Lula em conferência dos bancários: ‘Vamos lutar muito para reconquistar a dignidade’

"O dado concreto que quero passar a todos é que não percam a fé. Não percam a disposição de luta", disse Lula. Foto: Reprodução

Com participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi aberta hoje (3) a 23ª Conferência Nacional dos Bancários, que debaterá propostas apresentadas pelas bases sindicais de todo o país para a definição do plano de lutas da categoria até 2022. Pelo segundo ano consecutivo, em razão da pandemia, o evento será totalmente on-line. Lula gravou mensagem aos representantes dos trabalhadores que participavam do evento que ocorreu no mesmo dia da morte e do velório do amigo e ator Sérgio Mamberti. As plenárias seguem durante todo o sábado, a partir das 9h.

“O dado concreto que quero passar a todos é que não percam a fé. Não percam a disposição de luta. Não percam nunca a certeza de que vamos lutar muito para reconquistar a dignidade que o brasileiro está perdendo. A dignidade da categoria dos bancários, que representa muito para as conquistas dos trabalhadores e na luta pela democracia. Faz tempo que tentam diminuir a categoria. Mandando gente embora, terceirizando, criando outras categorias”, disse Lula.

Ao fim de seu breve pronunciamento, o ex-presidente citou a importância das lideranças bancárias na luta pelas bandeiras da classe trabalhadora, inclusive, ampliada em tempos de ataques à democracia. “A relação é muito forte, vem desde 1978 com o companheiro Augusto (Campos), depois (Luiz) Gushiken, (Ricardo) Berzoini, (João) Vaccari Neto, Juvandia (Moreira), Ivone (Silva). Não teríamos conseguido tudo que conseguimos, não teríamos nosso protagonismo, se não fosse uma categoria como a dos bancários. Devo muito. Devo muito também à solidariedade que tiveram comigo quando fiquei 580 dias na Polícia Federal. Não seria o que eu sou se não tivesse os bancários como parceiros e companheiros.”

Genocídio e entreguismo

Antes de Lula, o presidente da CUT, Sérgio Nobre, fez um panorama da conjuntura política nacional. O sindicalista lamentou as mortes por covid-19 no Brasil e a condução trágica da pandemia pelo governo federal. “Infelizmente estamos nos aproximando da trágica marca de 600 mil mortos por covid-19 no nosso país. Pelo menos 70% delas, segundo especialistas, poderiam ser evitadas não fosse o comportamento genocida do governo Bolsonaro”, disse.

Junto do morticínio que a covid-19 trouxe, o país passou a viver uma crise política e econômica sem precedentes desde a redemocratização. “Infelizmente, a fome e a miséria voltam a atingir milhões de famílias no nosso país. Em especial, nas periferias. Hoje, um terço do país ou está no desemprego, ou no desalento. Uma marca triste”, completou Nobre.

O dirigente citou ainda a privatização e a entrega do patrimônio público ao capital privado patrocinados pelo governo. “Neste momento, Bolsonaro prepara um enorme desmonte do Estado através das privatizações. Quer vender todo o sistema elétrico, está fatiando, privatizando a Petrobras, maior empresa brasileira e maior instrumento de desenvolvimento do nosso país. Planeja vender os Correios, empresa estratégica de logística que cumpriu papel extraordinário na pandemia, levando medicamentos e vacinas aos rincões do país. Nenhuma empresa privada teria condições de fazer isso. Também planeja desmontar e privatizar o Banco do Brasil e a Caixa, instrumentos das políticas sociais”, criticou.

“Bolsonaro também quer desmontar os serviços públicos através da ‘reforma administrativa’, que não tem outro objetivo se não acabar com o concurso público e introduzir formas de contratação precária, com trabalho em tempo parcial e salário inferior ao mínimo”, completou Nobre.

Começou lá atrás

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região (SPBancários), Ivone Silva, discorreu sobre o processo que levou à eleição de um governo de extrema direita, mesmo tendo a sociedade ciência do perfil do atual presidente. “Sabíamos que Bolsonaro era racista, homofóbico. Além de tudo que sabíamos, agora sabemos também que ele é um genocida”, resumiu.

“Temos de lembrar também que estamos neste caos, com a gasolina cara, comida impossível de comprar, que isso começou lá atrás. Nesta semana tivemos cinco anos do golpe que tirou uma mulher eleita, atacada por questões de gênero. Desde 2016, temos amargado tudo que veio após o golpe. Reforma trabalhista, eleição de um genocida, de uma pessoa sem a mínima capacidade de governar. Tudo isso alimentado por um ódio, seja da imprensa, por um partido que não soube perder, seja da farsa da Lava Jato”, completou.

Bancário na mira

Por sua vez, a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, lembrou que “a luta dá resultado, categorias com sindicatos fortes preservam direitos e garantem vida melhor para os trabalhadores”. Em sua análise da conjuntura social e política do país, Juvandia também remeteu a situação atual aos golpes contra a democracia que derrubaram o governo Dilma. “Estamos neste aperto, neste sufoco, após um golpe orquestrado por uma elite do atraso, descomprometida, sem empatia. O resultado é o bolsonarismo.”

Aos bancários, Juvandia conclamou à organização e resistência. “Nossa categoria, assim como toda a classe trabalhadora, está sob intenso ataque de um governo que não tem qualquer compromisso com o povo trabalhador. Nossa jornada de trabalho, adicional de horas-extras e comissionamento são alguns dos nossos direitos sob ataque. Mas a situação é ainda mais drástica e leva, ano após ano, milhares de bancários ao desemprego. Neste momento de pandemia e com todos os preços nas alturas, isso é ainda mais grave, chega a ser cruel”, completou.

A dirigente lembrou que o 7 de setembro é dia do Grito dos Excluídos, e ressaltou o momento de fortalecimento da luta por melhores condições de vida. “Vemos pessoas ficando cada vez mais ricas durante a pandemia. Ficando ricas às custas da miséria da população. Nunca vi o Brasil viver um momento de tão profunda exclusão. Vivemos com quase 20 milhões de brasileiros na miséria. Situação de insegurança alimentar. Desempregados, subempregados. Precisamos fazer um debate de que Brasil queremos. Temos de ter esperança de que isso vai mudar e fazer acontecer. Esse é nosso chamado”.

Por Rede Brasil Atual

 

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