Em entrevista ao Canal Once, do México, Lula defendeu a organização dos países da América Latina em um bloco voltado para o desenvolvimento econômico, cultural e científico de toda a região. Só por meio da união as nações latino-americanas terão força na disputa global, defendeu o ex-presidente, que propôs ainda a criação de um banco que permita aos países realizarem trocas comerciais utilizando suas próprias moedas.
“É preciso mudar nosso comportamento, nossa relação interna e externa, e construir conjuntamente instituições na América Latina que possam nos fortalecer economicamente. Por que não temos um banco na América Latina que nos permita negociar em nossas moedas, sem precisar do dólar? Por que o Brasil precisa de dólar para negociar com o México se a gente pode negociar na nossa própria moeda?”, indagou (assista à integra da entrevista abaixo, em retransmissão da TVT).
“É necessário que tenhamos um bloco para a gente fazer frente ao bloco europeu, aos Estados Unidos e Canadá, à China, ao mundo asiático, à Rússia. Nós temos de tomar consciência de que, agindo separados, negociando separadamente, nós seremos mais fracos. Se a gente agir como bloco, se a gente estabelecer uma regra de parceria, sem que haja hegemonia de nenhum país sobre outro, a gente pode criar um bloco extraordinário de mais de 400 milhões de seres humanos, economicamente forte”, completou.
Soberania
Lula defendeu que o México olhe mais para os países da América do Sul e não foque apenas as relações com os Estados Unidos. E ressaltou que a união latino-americana não significa ignorar os norte-americanos ou transformá-los em inimigos, mas apenas afirmar a soberania dos países da região.
“Eu não quero transformar os Estados Unidos em inimigo, não quero romper relações com os Estados Unidos, e acho que o México também não quer romper. O que nós queremos é criar alternativas para que a gente não termine o século 21 igual terminamos o século 20. E é importante que o México pense um pouco na América do Sul e a América do Sul pense um pouco no México. Temos de olhar não apenas para os EUA ou a Europa, mas também para nós mesmos. O que podemos construir, o que falta de parceria entre nós”, afirmou.
O petista também disse que os países da região têm condições de construir seu próprio futuro. “Não vamos culpar os outros pela nossa fragilidade. É muito fácil culpar o imperialismo … O que precisamos ver é que a nossa elite empresarial e política é subalterna. É preciso que a gente sonhe e a gente construa nossos países. É preciso que a gente tenha soberania, que a gente defenda a nossa fronteira, nossos interesses comerciais e empresariais. É preciso que a gente defenda a necessidade do México, do Brasil, da Argentina serem fortes do ponto de vista do conhecimento científico e tecnológico, é preciso investir em educação. É isso que vai nos dar condição de disputar com qualquer outro país do mundo em igualdade de condições.”
Democracia
Perguntado sobre governos de esquerda que pendem para o autoritarismo, Lula fez uma defesa enfática da democracia. “Não existe uma forma de construir uma governança justa se não for democrática. Por que eu amo a democracia? Porque para um torneiro mecânico como eu, metalúrgico, sem diploma universitário, chegar à Presidência, para um índio chegar à Presidência como Evo Morales chegou na Bolívia, só através de um regime democrático. É o que permitiu a López Obrador chegar à Presidência no México. A democracia permite alternância de poder”, analisou.
Lula lembrou que foi por isso que nunca ouviu aqueles que defendiam um terceiro mandato consecutivo para ele a partir de 2011. “Toda vez que um governante começa a se achar insubstituível, imprescindível, está surgindo um pouco de ditadura naquele país. Quando eu era presidente de sindicato, convoquei uma assembleia para decidir que uma pessoa só podia ser presidente por duas vezes e ponto. Quando eu era presidente da República, eu tinha 87% de bom e ótimo nas pesquisas, e muita gente queria que eu tivesse um terceiro mandato. Eu não aceitei porque sou amplamente favorável à alternância de poder. Tem haver revezamento na governança de um país para a sociedade ir aprimorando sua participação democrática. Às vezes ela erra, às vezes ela acerta”, observou. “O conselho que dou a qualquer presidente é: não abra mão da democracia, da liberdade de imprensa e de expressão, porque é isso que fortalece a democracia”, continuou.
Combate à pobreza
No começo da conversa, a jornalista Sabina Berman perguntou como Lula e Dilma fizeram para, em um década, tirar cerca de 36 milhões de pessoas da miséria. O ex-presidente afirmou que o resultado foi fruto de um compromisso assumido com os mais pobres e a execução de diversos programas sociais.
“Não fizemos só o Bolsa Família, mas um conjunto de políticas públicas”, lembrou Lula, destacando a política de aumento do salário mínimo; o programa Luz para Todos, que beneficiou 15 milhões de lares; a construção de 1,4 milhão de cisternas para garantir água potável às famílias; e o incentivo à agricultura familiar, fortalecida com a obrigatoriedade de que as escolas comprassem produtos locais para compor a merenda das crianças.
Do PT Nacional
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