A versão nacional de uma das principais empresas de comunicação da Alemanha, a DW Brasil (Deutsche Welle, em alemão) publicou neste domingo (8) – em sua página na internet – uma matéria especial relativa aos cinco anos do Programa Mais Médicos, lançado pela presidenta Dilma Rousseff em julho de 2013. Como exemplo de sucesso do programa, a publicação destacou os avanços na área da saúde na cidade de Lagarto, interior de Sergipe. De acordo com a DW Brasil, na época com pouco mais de 100 mil habitantes, Lagarto foi uma das cidades consideradas prioritárias pelo ministério para receber médicos do programa. O município acolheu dez profissionais de Cuba para atuar na atenção básica. Para o deputado federal João Lula Daniel (PT-SE), o programa foi responsável por uma verdadeira revolução na saúde do município.
“Nós acompanhamos a aprovação do Programa Mais Médicos e tivemos oportunidade de receber os primeiros médicos, principalmente cubanas e cubanos, os quais foram para diversos municípios sergipanos, inclusive Lagarto. O trabalho feito por eles é fundamental porque levou a muitas comunidades e locais – que nunca haviam visto um médico -, o amor e o humanismo no atendimento. Eles fizeram uma verdadeira revolução na área da saúde”, reconheceu.
Um desses exemplos, citado pela reportagem da DW Brasil, é o da médica cubana Taimara Machin Gomes. Quando chegou a Lagarto, no fim de 2013, ela se deparou com condições de trabalho precárias. Enviada para uma unidade básica de saúde, cujo chão nem piso tinha, e com ratos, a médica cubana acompanhou a transformação que o programa Mais Médicos promoveu na comunidade onde ela atua.
A antiga unidade de saúde de madeira no povoado Colônia Treze deu espaço a um posto de alvenaria simples, mas com estrutura básica para atender os pacientes. A transferência para o espaço novo já era planejada, porém, a médica acredita que sua chegada ao local apressou o processo. Gomes reconhece que, às vezes, faltam remédios no posto, mas isso, afirma, não chega a prejudicar a assistência que presta aos pacientes. Para ela, o grande problema ainda é a escassez de médicos na unidade.
“Fico sobrecarregada de vez enquanto, mas temos que atender todo mundo”, diz a cubana que chegou ao País poucos meses após o lançamento do Mais Médicos e que renovou, no fim dos primeiros três anos, o contrato para a permanência no programa até 2019.
A mudança impulsionada na unidade com a chegada de Gomes, que já havia atuado numa missão cubana na Venezuela por quatro anos antes de vir ao Brasil, também foi sentida pelos pacientes, que não precisam mais passar a noite na fila para tentar conseguir marcar uma consulta, como acontecia quando não havia um médico fixo no posto.
Cinco anos depois, Lagarto continua com dez médicos do programa, sendo nove cubanos e um brasileiro. “Nossas equipes de saúde da família funcionam melhor com os cubanos do que com os brasileiros, devido ao cumprimento da carga horária. Temos uma dificuldade com os médicos brasileiros com relação à questão de cumprimento de carga horária”, afirma o secretário municipal de Saúde de Lagarto, Cleverton Oliveira.
Além de consultas, eles trabalham ainda com a prevenção e controle de doenças junto à comunidade, organizando grupos educativos para orientações sobre doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, e visitando pacientes que não têm condições de ir até o posto de saúde.
O município conta atualmente com 28 equipes de saúde da família, das quais apenas 23 possuem médicos – entres eles, dez são os profissionais do programa federal. Segundo Oliveira, há dificuldades de encontrar médicos para preencher essas vagas. Os brasileiros preferem atuar em capitais e regiões metropolitanas, além de considerar o salário oferecido pela prefeitura, cerca de 6 mil reais por 40 horas semanais, relativamente baixo.
Avanços – Entre os avanços obtidos pelo Programa Mais Médicos em todo o País, a DW Brasil destacou o aumento da cobertura de atenção básica de 77,9% para 86,3%, entre 2012 e 2015, em mais de mil municípios que aderiram à iniciativa. Neste mesmo período foi observado um crescimento de 33% no número de consultas em programas da saúde da família contra 15% registrado nas cidades que não participam do Mais Médicos; e a redução de internações evitáveis de 44,9% para 41,2%.
“O resultado mais significativo do Mais Médicos foi levar acesso à saúde para a população, especialmente em populações vivendo em situação de vulnerabilidade. Isso é outorgar o direito à saúde previsto na Constituição brasileira”, destaca Joaquín Molina, representante da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) no Brasil.
Futuro incerto – Segundo a DW Brasil, ao completar cinco anos o futuro do programa é visto como incógnita entre pesquisadores que avaliam o Mais Médicos desde sua criação. Um dos motivos seria a mudança de algumas diretrizes, promovida pelo governo Temer a partir de 2016, inclusive a substituição dos profissionais cubanos, que chegaram a preencher mais de 11,4 mil vagas do programa.
A reportagem informou ainda que, segundo o secretário de Saúde de Lagarto, a extinção do Mais Médicos geraria grande insatisfação nos municípios que participam do programa, principalmente, os mais carentes.
PT na Câmara com DW Brasil