Organizado pelo deputado José Mentor (PT-SP), o livro “Coragem: A advocacia criminal nos anos de chumbo” foi lançado na Câmara, nesta quarta-feira (2), em cerimônia que também serviu de homenagem a advogados e advogadas que defenderam presos políticos durante a ditadura encerrada em 1985.
A obra registra testemunhos de 161 profissionais da advocacia que ousaram “peitar” os governos de exceção e trabalharam “com um alfinete na boca do leão”, segundo Mentor, para defender “aqueles que estavam sendo torturados e que foram privados da sua liberdade”. O parlamentar petista já havia organizado sessões solenes – quando foi vereador de São Paulo (SP) em 1998 e já como deputado federal em 2003 – para reconhecer a contribuição dos profissionais da advocacia que defenderam vítimas da repressão.
O lançamento do livro se insere no contexto de reflexões sobre os 50 anos do Golpe de 1964 e se soma às vozes que novamente dizem “Ditadura, nunca mais!” e pedem o fim da impunidade dos torturadores e agentes do regime militar.
“Trata-se de uma obra histórica que reúne experiências desses advogados que, colocando em risco não apenas a profissão, mas a própria vida, defenderam a liberdade e a democracia”, explica Mentor.
O líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP) participou da solenidade e parabenizou a iniciativa de José Mentor, além de enaltecer o papel dos advogados. “No momento em que muita gente tinha medo, muitas pessoas eram perseguidas, estes advogados foram fundamentais, indo à luta em defesa do Estado de Direito e da democracia. Muitos deles foram presos e ameaçados, mas não recuaram. Por isso são merecedores dessa homenagem”, disse o líder.
Ex-preso político, o deputado Nilmário Miranda (PT-MG) destacou que a liberdade de atuação dos advogados é um “indicador se o País vive uma democracia ou uma ditadura” e citou exemplos emblemáticos sobre o que enfrentaram esses profissionais. “Para ser advogado durante a ditadura era preciso ter coragem, porque a maioria desses advogados passou por prisões e constrangimentos. Mais de uma vez eu fui levado do presídio para um centro de detenção e tortura para ser acareado com o meu advogado, que estava preso. Quando alguém era preso pelo regime, estes advogados corriam para a porta da delegacia para mostrar que sabiam que uma pessoa estava presa e essa prática salvou muitas vidas”, relata Nilmário.
A ministra Ideli Salvatti, que tomou posse na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República na segunda-feira (1º), prestigiou a atividade. “Esta é uma homenagem das mais justas. Naquele momento, para fazer a defesa, contra tudo e contra todos, dos que estavam presos ilegalmente e sofrendo torturas e maus tratos, era preciso ter coragem”, frisou Ideli.
Sepúlveda Pertence, ex-presidente presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), participou da solenidade representando os advogados. O presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), também participou do evento.
Rogério Tomaz Jr.
Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara