Mangabeira Unger analisa que ajuste fiscal é travessia: ”O Brasil se levantará”

Mangabeira Gushta
 
O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Mangabeira Unger, defendeu uma estratégia de desenvolvimento para o Brasil baseada na qualificação do ensino básico e na ampliação das oportunidades produtivas. Sobre o momento político e econômico atual, ele refletiu que a necessidade é a alma da invenção e que as grandes inovações estruturais ocorrem na hora da crise. “A hora de dificuldade, não de bonança, é que temos estímulos para abordar nossa tarefa estrutural”, disse.
 
Mangabeira Unger pediu união ao Congresso Nacional em defesa do Brasil. “Acima de partidos, participe da construção de obra transformadora que dará braço ao dinamismo brasileiro”, disse. O ministro participou de comissão geral no Plenário da Câmara, na manhã desta quinta-feira (2).
 
Conforme o ministro, deve haver democratização da economia do lado da produção e da oferta, e não mais só do lado do consumo e da demanda. Nesse contexto, o ajuste fiscal em andamento no Brasil deve ser entendido como “uma ponte, uma travessia” entre antiga estratégia e nova estratégia.
 
Unger afirma que está errada a visão de que o ajuste é feito para ganhar a confiança financeira e garantir crescimento da economia. “O ajuste é para que o Estado possa iniciar um processo rebelde, com primazia do trabalho e da produção sobre os interesses da rentabilidade financeira.”
 
Ele avaliou, ainda, que os juros elevados não devem ser principal instrumento para combater a inflação mas sim a expansão da oferta. O ministro recomendou que o sacrifício social exigido pelo ajuste tem de ser entendido e justificado perante o país como condição para o projeto democratizante de oportunidades na produção e educação. “Não pode haver divisão entre ajuste e estratégia de oportunidades depois”, disse.  Para ele, esta estratégia tem que ser detalhada agora para o país entender a lógica do sacrifício e da democratização. 
 
Unger  sugeriu ainda que o Brasil precisa ter liberdade para exportar altas tecnologias, a  exemplo da Embraer e da construção naval.
 
“Estamos ainda influenciados pela ideia de que exportar é bom e importar é ruim mas é importante também a liberdade para importar altas tecnologias como requisito da  prática para agora, não como fator ideológico”. 
 
Segundo o ministro, está esgotada a atual estratégia de desenvolvimento nacional, baseada na massificação do consumo, no aumento da renda popular e na produção e exportação de commodities. Ele acredita que esse modelo “permitiu resgatar milhões de brasileiros da pobreza extrema e manteve a grande maioria de brasileiros empregados”. Porém, dependia de alguns fatores, como a “abundância de dinheiro fácil do mundo, a aceleração febril do maior mercado brasileiro, a China, e a alta no preço dos produtos primários”. “Quando essas circunstâncias mudaram, esse modelo de desenvolvimento se esgotou”, explicou.
 
Educação – O ministro salientou que o Brasil avançou no acesso à educação, mas criticou a qualidade da educação. “Ao final do ensino médio, metade dos alunos mal consegue ler um texto. E a metade que consegue ler não consegue entendê-lo” , disse. “É uma educação baseada em decoreba e em enciclopedismo, além de ser dogmática.”
 
Ele defendeu “uma educação analítica e capacitadora”, com cooperação entre os três níveis da federação, para socorrer a baixa qualidade de ensino em determinados municípios, por exemplo. Além disso, Unger apontou a necessidade de qualificação dos professores e de um vínculo maior entre a escola e a família.
 
Para a democratização das oportunidades produtivas, o ministro sugeriu o estímulo ao empreendedorismo de vanguarda. “Faz falta no Brasil a empresa média de vanguarda, que costuma desenvolver as inovações mais radicais”, apontou. Para estimular essas empresas, a chave seria o “acesso ao crédito, à tecnologia, às práticas avançadas e aos mercados mundiais”.
 
Na visão dele, a agricultura familiar deve ganhar atributos empresariais, com a industrialização e diversificação dos produtos agropecuários. Além disso, defendeu a reformulação da atual legislação ambiental e tributária.
 
Por fim, salientou que estratégia nacional só se efetiva quando houver políticas que aproveitem as vocações existentes em cada região. “O Brasil se levantará”, concluiu.
 
PT na Câmara com Agência Câmara
Foto: Gustavo Bezerra
 

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