Os desafios para retomada das relações entre Brasil e África, hoje esquecidas pelo governo Bolsonaro, foram tema do Fórum Brasil África 2021, realizado pelo Instituto Brasil África nos dias 23 e 24 de novembro. Em discurso na abertura do evento, que reuniu autoridades brasileiras e internacionais, o ex-presidente Lula reafirmou a importância histórica dos laços entre o país e o continente africano e argumentou que políticas de integração pelo desenvolvimento da Região farão bem à geopolítica mundial, trazendo um pouco mais de equilíbrio nas relações multilaterais.
“O Brasil precisa urgentemente voltar a ter um governo democrático, a ter uma visão benéfica do mundo, para que a gente possa voltar a fazer investimento na África, para que possamos ajudá-los a se desenvolver”, afirmou Lula, para quem as parcerias estratégias entre América do Sul e a África são uma grande trunfo para o crescimento entre blocos.
“Se a África, a América Latina estiverem fortes, a gente forma blocos extraordinários com força econômica, política e cultural para termos incidência no mundo”, explicou o ex-presidente. “Não podemos ser vítimas de uma nova guerra fria entre a China e os EUA, não queremos mais guerra fria. Queremos um comércio livre, ter o direito de participar”, opinou o ex-presidente.
“A África não pode continuar vivendo num processo de ser segregada”, reagiu Lula. “O Brasil tem uma tarefa, uma dívida com o continente africano. Se o PT voltar, podem ficar certos que faremos uma política muito grande de aproximação com a África”, assegurou Lula.
Dívida histórica
“Sonhei muito em estreitar relações do Brasil com a África”, afirmou Lula, em vídeo exibido no evento. “Tinha dois sonhos, estreitar as relações do Brasil com a América do Sul e América Latina e com a África. Cada vez que eu olhava o mapa do Brasil e olhava o mapa da África, eu achava que havia muita similaridade entre os povos, a cultura, o potencial agrícola”, ressaltou o ex-presidente. “Eu sonhava muito em a gente poder contribuir para a África se desenvolver”.
“O Brasil tinha uma dívida histórica com o continente africano, porque foram 350 anos de escravidão. Tínhamos de pagar em solidariedade, em transferência de pesquisa, em ajuda, em investimento”, observou. Lula frisou que tomou a decisão política de estreitar laços e detalhou a estratégia adotada pelo chanceler Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores de seu governo entre 2003 e 2011.
Reaproximação
“Discuti muito com o companheiro Celso Amorim e começamos a colocar em prática nossa política de reaproximação com o continente africano”, lembrou Lula. “Visitei mais de 30 países na África quando presidente, e 12 depois. Abrimos 18 embaixadas novas no continente africano, na perspectiva de mostrar que não era apenas um sonho, era uma decisão política de nos aproximar”.
“Foi pensando nisso que levamos a Embrapa, nossa grande empresa de pesquisa em agricultura, para Gana, para desenvolver na savana africana a mesma capacidade produtiva do cerrado brasileiro”, disse Lula.
“Eu imaginei que a gente poderia desenvolver parte da produção de etanol do Brasil na África para que pudesse vender o etanol ao continente europeu”, relatou. “Foi pensando nisso que planejamos levar uma fábrica de antirretrovirais para Moçambique, a fim de produzir remédios contra a Aids”, ressaltou.
UNILAB
Lula citou a criação da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), feita em parceria com o Ceará, como um dos esforços visando o desenvolvimento do povo africano.
“Só fizemos isso para os países de língua portuguesa mas era importante fazer para todo o continente africano para que esses jovens pudessem estudar no Brasil. Para ter contato com o povo brasileiro, voltar ao continente e devolver ao seu povo, em forma de benefício, tecnologia e qualidade profissional aquilo que aprenderam”, defendeu.
“Montamos uma universidade à distância em Maputo, Moçambique, em parceria com o Ceará. Eu sonhava que uma das formas do Brasil poder pagar a África era com educação”, citou.
Nova governança
Lula voltou a defender um novo modelo de governança global, pelo qual os países que integram o G20 promovam ações de desenvolvimento das nações emergentes, sobretudo da África.
“Quando houve a crise de 2008, eu cheguei a discutir em Londres, com o G20, a necessidade de os países ricos fazerem investimentos nos países africanos para dotá-los de poder de consumo e aquisitivo para, inclusive, poder comprar o que os países ricos produziam”, disse o ex-presidente, prometendo levar o assunto novamente aos líderes mundiais.
Redação da Agência PT