Maria da Conceição Tavares: uma história de amor ao Brasil (*) Deputado Pepe Vargas

pepe_entrevista_2_thumbA Comissão de Finanças e Tributação da Câmara juntamente com a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado realizam o seminário Desenvolvimento Econômico Brasileiro: Evolução e Desafios, com a Professora Maria da Conceição Tavares, na terça-feira (9) às 14 h, no plenário da Comissão de Assuntos Econômicos, sala 19, anexo II, no Senado. No mesmo evento será prestada homenagem à Professora, que completou 80 anos no dia 24 de abril deste ano.
Feliz o Brasil, que tem entre seus intelectuais de renome a Professora Maria da Conceição Tavares. Feliz o Partido dos Trabalhadores, que pode contar com sua preciosa contribuição. Ela compartilha dos nossos sonhos, nos ajuda a formular e consolidar nosso projeto de desenvolvimento para o país. Uma intelectual militante, que esteve sempre ao lado dos excluídos, dos discriminados, dos humilhados, dos ofendidos e colocou seu conhecimento a disposição dos lutadores sociais e da transformação do Brasil numa nação mais brasileira, mais justa e solidária.

Torcedora fanática do Vasco da Gama e da escola de samba Mangueira, Conceição Tavares nasceu no interior de Portugal, em Aveiro, perto de Anádia. Filha de mãe católica e de pai anarquista, em plena ditadura salazarista, e ainda marcada pelos fatos da guerra civil espanhola, formou-se em Matemática, na Universidade de Lisboa, em 1953, e, logo em seguida, atravessou o Atlântico, em direção ao Brasil.

Aqui chegando, encontrou o país em efervescência política. Meses depois levou um grande susto, como diz ela, quando soube do suicídio de Getúlio Vargas. O episódio lhe deixou perplexa. Mais ainda quando viu a multidão, chorando, encher as ruas do Rio de Janeiro no enterro de Vargas.

Nos anos 50, ambientada no meio intelectual e político do Rio de Janeiro, Conceição Tavares viveu o momento de otimismo da era JK, da construção de Brasília, embalada pela Bossa Nova e pelo desenvolvimento proporcionado pelo Plano de Metas. Participou das rodas de intelectuais ilustres como Darcy Ribeiro, Mário Pedrosa e Aníbal Pinto, entre outros de mesma estirpe, dos debates no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e da formação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Formou-se em Economia, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1960, foi aluna e assistente do Professor Otavio Gouveia de Bulhões, um dos mais importantes economistas da época. Trabalhou com Inácio Rangel e com os economistas do recém-criado Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE). Em seguida integrou-se à equipe da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), no Rio de Janeiro, onde conviveu com Celso Furtado e Raul Prebish, de quem se tornou amiga por toda a vida.

Considerada estruturalista, keynesiana e marxista, Conceição Tavares começou a publicar, no início dos anos 60, artigos clássicos e livros inovadores do pensamento desenvolvimentista. Enfrentou o debate com outras correntes econômicas ao longo das décadas de 70, 80 e 90, sempre de forma apaixonada, e construiu um pensamento econômico original, que serviu de base para a formação de gerações futuras de economistas.

Conceição Tavares foi professora da UFRJ, da FGV-RJ, da CEPAL, da Universidade do Chile, da Universidade Nacional do México, e da Universidade de Campinas, onde conseguiu consolidar a formação da escola de economia. Depois do golpe militar, em 1964, viveu no Chile, no México e na França, antes de voltar ao Rio de Janeiro e ser presa, em 1974. No Chile, fez parte da equipe econômica do governo de Salvador Allende. De volta ao Brasil, integrou-se ao movimento pela redemocratização, no PMDB. Décadas depois ingressou no Partido dos Trabalhadores, a convite de Lula, e foi eleita deputada federal, pelo Rio de Janeiro, em 1994.

No Congresso Nacional, a atuação de Conceição Tavares foi fundamental nos debates das reformas propostas pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Ela dizia que a contribuição que poderia dar naquele momento era como acadêmica, na área econômica e na questão da função do Estado.

Mas o que se viu não foi só isso. Ela se tornou a mais importante voz de contestação das teses do governo Fernando Henrique Cardoso. Parlamentares de partidos de oposição se reuniam em plenários lotados para ouvir a Professora e compartilhar suas análises e seus valiosos conhecimentos. Destemida e obstinada, Conceição Tavares enfrentou o debate de forma brilhante e desconstruiu as idéias do “pensamento único” que a equipe do governo, na época, tentava impingir ao país. Isso aconteceu tanto nas tribunas do parlamento quanto na imprensa, onde ela publicou artigos memoráveis, e em livros que são referência sobre aquele período.

Na apresentação de seu livro “A Destruição não Criadora”, (Ed. Record, RJ/1999) diz ela: “A única contribuição que posso dar à luta do meu povo é tentar enfrentar o pensamento dominante de nossas elites econômico-sociais e políticas, pelos parcos meios de que dispõe um intelectual crítico e uma professora rebelde: escrever e dar aulas. Há anos que venho percorrendo esse caminho no meio dos descaminhos a que se entregaram tantos “ex-intelectuais” brasileiros. A minha herança foi-me dada pelos meus mestres vivos e mortos e é a eles que dedico este livro, como esforço de continuidade e esperança”.

Desde o momento que se filiou ao Partido dos Trabalhadores, Conceição Tavares passou a participar dos debates internos e conseguiu agregar ao espectro ideológico do PT suas idéias para um programa de desenvolvimento do Brasil. Suas idéias somadas às de intelectuais petistas ajudaram não só a eleger o presidente Lula, em 2002, mas a tirar o país da crise e a consolidar um projeto de crescimento sustentável com distribuição de renda, que resultou na reeleição de Lula, em 2006, e à eleição de sua ex-aluna, Dilma Rousseff, à presidência da República, em 2010. Conceição Tavares esteve sempre presente nas discussões do governo na área econômica e esteve ao lado do presidente Lula durante os seus mandatos, a quem ela tem profunda admiração e considera o maior gênio político da história do Brasil.

Ao completar 80 anos, gostaria de prestar homenagem à professora Maria da Conceição Tavares, pela inestimável contribuição prestada ao Brasil com o seu pensamento econômico de tamanha riqueza, pela sua contribuição política que nos ajuda a superar nossos problemas, pela sua solidariedade e pelo seu amor ao povo brasileiro.

 

 

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