Durante debate na Fundação Perseu Abramo, o ex-presidente exaltou o legado do PT e provocou: “que a gente fale toda hora. Que seja um tema como o futebol que passa na televisão. E não passa o brasileiro com fome?”
Há 17 anos, quando tomou posse como Presidente da República, Lula declarou guerra à fome. A partir de então, seu governo e o da presidenta Dilma Rousseff foram responsáveis por uma inclusão social sem precedentes e por tirar o Brasil do Mapa da Fome. Pela primeira vez em 500 anos de história, a desigualdade social no país começou a ser combatida. O golpe de 2016, no entanto, interrompeu o clico de políticas sociais implementadas pelo Partido dos Trabalhadores.
É por isso que o ex-presidente, durante o Seminário na Fundação Perseu Abramo realizado nesta sexta-feira (31), apontou que o combate à desigualdade social tem que ser a grande prioridade do Brasil e do mundo. Lula, inclusive, parabenizou o ex-ministro Aloizio Mercadante pela realização do evento e mais do que ser determinista, o ex-presidente fez questão de ressaltar o aprendizado que tem e teve com os participantes, entre eles, o ex-diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano, a diretora da Divisão de Desenvolvimento Social da Cepal, Laís Abramo, a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, o sociólogo Jessé de Souza e o economista Eduardo Moreira.
“Eu estou em uma fase de aprender novamente aquilo que não pude aprender antes. Eu tenho uma ansiedade de fazer as coisas que não pudemos fazer ou não sabíamos como fazer. Mas nós provamos, com os nossos governos, que um outro Brasil é possível”, disse Lula ressaltando o legado do PT para logo em seguida questionar: “precisamos entender como transformar a desigualdade social em um tema político, que a gente fale toda hora e todo dia. Que seja um tema como o futebol. Que seja um tema como é quando casa o sobrinho da princesa de não sei onde que passa na televisão toda hora, e não passa o brasileiro com fome?”
‘Privatização gera desigualdade social’
O ex-diretor da FAO José Graziano lembrou que os ricos estão se apropriando cada vez mais da renda no mundo. Segundo ele, que coordenou a formulação do Programa Fome Zero no Governo Lula, entre as principais causas do aumento da desigualdade estão as privatizações. “A privatização é um grande fator de aumento de desigualdade de riqueza no mundo. Pessoas se tornam milionárias por participarem dos processos de privatizaria, como se costuma dizer”, explica Graziano.
Ele também lembrou que a fome volta a ser uma ameaça ao país. “A fome está crescendo no mundo. Até 2014 ia bem, o Brasil inclusive chegou a sair do Mapa da Fome, um dos únicos exemplos de país desse tamanho. Mas os números [da fome] estão crescendo na Ásia e voltou a crescer na América Latina”, alerta o ex-diretor da FAO.
Laís Abramo, por sua vez, aprofundou ainda mais a análise em relação à América Latina. A diretora da Cepal lembrou que a desigualdade social no Brasil “está assentada em uma cultura de privilégio, que é também uma característica da América Latina, herança do período escravocrata, que se reproduz através das instituições”.
Ainda segundo a intelectual, “entre 2002 e 2014 houve uma redução da desigualdade social e de renda na América Latina, em um contexto de aumento da desigualdade global”. A diretora da Cepal lembra que durante os governos progressistas houve “um fortalecimento de uma perspectiva de direitos e da universalidade das políticas sociais”.
Desigualdade social ameaça à democracia
Após as fundamentais contribuições do economista Eduardo Moreira e do sociólogo Jessé de Souza, a ex-ministra Tereza Campello fez uma importante defesa do legado de políticas sociais do PT. Ela, inclusive, lembrou que os governos do PT fizeram mudanças estruturais que melhoraram a vida dos brasileiros. “Em 13 anos, que é um tempo muito pequeno perto dos 500 de história, nós conseguimos, não acabar com desigualdade evidentemente, mas reduzi-la”, apontou.
A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, aproveitou a exposição da ex-ministra e lembrou que a Revista sobre o Legado do PT traz os dados econômicos e sociais dos governos. Ainda segundo Gleisi, o debate sobre a desigualdade social pode partir desse legado. “Nesses 13 anos, dos 500 de Brasil, o PT fez muito pela inclusão do povo brasileiro. Os críticos do PT nos cobram autocrítica sempre, mas quando é que a elite vai fazer a sua autocrítica por esses 500 anos de desigualdade?”, provocou a presidenta.
O ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad também fez uma contundente defesa dos governos do PT ao lembrar que o povo mais pobre “se viu representado no orçamento público” e fez um alerta sobre os riscos que o aumento da desigualdade traz: “A desigualdade no mundo está piorando. É fundamental apurar que o 1% mais rico está se distanciando de uma forma que compromete a democracia no mundo. Precisamos debater a interferência do dinheiro nos processos democráticos, algo que é visível”, disse Haddad.
Por fim, Lula apontou que é preciso enfrentar essa guerra contra a desigualdade social. Segundo o ex-presidente as consequências do aumento de desigualdade são visíveis em todas as cidades do Brasil, como por exemplo, o assustador crescimento do número de pessoas vivendo nas ruas de São Paulo – 66% em três anos.
“Temos de construir um jeito, enquanto sociedade, de ser mais duros contra a desigualdade. Não possível ver uma pessoa dormindo no chão e achar que é normal. Ver alguém dormir na rua no Centro de São Paulo e ir para casa como se nada tivesse acontecendo. Precisamos começar a ter o direito de ficar indignados e falar mais alto contra a desigualdade social”, exalta Lula.
Veja a íntegra do Seminário:
Agência PT Notícias