O Brasil voltará ser um país democrático, economicamente ativo e poderá contribuir para a paz mundial por meio de sua tradição diplomática de construção de consensos. A avaliação foi feita pelo ex-presidente Lula em uma entrevista ao canal Russian Today, neste domingo (6). Na conversa com a apresentadora Oksana Boyko, Lula reafirmou a certeza de que o país irá se livrar do obscurantismo representado por Bolsonaro.
“Bolsonaro reuniu em torno dele milicianos, pessoas com pensamento fascista, defensores da ditadura militar, com pensamento nazista. Ele tem um público que pode chegar a 25%, 30%. Mas tem 70%, 75% contra ele e por isso tenho certeza que a democracia vai vencer as eleições em 2022”, afirmou Lula.
Para Lula, é desafio do PT é criar as condições para que o país volte a crescer com prosperidade “O Brasil voltará a ter democracia. O Brasil, que era a 6ª economia mundial, e hoje é a 12ª, voltará a ser economicamente forte e produtivo”, comparou.
Lula avaliou que a crise brasileira é grave mas que pode ser superada com participação popular. “Agora está mais difícil mas precisamos acreditar no povo, chamá-lo para participar. Fiz 74 conferências nacionais para determinar as políticas públicas que iríamos colocar em prática. Por isso que criamos 22 milhões de empregos, que aumentamos o salário em 74%, que tiramos 36 milhões da miséria e colocamos 40 milhões em um padrão de classe média”.
Governo da morte
Lula voltou a criticar o governo da morte de Bolsonaro e lamentou as vítimas fatais por Covid-19 no país. “Temos um presidente da República que não respeita a ciência, que não respeita a medicina, não respeita as pessoas que entendem a gravidade da Covid-19”, disse Lula.
“O presidente não quis comprar vacina quando poderia, ele não acredita na imunização como forma de combater o vírus, não acredita no isolamento, no uso de máscara. Para ele, não há diferença se morrer uma pessoa ou 465 mil pessoas”, ressaltou Lula, para quem Bolsonaro é “quase um genocida”.
“Uma parte das pessoas que morreram, isso tem que ser debitado à orientação equivocada que ele deu. Convocava o povo para concentrações, dizia que quem usava máscara não era homem, que era uma “gripezinha”, condenou.
Vacinas para todos
Lula também criticou o governo pela lentidão na aquisição de vacinas e defendeu o uso da Sputnik V. “Há uma desconfiança de que houve uma orientação do [então] presidente Trump orientou Bolsonaro a não comprar as vacinas russas, da mesma forma que fizeram críticas à vacina da China”, comentou o ex-presidente.
“Se o presidente do Brasil fosse um homem sério, comprometido com o povo brasileiro, ele teria falado com o presidente Putin, teria proposto a criação de um comitê binacional, com especialistas russos e brasileiros. Já teríamos resolvido esse problema”, opinou.
“O povo brasileiro quer a vacina russa, não podemos dar pretexto para aqueles que se opõem à vacina da Rússia. Há uma guerra ideológica, de interesse econômico”, apontou Lula. “O Brasil não tem que se preocupar com a defesa americana, e sim com a saúde de 213 milhões de habitantes. Se puder, o Brasil tem que comprar vacina americana, russa, chinesa, cubana, onde houver vacina com qualidade comprovada”.
Quebra de patentes
Ele voltou a defender quebra de patentes das vacinas e que os imunizantes sejam transformados em bem público. “A vacina não pode ser um direito de quem tem dinheiro, de quem pode pagar. Por isso defendemos a quebra de patentes, para que os estados assumam a responsabilidade”.
“Nas próximas reuniões do G20, é preciso cobrar dos países para, definitivamente, transformar a vacina em bem público”, frisou o ex-presidente. “Para que o mais pobre brasileiro, africano e o mais rico americano tenham o mesmo direito de tomar vacina”.
Governança global
Lula criticou a insistência dos EUA em querer ser “farol do mundo” e defendeu a soberania de todas as nações. “Não precisamos de tutor, todos são soberanos. Há um preconceito histórico contra a Rússia, contra a força do presidente Putin, ao que a Rússia representa”, afirmou. “Não queremos contenciosos, queremos uma relação fraterna com todos”.
O ex-presidente reforçou que é preciso construir uma nova política internacional de consensos e de respeito à soberania. “Tenho defendido uma mudança na governança global, é preciso mudar o Conselho de Segurança da ONU”, ressaltou, apontando ainda para a necessidade de uma reestruturação de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Precisamos de mais gente, mais setores participando e temos de acabar com o direito de veto, ninguém é superior a ninguém”, disse Lula, defendendo que países mais pobres devem ter voz na comunidade internacional.
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