O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva denunciou hoje (4) que o Brasil está sendo “destroçado por um governo de traidores”, com a entrega criminosa a estrangeiros de empresas estatais, bancos públicos, petróleo e minerais. “Até a Amazônia está ameaçada por um governo que não sabe e não quer defendê-la, que incentiva o desmatamento, não protege a biodiversidade nem a população de depende da floresta viva”.
A denúncia de Lula foi feita por intermédio de carta lida por Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato do PT à Presidência da República, durante ato político em defesa da Soberania Nacional e Popular e do emprego e contra as privatizações, realizado hoje na Câmara dos Deputados. Do evento participaram também, entre outros, a ex-presidenta Dilma Rousseff e o ex-candidato à presidência da República Guilherme Boulos (PSOL).
Farra de entreguismo
O ex-presidente qualificou como “farra de entreguismo e privatização predatória” a prática antinacional de Bolsonaro e alertou os grupos econômicos que estão aproveitando a situação para comprar o patrimônio público brasileiro formado ao longo de décadas. Segundo ele, a farra entreguista não vai durar para sempre e “o povo brasileiro há de encontrar os meios de recuperar aquilo que lhe pertence. E saberá cobrar os crimes dos que estão traindo, entregando e destruindo o País”.
Traição nacional
Em sua carta, Lula observou que nenhum país realizará seu destino se não construir seu próprio futuro, criticando assim a submissão do governo de extrema direita Jair Bolsonaro a “governantes de outros países e a seus interesses econômicos, militares e políticos”. Ele alertou que ao longo da história o Brasil criou empresas de porte como a Petrobras, Eletrobras, Embrapa, bancos públicos, mas essas conquistas estão ameaçadas de “desaparecer” com o atual governo.
“É uma traição inominável matar o BNDES, vender o Banco do Brasil e enfraquecer a Caixa Econômica, indispensáveis ao desenvolvimento sustentável, à agricultura e à habitação”. Observou também que os ataques do governo Bolsonaro às universidades públicas são também contra a soberania nacional, pois país que não produz conhecimento “será sempre submisso e dependente das inovações criadas por outros”.
Petrobras não é problema, como diz Rede Globo
O ex-presidente criticou a teoria do governo atual em defesa do Estado mínimo, lembrando que não é o chamado mercado que vai oferecer acesso universal à saúde, seguridade social, segurança pública, cultura ou mesmo proteger as riquezas do País, como a Amazônia, o Pantanal, o Cerrado, o subsolo e a plataforma continental.
Lula condenou a privatização fatiada que vem sendo feita da Petrobras e lembrou: se a estatal “fosse um problema para o Brasil, como a Rede Globo diz todo dia, por que tanta cobiça pela nossa maior empresa e pelo pré-sal, que os traidores também estão entregando?” E completou: “Os trabalhadores e os mais pobres são os que mais sofrem com essa traição”. Para Lula, “cada pedaço do País e das empresas públicas que vendem, são milhões de empregos e oportunidades roubadas dos brasileiros”.
Lula também criticou Bolsonaro por entregar a política externa brasileira aos Estados Unidos. “Deu a eles (EUA), a troco de nada, a Base de Alcântara, (…), rebaixou a diplomacia a um assunto de família e de conselheiros que dizem que a terra é plana”.
Leia a íntegra da Carta:
“CARTA EM DEFESA DA SOBERANIA NACIONAL
Companheiras e companheiros de todo o Brasil,
Sempre acreditei que o povo brasileiro é capaz de construir uma grande Nação, à altura dos nossos sonhos, das nossas imensas riquezas naturais e humanas, nesse lugar privilegiado em que vivemos. Já provamos, ao longo da história, que é possível enfrentar o atraso, a pobreza e a desigualdade, com soberania e no rumo da justiça social.
Mas hoje o país está sendo destroçado por um governo de traidores. Estão entregando criminosamente as empresas, os bancos públicos, o petróleo, os minerais e o patrimônio que não lhes pertence, mas ao povo brasileiro. Até Amazônia está ameaçada por um governo que não sabe e não quer defendê-la; que incentiva o desmatamento, não protege a biodiversidade nem a população que depende da floresta viva.
Nenhum país nasce grande, mas nenhum país realizará seu destino se não construir o próprio futuro. O Brasil vai completar 200 anos de independência política, mas nossa libertação social e econômica sempre enfrentou obstáculos dentro e fora do país: a escravidão, o descaso com a saúde, a educação e a cultura, a concentração indecente da terra e da renda, a subserviência dos governantes a outros países e a seus interesses econômicos, militares e políticos.
Apesar de tudo, ao longo da história criamos a Petrobrás, a Eletrobrás, o BNDES e as grandes siderúrgicas hidrelétricas; os bancos públicos que financiam a agricultura, a habitação e o ensino; a rede federal e estadual de universidades, a Embrapa, o Inpe, o Inpa, centros de pesquisa e conhecimento, todo um patrimônio a serviço do país.
