse um petista com 50 gramas de maconha imagine as manchetes que seriam produzidas. Veja que mesmo no caso da Petrobras que nós queremos a apuração rigorosa, os nomes do PSDB e de outros partidos são escondidos. Os grandes jornais não falam, não citam e não informam corretamente. Observe o que aconteceu com o caso do metrô paulista. Um vexame. A Siemens denunciou na Alemanha a corrupção, e a mídia brasileira faz que não viu, e em alguns casos ainda trata os suspeitos do PSDB como vítimas. Então, existe uma ação seletiva e organizada que trabalha todo o tempo para desqualificar o PT.
 
Qual o balanço geral que o senhor faz do resultado eleitoral e quais as principais lições que as urnas trouxeram em 2014?
Não devemos fechar os olhos para os recados dados pelo povo. A grande mídia sempre nos atacou e nós sempre ganhamos como recentemente ocorreu. No entanto, é preciso repensar a relação do partido com a população. Em minha opinião, é preciso investir na formação da juventude, investir na organização por local de trabalho, de moradia, por segmentos sociais. São condições fundamentais para estarmos junto com o povo, fortalecendo suas ações e fazer com que o grito do povo seja ouvido no Parlamento, no Poder Executivo e no Judiciário.

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