Lula condena embargo a Cuba e reivindica inserção de países em desenvolvimento na 4ª Revolução Industrial

O Brasil é contra qualquer medida coercitiva de caráter unilateral. Rechaçamos a inclusão de Cuba na lista de Estados patrocinadores do terrorismo”, afirmou o líder brasileiro.- Foto: Ricardo Stuckert

Ao discursar neste sábado (16/9) em Havana, na Cúpula de Chefes de Estado e Governo do G77 + China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradeceu a hospitalidade, declarou seu apoio ao país anfitrião e condenou o embargo econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos, bem como a entrada da ilha na lista dos países que patrocinam o terrorismo.

“Cuba tem sido defensora de uma governança global mais justa. E até hoje é vítima de um embargo econômico ilegal. O Brasil é contra qualquer medida coercitiva de caráter unilateral. Rechaçamos a inclusão de Cuba na lista de Estados patrocinadores do terrorismo”, afirmou o líder brasileiro.

Leia a íntegra do discurso do presidente Lula

 

Ao longo de sua fala, Lula destacou a abrangência e a diversidade do G77 e ressaltou temas caros para o Brasil e o mundo, como revolução digital, transição energética, industrialização sustentável, ao mesmo tempo em que voltou a cobrar dos países ricos o financiamento prometido para que as nações em desenvolvimento possam trabalhar com mais eficiência no combate às mudanças climáticas.

“A emergência climática nos impõe novos imperativos, mas a transição justa traz oportunidades. Com ela, podemos ter ar mais limpo, rios sem contaminação, cidades mais acolhedoras, comida de qualidade na mesa, empregos dignos e crianças mais saudáveis”, frisou Lula.

Ele lembrou que o peso da atuação dos países ricos nas mudanças climáticas em curso no planeta não é o mesmo de várias outras nações em desenvolvimento.

“Não temos a mesma dívida histórica dos países ricos pelo aquecimento global. O princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas permanece válido. É por isso que o financiamento climático tem de ser assegurado a todos os países em desenvolvimento, segundo suas necessidades e prioridades. No caminho entre a COP28, em Dubai, e a COP30, em Belém, será necessário insistir na implementação dos compromissos nunca cumpridos pelos países ricos”, destacou o presidente.

G77 + CHINA

Considerado o principal instrumento de coordenação multilateral dos países em desenvolvimento dentro do sistema das Nações Unidas, o G77 + China foi fundado em 1964, quando 77 nações do então chamado ‘terceiro mundo’ decidiram se unir para poder defender posições em comum diante das nações industrializadas.

O G77 + China é o maior bloco de países em desenvolvimento dentro da ONU e tem hoje 134 países-membros, após a entrada do Sudão do Sul em 2015, mas mantém o nome original por tradição histórica.

Logo na abertura de seu discurso, Lula lembrou que neste ano já esteve presente em diversas cúpulas internacionais, mas exaltou o G77 + China, elevando-o a uma posição de destaque.

“Desde que assumi meu novo mandato, estive em diversos foros com a presença de países em desenvolvimento, como a Celac, o Brics e o G20. Mas nenhum desses espaços conta com a abrangência e a diversidade do G77. Nosso grupo corresponde a 79% da população mundial e 49% do PIB global em paridade do poder de compra. Há quase sessenta anos, tem sido um vetor de importantes mudanças nas instituições multilaterais. O G77 foi fundamental para expor as anomalias do comércio global e para defender a construção de uma Nova Ordem Econômica Internacional. Infelizmente, muitas das nossas demandas nunca foram atendidas”, declarou Lula.

Quarta Revolução Industrial

Ao se referir às mudanças experimentadas pela humanidade, principalmente neste terceiro milênio, o presidente brasileiro classificou o período atual como a Quarta Revolução Industrial. Nesse sentido, ele ressaltou que dois tópicos, em especial, merecem ser trabalhados com muita atenção. Segundo Lula, nesse processo, os países ricos não podem ditar as regras sozinhos.

“Precisamos reforçar nossas reivindicações à luz da Quarta Revolução Industrial. Há duas grandes transformações em curso. Elas não podem ser moldadas por um punhado de economias ricas, reeditando a relação de dependência entre centro e periferia. A primeira é a revolução digital. A segunda grande mudança em curso no mundo é a transição energética”, afirmou Lula.

Sobre a revolução digital, o líder brasileiro disse que os países em desenvolvimento precisam estar mais inseridos neste contexto. “Avanços como a computação em rede, a inteligência artificial, a biotecnologia de ponta e a digitalização trazem possibilidades que, há poucas décadas, sequer imaginávamos. A ideia de estabelecer um painel científico para a inteligência artificial é bem-vinda, mas é preciso assegurar a participação de especialistas do mundo em desenvolvimento.”

Ação Conjunta

Ao final de seu discurso, Lula desejou boa sorte a Uganda, que assumirá o comando do G77 + China no ano que vem, e conclamou que o grupo trabalhe ainda mais em conjunto para que os objetivos dos países em desenvolvimento possam ser alcançados.

“Os países do Sul têm plenas condições de ocupar a vanguarda da ciência, tecnologia e inovação. Por isso, precisamos voltar a agir juntos, porque juntos seremos fortes como nós já fizemos no passado”, encerrou o presidente brasileiro.

Países que integram o G77+China

Veja a relação dos países que fazem parte do G77+China (* fundador do grupo)

América do Sul e Caribe (32): Antígua e Barbuda, Argentina*, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia*, Brasil*, Chile*, Colômbia*, Costa Rica*, Cuba, Dominica, Equador*, El Salvador*, Granada, Guatemala*, Guiana, Haiti*, Honduras*, Jamaica*, Nicarágua*, Panamá*, Paraguai*, Peru*, República Dominicana*, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago*, Uruguai*, Venezuela*

Ásia (38): Afeganistão*, Arábia Saudita*, Azerbaijão, Bangladesh*, Bahrein, Brunei, Butão, Camboja*, Catar, China, Coreia do Norte, Emirados Árabes, Filipinas*, Fiji, Iêmen*, Índia*, Indonésia*, Irã*, Iraque*, Jordânia*, Kuwait*, Laos*, Líbano*, Malásia*, Maldivas, Mianmar*, Mongólia, Nepal*, Omã, Palestina, Paquistão*, Sri Lanka*, Síria*, Tadjiquistão, Tailândia*, Timor Leste, Turcomenistão, Vietnã*

África (55): África do Sul, Angola, Argélia*, Benim*, Botsuana, Burkina Faso*, Burundi*, Cabo Verde, Camarões*, Chade*, Comores, Congo*, Costa do Marfim, Djibouti, Egito*, Eritreia, Eswatini, Etiópia*, Gabão*, Gâmbia, Gana*, Guiné*, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Ilhas Maurício, Lesoto, Libéria*, Líbia*, Madagascar*, Malaui, Mali*, Mauritânia*, Marrocos*, Moçambique, Namíbia, Niger*, Nigéria*, Quênia*, República Centro Africana*, República Democrática do Congo*, Ruanda*, São Tomé e Príncipe, Senegal*, Serra Leoa*, Seychelles, Singapura, Somália*, Sudão*, Sudão do Sul, Tanzânia*, Togo*, Tunísia*, Uganda*, Zâmbia, Zimbábue

 

Do site do Planalto

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