Joaquim Cardozo e a beleza arquitetônica de Brasília – Dep. Fernando Ferro

fernandoferro_entrevista_hdiaNos 50 anos, Brasília ainda irradia a leveza que a levou ao reconhecimento internacional. A obra genuinamente brasileira, que significou a integração nacional e marcou definitivamente nossa identidade, foi levada a cabo a partir do sonho de JK com os traços de Oscar Niemeyer, a prancheta de Lucio Costa e a força de operários humildes.
Do esforço participaram ainda engenheiros, muitos ainda anônimos ou no aguardo do devido reconhecimento. Entre esses profissionais, um pernambucano imprimiu sua marca nos monumentos de concreto. Trata-se do homem que calculou magnanimamente as formas modernistas que Niemeyer sonhou para Brasília e transformaram a cidade planejada em Patrimônio da Humanidade.

Topógrafo, engenheiro, poeta, dramaturgo, desenhista, crítico de arte e historiador, Joaquim Cardozo deixou em cada uma dessas áreas uma produção relevante. Joaquim é o poeta do verso calculado, preciso, trabalhado sem afetação, que sempre resultou em um conjunto harmonioso. Essa é também a sua característica na produção arquitetônica, ainda que simples e objetivo. Por seu lado, procura dar significação poética à arquitetura, deixando trabalhos teóricos importantes na área.

Monumentos como as cúpulas do Congresso Nacional, a intrincada construção da Catedral de Brasília, as colunas majestosas dos palácios da Alvorada, do Planalto e do Itamaraty são obras desse calculista. Quem se esquece da escada helicoidal que flutua entre o piso térreo e o mezanino do Itamaraty, que demandou de Cardozo um arranjo estrutural inventivo para atender ao mágico traço de Niemeyer?

Como lembrou o professor Augusto Vasconcelos, Cardozo, para alcançar o objetivo “abandonava tudo o que estava consagrado na técnica e raciocinava como se estivesse criando um tipo de concreto armado, esquecendo as imposições e limitações das normas estruturais e das propriedades dos materiais empregados. Dirigia seu pensamento para a obra em si mesma, como faziam Michelangelo e Brunelleschi”. Foi com esse espírito que ele deu a grandeza e a beleza dos palácios de Brasília.

Foi graças às infrações às normas estruturais e a tudo o que se considere intocável nos fundamentos do concreto, ainda conforme o professor Vasconcelos, que Cardozo conseguiu realizar proezas na concepção estrutural, surpreendendo especialistas de todo o mundo.

Infelizmente, a história da engenharia no Brasil ainda deve ser contada com mais detalhes. Fosse outra a abordagem, e sobretudo no caso específico de Brasília, Joaquim Cardozo estaria no panteão da engenharia nacional e, por que não, da mundial, à altura de Niemeyer e Lucio Costa, no tocante à fundação da capital que revolucionou a história da arquitetura.

Autor de O coronel de Macambira, peça teatral de grande repercussão no mundo cultural, também atuou na área acadêmica. Como engenheiro calculista, sensível à beleza das formas da arquitetura moderna, Joaquim Cardozo foi, no Recife, professor das escolas de Engenharia e Belas Artes (década de 30) e escreveu também sobre questões pertinentes à engenharia e à arquitetura.

Nos 50 anos da capital, os brasileiros, em especial os brasilienses, devem atentar para a obra e a vida deste homem de cultura humanista ilimitada. Eles sempre recomendou a seus pares e aos técnicos que se “aplicassem numa formação cultural que se coadune com as nossas necessidades e com a nossa realidade de nação livre”. Para o país se tornar desenvolvido, precisava se tornar independente economicamente, mas, antes disso, devia garantir a independência cultural, recomendava em 1960.

Sobre a capital federal, disse: “Brasília nasceu de duas linhas cruzadas, nasceu numa encruzilhada. Duas linhas cruzadas, duas direções, quatro sentidos, quatro pontos cardeais; duas linhas cruzadas: um aperto de mãos, um signo de paz, de compreensão, de cordialidade entre os homens”. Dizia que Brasília foi a “obra de um grupo de homens de boa vontade, desde o presidente da República até o candango, servente de pedreiro”.

Cardozo se foi aos 81 anos, em 1978, mas os grandes homens não desaparecem quando sua obra é imortal. Nos 50 anos de Brasília, homenageamos Joaquim Cardozo, o candango engenheiro e poeta que sonhou ser possível um dia construir um sonho. Parafraseando Fernando Pessoa, “o homem é do tamanho do seu sonho”. Assim, Joaquim Cardozo, esse pernambucano sonhador, é cidadão do mundo.

Fernando Ferro – Líder do PT na Câmara e engenheiro elétrico

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Postagens recentes

CADASTRE-SE PARA RECEBER MAIS INFORMAÇÕES DO PT NA CÂMARA

Veja Também