Luiz Nassif: internet rompe monopólio da mídia

09-03-10-nassif-D2A internet democratiza o acesso à informação e quebra o monopólio dos grupos que controlam a imprensa brasileira. A avaliação é do jornalista Luiz Nassif, que participou nesta terça-feira da gravação do programa “Brasilianas.Org”, da TV Brasil.

“Há algum tempo, o fluxo de informações dependia de um sistema centralizado, muito fechado. Eram apenas cinco ou seis órgãos de imprensa. A internet rompe esse modelo centralizador”, disse.

Para Nassif, a tendência é que nos próximos anos a geração de notícias seja cada vez mais descentralizada. “A grande discussão vai se dar na internet. Vai haver fontes de aglutinação de informação. Estamos vivendo um momento histórico de interiorização na produção de conhecimento. É uma nova forma de jornalismo que surge de maneira irreversível”, afirmou.

Segundo o jornalista, “a matéria prima do jornalismo mudou”, o que vai exigir do profissional de comunicação a capacidade de mediação. “Na internet, há discussões amplas sobre determinados assuntos. O jornalista tem que ser um mediador. Precisa abordar um problema, fomentar a discussão e sintetizar todos os pontos de vista sem distorção. Se o jornalista não fizer uma avaliação correta, será liquidado”, disse.

Luiz Nassif classificou a “postura crítica” do jornalismo brasileiro como uma distorção. “A visão sobre jornalismo crítico foi deturpada nos últimos tempos. Quando você joga tudo em um mesmo saco e diz que tudo é ruim, acaba com o sonho que todo jornalista deve ter, que é o de construir uma sociedade melhor”, afirmou.

O jornalista cobrou “mais transparência” dos órgãos de comunicação no Brasil. “Nos Estados Unidos e na Inglaterra, a imprensa de opinião não é espalhafatosa. É discreta e se apega à objetividade dos dados. No Brasil, até algum tempo atrás, a pauta do Congresso Nacional era feita pela imprensa. Os sem-mídia ficavam sem expressão política, tinham efeito político zero. O país ficava refém de três ou quatro jornais”, disse.

Para Nassif, a distorção da função da imprensa começou durante a campanha pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. “Houve um pacto entre alguns grupos políticos e a mídia, que se tornou o maior poder do Brasil. A campanha do impeachment acabou com todos os filtros que impediam a publicação de notícias descabidas. Era a lógica do ‘tragam um escândalo’. Criou-se uma força cega, que se estabeleceu tentando arrastar o país para dentro de crises. Virou uma obsessão, um padrão único. É a maneira que a mídia tem de expressar poder. Deixou-se para segundo plano um país que estava sendo moldado”, afirmou.

Luiz Nassif avaliou, entretanto, que há “um salto qualitativo” entre os consumidores de informação. “Os jornais continuam insistindo que o Brasil é o mesmo. Mas, quando se escuta a opinião pública, o que se vê é outra coisa: é o país que deu certo. Os leitores de hoje sabem ler jornal. Sabem identificar a manipulação”, disse.

O jornalista chamou a atenção para as críticas da imprensa ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “O SUS aparece nos jornais como aquele lugar em que você pega filas e não consegue atendimento. O Bolsa Família aparece como uma bolsa esmola. Por trás disso, está a incapacidade de se fazer uma crítica de qualidade. É o problema da centralização da mídia, que pratica um jornalismo sensacionalista para atrair audiência”, afirmou.

O líder do PT na Câmara, deputado Fernando Ferro (PE), elogiou a participação de Luiz Nassif no “Brasilianas.Org”. “Quem não percebe a mudança trazida pela internet vai ter crescentes dificuldades. Estamos vivendo um momento de iluminação”, disse. O programa, que foi gravado no auditório Nereu Ramos da Câmara, vai ao ar todas as segundas-feiras, às 22h.

Dante Accioly

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