O líder do PT na Câmara, Enio Verri (PR), criticou hoje (9) duramente o governo Jair Bolsonaro pela insensibilidade social demonstrada ao reduzir o auxílio emergencial de R$ 600,00 para R$ 300,00, justamente num momento em que os preços dos alimentos disparam por pura incompetência governamental. Verri rebateu a tese do governo segundo a qual é preciso cortar o benefício para manter o equilíbrio das contas fiscais.
“Ora, as contas não são mais importantes do que a vida de cada brasileira e brasileiro. O equilíbrio fiscal não pode ser mais importante do que a vida da população e há recursos para manter os R$ 600,00”, afirmou o líder do PT, ao lembrar o pronunciamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 7 de setembro.
“Graças às reservas cambiais dos governos Lula e Dilma, o Banco Central apurou um lucro de quase R$ 400 bilhões; ora, se nós gastamos R$ 50 bilhões por mês com o auxílio emergencial de R$ 600,00, por que não pagamos esse valor até o fim do ano?”
Preço dos alimentos
Diante da disparada dos preços dos alimentos, os R$ 600,00 já não têm o poder aquisitivo de quatro meses atrás, mas é um importante reforço no orçamento e ainda ajuda a fazer rodar a economia, assinalou o líder petista.
“O auxílio emergencial não resolve o problema do preço dos alimentos, mas pelo menos permite que a população compre um pouco mais e consiga alimentar-se até que a pandemia passe e tenhamos uma vida normal e a economia volte a crescer”, disse Enio Verri.
O parlamentar rebateu a explicação do governo de que os preços dos alimentos dispararam em função do aumento da demanda provocada pelo auxílio emergencial. Verri qualificou como “absurda” a explicação, frisando que a economia já estava paralisada antes da pandemia de Covid-19, em decorrência do modelo elitista e neoliberal implementado pelo governo Bolsonaro.
Ganância dos empresários
“A nossa economia estava paralisada, os R$ 600,00 estão só mantendo a economia minimamente rodando, tanto é que o PIB caiu no primeiro trimestre”, observou o líder do PT. Segundo ele, o que fez o preço subir foi o direcionamento da produção agrícola para exportações, em nome do lucro e em detrimento do povo brasileiro.
“Com isso, à procura do lucro, faz-se com que o povo passe fome para exportar. Tancredo Neves disse isso quando eleito: “É um absurdo nós exportamos alimentos enquanto o nosso povo passa fome!”
Verri criticou Bolsonaro por fazer discurso para os donos de supermercado baixarem os preços. Ele lembrou que no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) ocorreu um processo de concentração de supermercados no País e, hoje, a maior parte do setor é de multinacionais, que formam oligopólios e, como os bancos, impõem o preço ao mercado.
Falso liberalismo
“O consumidor não manda coisa nenhuma. Esse falso discurso liberal de que é o consumidor que manda não se dá na prática. A verdade é que o preço é alto por causa da exportação e da especulação cambial, e do oligopólio de supermercados, que, para manter sua margem de lucro, aumentam seus preços”, explicou Enio Verri.
Para o líder do PT, o governo deveria agir para garantir alimentos a preços acessíveis à população, mas como é refém da cartilha neoliberal, omite-se completamente diante de um quadro grave que aponta para uma crise alimentar no País. “Bolsonaro e Guedes fazem do Brasil uma grande fazenda que atende apenas aos interesses daqueles que não estão preocupados com a vida da população”, denunciou o líder do PT.
Ele repetiu trechos do pronunciamento de Lula feito no Dia da Independência, destacando a necessidade de um novo contrato social para a reconstrução do País, à deriva desde o golpe político, judicial e midiático de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff.
Novo contrato social
“O País precisa urgentemente, de um novo contrato social, no qual a vida seja prioridade, a distribuição de renda se sobreponha ao lucro dos bancos e que a vida valha muito mais do que a possibilidade de reeleição de um presidente da República”, afirmou Enio Verri.
Como Lula, Verri reforçou a importância da soberania nacional, da autonomia e da liberdade, criticando o governo Bolsonaro por se colocar como servo diante dos Estados Unidos. O líder, sempre recordando Lula, observou que o Brasil vinha caminhando numa linha de desenvolvimento, distribuição de renda e de justiça social que foi interrompida com o golpe de 2016.
Operação política da Lava Jato
Ele apontou como um dos principais fatores para levar o Brasil à situação atual o desempenho político e ideológico da Operação Lava Jato, a cargo do ex-juiz Sérgio Moro e do procurador Deltan Dallagnol, para atingir o PT e tirar Lula da corrida presidencial de 2018, condenando-o sem provas.
“A verdade é que a população passa, de forma lenta a gradual, a enxergar o grande golpe que foi aplicado à democracia e ao nosso País, tendo como instrumento a Operação Lava Jato, com apoio da elite brasileira, do capital internacional e do capital especulativo.”, frisou o líder do PT.
Ele alertou que é preciso um entendimento nacional para o Brasil interromper o processo em curso de desconstrução de conquistas econômicas, sociais e ambientais de décadas e retomar um projeto de nação em desenvolvimento com mais justiça social e sustentável. “Por isso, o discurso do presidente Lula é mais atual do que nunca, é um grande convite para nos juntarmos todos na reconstrução desse projeto, indiferentemente de partido político”.
Para Verri, a reconstrução do projeto interrompido em 2016 e agravado com a ascensão de Bolsonaro vai demorar muito tempo. “A destruição foi muito rápida! Bastou um golpe e esses quase dois anos de Governo Bolsonaro para vermos o que sobrou do País. Não sobrou nada! Não vai sobrar nada depois desta pandemia!”, alertou.
PT na Câmara
Foto: Najara Araújo/Câmara dos Deputados