O que foi construído com esforço de gerações está ameaçado de desaparecer ou ser privatizado em prejuízo do país, como fizeram com a Telebrás, a Vale, a CSN, a Usiminas, a Rede Ferroviária, a Embraer. E sempre a pretexto de reduzir a presença estado, como se o estado fosse um problema quando, na realidade, ele é imprescindível para o país e o povo.
O mercado não vai proteger um dos maiores territórios do mundo, o subsolo e a plataforma continental; a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal. Não vai oferecer acesso universal à educação, saúde, seguridade social, segurança pública, cultura. O mercado não vai construir um país para todos.
A Petrobrás está sendo vendida aos pedaços a suas concorrentes estrangeiras. Já entregaram dois gasodutos estratégicos, a distribuidora e agora querem as refinarias, para reduzi-la a mera produtora de petróleo bruto e depois vender o que restou. Reduzem a produção de combustíveis aqui para importar em dólar dos Estados Unidos. E por isso disparam os preços dos combustíveis e do gás para o povo.
Se a Petrobrás fosse um problema para o Brasil, como a Rede Globo diz todo dia, por que tanta cobiça pela nossa maior empresa e pelo pré-sal, que os traidores também estão entregando? Agora mesmo querem passar a eles os poços da chamada Cessão Onerosa, onde encontramos jazidas muitas vezes mais valiosas que as ofertas previstas no leilão.
Problema é voltar a comprar lá fora os navios e plataformas que sabemos fazer aqui. É a destruição da cadeia produtiva de óleo e gás, pela ação do governo e pelas consequências do que fez um juiz em Curitiba. Enquanto fechava acordos com corruptos, vendendo a falsa ideia de que combatia a corrupção, 2 milhões de trabalhadores foram condenados ao desemprego, sem apelação.
Os trabalhadores e os mais pobres são os que mais sofrem com essa traição. Cada pedaço do país e das empresas públicas que vendem, a qualquer preço, são milhões de empregos e oportunidades roubadas dos brasileiros.
É uma traição inominável matar o BNDES, vender o Banco do Brasil e enfraquecer a Caixa Econômica, indispensáveis ao desenvolvimento sustentável, à agricultura e à habitação. O ataque às universidades públicas também é contra a soberania nacional, pois um país que não garante educação pública de qualidade, não se conhece nem produz conhecimento, será sempre submisso e dependente das inovações criadas por outros.
Bolsonaro entregou nossa política externa aos Estados Unidos. Deu a eles, a troco de nada, a Base de Alcântara, uma posição privilegiada em que poderíamos desenvolver um projeto aeroespacial brasileiro. Rebaixou a diplomacia a um assunto de família e de conselheiros que dizem que a terra é plana. Trocou nossas conquistas na OMC pela ilusão da OCDE, o clube dos ricos que o desprezam. Anunciou um acordo com a União Europeia, sem pesar vantagens e prejuízos, e agora brinca de guerra com os europeus para fazer o jogo de Trump.
Quem vai ocupar o espaço da indústria naval brasileira, da indústria de máquinas e equipamentos, da engenharia e da construção, deliberadamente destroçadas? Quem vai ocupar o espaço dos bancos públicos, da Previdência; quem vai fornecer a Ciência e a Tecnologia que o Brasil pode criar? Serão empresas de outros países, que já estão tomando nosso mercado, escancarado por um governo servil, e levando os lucros e os empregos para fora.
Fiquem alertas os que estão se aproveitando dessa farra de entreguismo e privatização predatória, porque não vai durar para sempre. O povo brasileiro há de encontrar os meios de recuperar aquilo que lhe pertence. E saberá cobrar os crimes dos que estão traindo, entregando e destruindo o país.
É urgente enfrentá-los, porque seu projeto é destruir nossa infraestrutura, o mercado interno e a capacidade de investimento público – para inviabilizar de vez qualquer novo projeto de desenvolvimento nacional com inclusão social. O povo brasileiro terá mais uma vez que tomar seu próprio caminho. Antes que seja tarde demais para salvar o futuro.
Por isso é tão importante reunir amplas forças sociais e políticas, como neste seminário que se realiza hoje em Brasília, junto ao lançamento da Frente Parlamentar Mista da Soberania Nacional. Saúdo a todos pela relevante inciativa que é o recomeço de uma grande luta pelo Brasil e pelo povo.
Daqui onde me encontro, renovo a fé num Brasil que será novamente de todos, na construção da prosperidade, da igualdade e da justiça, vivendo na democracia e exercendo sua inegociável soberania.
Viva o Brasil livre e soberano!
Viva o povo brasileiro!
Luiz Inácio Lula da Silva
Curitiba, 4 de setembro de 2019”
PT na Câmara
Foto – Lula Marques