Como sonhos não se prendem, os de Lula estão soltos por aí. Impedido de caminhar livremente por força de uma prisão injusta, suas pernas estão mais ativas que nunca percorrendo o Brasil e o mundo. Confinado numa sala, seu coração bate no peito de uma multidão incontável de gente aqui fora. Como ele mesmo profetizou, quem imaginava detê-lo na prisão percebeu nos últimos 30 dias que ele é, de fato, uma ideia. E ela continua a fervilhar na cabeça de milhões e milhões de Lulas.
O recado dado pelo ex-presidente horas antes de decidir cumprir a prisão ilegal decretada por Sérgio Moro revelou ser o combustível que alimenta a resistência incessante neste período de prisão política. De frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), Lula disse há pouco mais de um mês que iria andar, pensar, sonhar e agir por meio de cada um que partilha dos seus ideais. É o que tem ocorrido.
São manifestantes que chegam a Curitiba – o foco da resistência #LulaLivre – vindas de vários lugares. Mais de 500 ônibus já levaram pessoas para prestar apoio a Lula em frente à Polícia Federal. Um livro para registrar a presença de quem chega à vigília foi aberto há duas semanas e já registra o nome de mais de 3 mil pessoas, entre brasileiros, argentinos, mexicanos, equatorianos, colombianos, italianos, franceses, ingleses, americanos, noruegueses e guatemalenses, entre outras nacionalidades.
Outra demonstração de força foi a comemoração do Dia do Trabalhador, na capital paranaense, que sintetizou o vigor dessa luta. Pela primeira vez, depois da redemocratização, as principais centrais sindicais do País se uniram num 1º de Maio para repudiar a prisão de Lula e os ataques aos direitos trabalhistas. A estimativa é que nessa mobilização específica a vigília recebeu 250 ônibus, e Curitiba acolheu um total de 50 mil pessoas.
Em 30 dias, a lista de manifestações pró-Lula só aumentou. São personalidades nacionais e internacionais, reconhecidas por seus legados artístico, político e acadêmico. Na lista de apoiadores do campo político, figuram nomes de ex-presidentes de vários países, como Cristina Kirchner (Argentina), Michelle Bachelet (Chile), Pepe Mujica (Uruguai); e de presidentes, como Evo Morales (Bolívia), Nicolás Maduro (Venezuela) e Rafael Correia (Equador).
Personalidades do mundo artístico também já deixaram público o apoio da classe à liberdade de Lula e ao fortalecimento da democracia. Centenas de cineastas, atores, produtores e roteiristas assinaram o manifesto “A Democracia Corrompida”. Entre eles, os atores Antônio Fragoso, Cristina Pereira, Débora Duboc, Letícia Sabatella, Chico Diaz, Silvia Buarque e Marieta Severo; o diretor de teatro Aderbal Freire Filho; e os cineastas Lúcia Murat, Rosemberg Cariry, Ruy Guerra e Walter Lima Jr.
Em várias tribunas de parlamentos em todo o mundo, a mobilização pró-Lula também ganhou espaço, com representantes de várias correntes políticas fazendo contundentes protestos. Aqui no Brasil, sete partidos (PT, PDT, PSB, PCdoB, PSol, PCB e PCO) e movimentos sociais se uniram e lançaram no Parlamento uma frente ampla em defesa das liberdades democráticas, dos direitos políticos e de eleições livres.
Por tudo isso, Lula mostrou, em apenas 30 dias, que mesmo preso está livre. Não por acaso, ele disse acertadamente há um mês: “O meu coração baterá pelo coração de vocês. E são milhões de corações”.
Foto: Ricardo Stuckert
Tarciano Ricarto
